Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de novembro de 2024
Depois dos avanços obtidos pelo Brasil na presidência rotativa do G20, a cúpula de chefes de Estado das maiores economias do mundo entra, a partir de 2025, em um cenário de incertezas com o novo governo de Donald Trump nos EUA.
As dificuldades devem aparecer já na próxima edição do encontro, na África do Sul, no primeiro ano do mandato de Trump, um crítico do multilateralismo. Um primeiro sinal do que pode vir a acontecer com o grupo foi visto no Rio, quando o presidente argentino, Javier Milei, aliado de Trump, após assinar a declaração final do G20 fez fortes ressalvas verbais a grande parte de seu conteúdo.
Ao divulgar a declaração final no 1º dia de cúpula, na segunda-feira (18), o Brasil lançou mão de estratégia para blindar o texto acertado entre os países contra pedidos de alterações de última hora. A tática adotada foi manter as conversas entre os “sherpas” (negociadores dos países), evitando o risco de surpresas por parte dos chefes de Estado. No dia seguinte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma economia global com menos carbono e pediu que os países antecipem metas e compromissos para enfrentar as mudanças climáticas.
Fator Trump
“O sentimento é de que nada será como antes. A volta de Trump terá um impacto inimaginável”, disse diplomata brasileiro. Outro negociador acrescentou: “Uma coisa são os Estados Unidos, a China, a Rússia chegarem ao G20 dispostos a melar a declaração. Outra é a Argentina. Eles simplesmente não reúnem as condições para isso, não suportariam as consequências sozinhos. Junto com os Estados Unidos, a coisa muda”.
Legitimado pela vitória folgada nas urnas, mais experiente sobre o tabuleiro global e sem uma reeleição no horizonte, o americano promete implodir o quadro das relações internacionais. Trump não só estará na Casa Branca na próxima reunião do G20 como vai presidir o grupo em 2026. Há quem diga no Itamaraty que o Rio pode ter visto a última reunião “produtiva” do grupo das grandes economias do mundo, apesar de Milei.
Na Argentina, os movimentos do presidente ultraliberal foram vistos mais como um aceno ao seu eleitorado do que como uma possibilidade real de ele “estragar” a pauta brasileira do G20. O preço pago pelos inúmeros “não contem conosco” ditos por ele foi um desgaste diplomático com a maioria dos membros do grupo, sobretudo com as duas principais potências econômicas europeias: Alemanha e França.
Diplomatas dizem que um país disposto a barrar um documento da envergadura de uma declaração do G20 deve ter ao menos um de dois atributos: tamanho suficiente ou uma causa muito importante e indiscutível. Por várias razões, Estados Unidos, China e Rússia, por exemplo, podem se arvorar em tal empreitada. Para a Argentina, seria quase impossível.
Por essa razão, a próxima quadra do mundo multilateral está em vias de uma mudança brusca, avaliam diplomatas. Opositor aberto do multilateralismo, Trump anunciou que deixará, pela segunda vez, o Acordo de Paris e promete levar à máxima potência o jargão de “America First” (Estados Unidos em primeiro lugar).
Beneficiário ou não dessa agenda, Milei promete seguir pelo mesmo caminho e cumprir, enfim, o que ameaçou fazer no Rio. Ele ficou, inclusive, de fora da tradicional foto com os chefes de Estado do grupo.
Crítica de líderes
A fala do argentino na plenária de chefes de Estado, na segunda-feira (18), foi encerrada com poucos e tímidos aplausos e seguida por críticas, por exemplo, do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Dado o recado, Milei retirou as ameaças de veto e acabou assentindo para o texto da declaração final da cúpula, garantindo-lhe o consenso para a legitimidade do G20.
Na mensagem de encerramento da reunião de cúpula, Lula disse que o G20 pode e precisa fazer mais. “Trabalhamos com afinco, mesmo cientes de que apenas arranhamos a superfície dos profundos desafios que o mundo tem a enfrentar”, afirmou o mandatário brasileiro, ao repassar a presidência do grupo para o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.