Sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2024
Um dos reflexos desse envelhecimento é a necessidade do sistema de Saúde se adaptar às peculiaridades no atendimento.
Foto: ReproduçãoDe acordo com dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de pessoas com mais de 50 anos já ultrapassou a marca de 55 milhões, o que representa 26% da população brasileira. Um dos reflexos desse envelhecimento é a necessidade do sistema de Saúde se adaptar às peculiaridades no atendimento.
De acordo com Patrícia Ferreira, coordenadora do programa de longevidade da Rede D’Or, o número de geriatras em atividade é insuficiente.
“Uma das questões é que o Brasil envelheceu antes de enriquecer.” Para ela, o País precisa investir na formação de gerontólogos e odontogeriatras, além de psicólogos e fisioterapeutas especializados nessa faixa etária.
Ferreira esclarece que hoje a maioria das faculdades de Medicina já mantém um currículo específico. “A questão do envelhecimento atravessa quase todas as especialidades. É preciso melhorar a formação básica de todos os profissionais de Saúde para atender essa faixa etária e educá-los para essa situação.”
Patrícia observa que ainda existem dificuldades para atrair o interesse dos estudantes para essas especialidades. “Uma delas é a questão do tempo que o profissional precisa dedicar ao paciente. É também uma população que tem mais doenças crônicas, o que exige uma avaliação ampla. Na Rede D’Or, temos esse trabalho com profissionais de todas as áreas. É necessário acolher essa população, que não para de crescer e tem necessidades específicas.” Outro aspecto que merece ser analisado com atenção é a concentração de geriatras nas Regiões Sudeste e Sul do País. “Existem divergências econômicas e geográficas que precisam ser enfrentadas.”
Luciana Machado Paschoal, geriatra e preceptora da residência de geriatria do Hospital Israelita Albert Einstein, acredita que durante a formação médica é importante destacar as peculiaridades das pessoas com mais de 50 anos.
“É um desafio educacional. Todos os formandos precisam ter experiência para lidar com essa faixa etária, que geralmente convive com mais comorbidades e síndromes geriátricas, o que muitas vezes exige avaliação multidisciplinar.”
De acordo com ela, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia já oferece orientações específicas, mas nem todas as faculdades seguem. “Nos nossos cursos, a Saúde do Idoso já está incluída como disciplina do terceiro ano e os estudantes passam por estágios específicos.”
A existência de uma disciplina específica ajuda, pois reforça o trabalho com as particularidades e integra aspectos físicos, psicológicos e sociais. Luciana explica, porém, que o número de profissionais dedicados a esse segmento ainda não acompanha o crescimento da população mais idosa.
Conforme André Fattori, docente responsável pela área de Geriatria na Faculdade de Medicina da Unicamp, o que acontece de modo geral é que não existe uma legislação sobre incluir o cuidado com idosos na formação dos estudantes da área de Saúde. “Não conseguimos acompanhar o desenvolvimento dessa faixa etária. Estamos em uma fase de transição.”
De acordo com ele, o atendimento à população idosa é uma área para o futuro, mas que exige boa vontade pessoal dos profissionais, algo completamente diferente de uma rotina. “O paciente pode ter complicações físicas que dificultam a comunicação e a mobilidade. É preciso ter disponibilidade de tempo.”
Segundo Fattori, nos países de primeiro mundo o envelhecimento foi mais lento. “Eles se adaptaram melhor. Aqui estamos sendo atropelados. Daqui a alguns anos a população com mais de 65 anos pode superar a de crianças com menos de 10 anos.”
Por isso, existe uma insistência muito grande da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia na necessidade de supervisão qualificada dos novos profissionais que vão atuar com essa faixa etária e também com a reformulação dos currículos dos cursos superiores. (AE)