Quarta-feira, 20 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de novembro de 2024
Para o presidente do partido Novo, Eduardo Ribeiro, o sucesso da direita nas próximas disputas eleitorais no Brasil passa por reconhecer que o campo não pode ficar apegado à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro – que está inelegível – como única liderança na disputa contra o PT de Luiz Inácio Lula da Silva.
“A direita da qual o Novo faz parte não descarta novas lideranças”, disse Ribeiro em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Ele citou, entre esses novos nomes, os governadores de Minas, Romeu Zema (Novo); de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); do Paraná, Ratinho Júnior (PSD); e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O balanço das eleições municipais para o Novo é positivo. A sigla saiu de um prefeito eleito em 2020 para 19 neste ano, e saltou de 35 para 264 vereadores. O crescimento coincide com o uso, pela primeira vez, de dinheiro público nas campanhas. “Vamos continuar usando”, disse o dirigente, ressaltando que defende o financiamento empresarial de campanhas.
1) Usar dinheiro público foi fundamental para o crescimento do Novo este ano?
Ajudou. É uma tendência do Brasil caminhar para um sistema de financiamento eleitoral 100% público, se nada for feito. Existe a discussão de voltar a doação de pessoa jurídica, mas, se isso não acontecer, a tendência é o fundo eleitoral continuar aumentando e as regras para dificultar doações privadas (de empresas) também. Então, a gente teve que fazer uma escolha bastante pragmática para usar as mesmas armas dos adversários. Então ajudou, sim.
2) O Novo vai continuar usando recursos do fundo eleitoral nas próximas disputas?
Vamos continuar usando, mas lutando para evitar que se aumente o fundão. Aliás, que se reduza até extinguir esse fundo, se possível, e voltar ao modelo que achamos que é o melhor (financiamento com doação de empresas). Mas não conseguimos lutar para eleger pessoas se não tivermos essas armas neste momento.
3) Na crise interna do Novo, críticos disseram que o partido estava abrindo mão de sua essência. No caso do uso de dinheiro público, foi isso que aconteceu. Eles estavam certos?
Pelo contrário. Quando anunciamos que usaríamos o fundo eleitoral, perdemos apenas 0,6% dos filiados, e, no mês seguinte, começamos a bater recordes de filiações. Em dez meses, dobramos o número de filiados (hoje são 65 mil). Era uma bandeira, mas não me parece que isso era algo essencial para as pessoas que estavam no Novo. Tinha algo mais importante. Quando você percebe que não é possível disputar eleições e ser competitivo sem usar esses recursos, as pessoas compreendem. Isso (as críticas) me parece mais uma narrativa de quem já queria sair.
4) Quão próximo do bolsonarismo o Novo está hoje?
Bolsonaro é, de fato, a maior liderança desses segmentos, mas as pessoas confundem quem é bolsonarista com quem é de direita e veem nele uma das formas de representar valores de direita. O Novo vai da centro-direita à direita, é uma aliança de conservadores, liberais e libertários, mas colocamos as ideias como mais importantes que quaisquer pessoas. O que tenho defendido é deixar as diferenças de lado, inclusive as que tivemos com Bolsonaro, para termos candidaturas viáveis.
5) A sigla vai caminhar mais à direita agora ou buscar um eleitorado de centro?
O Novo sempre foi um partido à direita. Vamos continuar defendendo nossos princípios e valores, ainda que a direita seja um campo congestionado. Algumas vezes a gente se confunde com o bolsonarismo pelas pautas e posicionamentos, mas não quer dizer que o Novo seja um partido bolsonarista.
6) Qual a sua leitura do bolsonarismo hoje e pensando em 2026?
A direita não pode ter apego por uma pessoa, mas por forças que se unam. O bolsonarismo vê Bolsonaro como a única e possível via de se representar a direita. A direita da qual o Novo faz parte vê Bolsonaro como uma das vias, mas não descarta novas lideranças, como Zema, Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio.
7) Apesar de Zema ser presidenciável, o Novo considera apoiar outro nome, indicado por Bolsonaro, em 2026?
Nada está descartado. Defendo que a gente se una em torno da candidatura mais viável. Só saberemos disso lá na frente, se Bolsonaro vai reverter a inelegibilidade, se Tarcísio vai sair para presidente… Quanto menos divisão, melhor.
8) Que recado as eleições deste ano dão à direita no contexto da polarização?
Do ponto de vista estratégico, fica um alerta para quem se posicionou de forma mais beligerante, porque esse comportamento não foi bem recebido.
9) O senhor vê Pablo Marçal como um novo líder da direita?
Ele teve um desempenho eleitoral muito bom. Acho que passou do ponto diversas vezes… Nenhuma diferença é irreconciliável. Temos que tentar unir todo mundo lá na frente. Tem muito chão pela frente.