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Mundo Na cúpula do G20, o presidente da Argentina prometeu impulsionar o comércio com a China. Como candidato, ele atacava em discursos os “acordos com os comunistas”

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A reunião com Xi Jinping é mais um marco da drástica mudança de postura do argentino em relação ao país asiático

Foto: Reprodução
A reunião com Xi Jinping é mais um marco da drástica mudança de postura do argentino em relação ao país asiático. (Foto: Reprodução)

O presidente da Argentina, Javier Milei, teve um encontro bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping, nesta semana durante o G20, no Rio de Janeiro. A reunião é mais um marco da drástica mudança de postura do argentino em relação ao país asiático. Conhecido por discursos inflamados e posicionamentos polêmicos, Milei direcionou duras críticas à China durante sua campanha eleitoral. Chamou os asiáticos de “comunistas” e chegou a dizer que não faria negócios com o país.

Perto de completar um ano de governo, o tom agora é outro. Em entrevista para um programa de TV argentino em setembro, Milei se referiu à segunda maior economia do mundo como “parceira comercial interessante” e confirmou que irá ao país em janeiro de 2025.

“Fiquei positivamente surpreso. É um parceiro comercial muito interessante porque eles não exigem nada, só pedem para não serem incomodados”, declarou.

A “cambalhota” retórica de Milei também foi tema de reportagens da imprensa argentina, mas a mudança de discurso não surpreende o mercado.

Especialistas dizem que a postura do presidente argentino reforça seu perfil pragmático, em especial diante da forte crise financeira que o país enfrenta — e da consequente necessidade de recursos para reverter o cenário.

A crise envolve temas como reservas internacionais, contas públicas, câmbio, controle de capitais e mercado de crédito. Além de ter pouco dólar em caixa, o país acumula amplas dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e precisa de parceiros para fazer a roda girar.

Diante do cenário, a China é uma importante fonte de recursos para a Argentina. Os países mantêm um acordo de swap cambial, por meio do qual os sul-americanos têm acesso à moeda estrangeira que falta em suas reservas. Mas a discussão vai além: a relação entre Argentina e China também traz elementos da geopolítica, em meio à guerra comercial travada entre os asiáticos e os Estados Unidos.

Emprestar recursos aos sul-americanos e manter uma relação de troca com um governo de direita — como o do ultraliberal Javier Milei — são ações que reforçam a imagem de uma China forte e influente no cenário internacional.

Apesar dos discursos inflamados, o argentino demonstrou, desde o início do governo, optar por medidas menos radicais do que o tom adotado durante a campanha eleitoral.

“Milei tem uma retórica muito agressiva. Mas, na hora de desenhar os passos efetivos de política econômica e internacional, ele acaba sendo um pouco menos extremo do que parece”, analisa Adriana Dupita, economista de mercados emergentes da Bloomberg Economics.

O comportamento mais respeitoso do presidente argentino em relação à China acontece enquanto o país sul-americano enfrenta dificuldades para acumular reservas internacionais e se vê obrigado a manter um controle de capitais.

“A Argentina percebeu que não vai ser tão fácil conseguir os dólares que precisa para deixar de usar o controle de capitais. Então, isso faz com que Milei adote gestos mais abertos de aproximação com a China”, diz Dupita.

Os asiáticos são importantes por terem um acordo de swap cambial com o governo Argentino: os chineses disponibilizam ao país sul-americano valores em yuan, a moeda chinesa, e os recursos são usados pelos argentinos para, por exemplo, pagamentos da dívida com o FMI.

O acordo, que foi iniciado em 2009 e estabelece o uso de yuan nas relações comerciais entre os dois países, precisa ser renovado de tempos em tempos. A mais recente prorrogação ocorreu em junho deste ano, no valor de US$ 5 bilhões (35 bilhões de yuans), por 12 meses.

Os valores ficam depositados no Banco Central da Argentina e compõem as reservas internacionais do país. Em troca, o país sul-americano faz a transferência de pesos ao BC chinês, explica Dupita.

“Milei já foi definido como alguém que, quando vê um muro, acelera, mas freia antes de chegar”, diz o economista Fabio Giambiagi, pesquisador associado do FGV Ibre, ao analisar o desencontro entre as declarações e as medidas do presidente argentino.

A primeira movimentação pragmática de Milei em direção à China ocorreu apenas dois dias após ele tomar posse, em 12 de dezembro. Na ocasião, o argentino enviou uma carta ao presidente da China, Xi Jinping, para renovar o acordo de swap.

Antes da renovação de swap neste ano, o último acordo havia sido feito no fim da gestão do ex-presidente Alberto Fernández. O vencimento estava previsto justamente para a gestão Milei, o que exigiu a postura pragmática do novo presidente.

Caso a mais recente renovação não tivesse ocorrido, diz Giambiagi, o governo argentino teria que pagar bilhões de dólares em rolagem de dívida para a China, o que dificultaria ainda mais a situação do país.

“Então, Milei irá [visitar o país asiático] não só para agradecer formalmente a reprogramação feita, mas também para solicitar uma nova e jogar os prazos mais para a frente”, afirma o especialista.

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