Domingo, 24 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 23 de novembro de 2024
Quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos em novembro com o Partido Republicano mantendo o controle da Câmara e conquistando o Senado dos democratas, parecia que o seu caminho estava livre para implementar todas as transformações no “Estado profundo” que havia prometido. A cada novo nome anunciado para o seu Gabinete, a era Trump II ganhava contornos de um governo sem freios e contrapesos. Até que um deles mostrou o primeiro limite no domínio do magnata sobre a sigla: Matt Gaetz.
Escolhido pelo presidente eleito para procurador-geral, o republicano Matt Gaetz renunciou ao seu cargo de deputado e estava aguardando o aval do Senado para assumir a função, em 20 de janeiro. Agora, no entanto, tudo indica que ficará sem um nem outro. Alvo de uma investigação do Comitê de Ética da Câmara por má conduta sexual e uso de substâncias ilícitas (o que ele nega), Gaetz retirou seu nome das considerações da Casa e prometeu que não tentaria retornar à Câmara.
A ex-procuradora-geral da Flórida Pam Bondi foi indicada para a posição em seu lugar. Lobista e grande aliada de Trump durante seu primeiro processo de impeachment, ela preside o America First Policy Institute.
“O presidente tem o direito de fazer as nomeações que considerar adequadas, mas o Senado também tem a responsabilidade de aconselhar e consentir e, nesse caso específico, acho que houve aconselhamento e não consentimento”, disse ao Wall Street Journal (WSJ) o senador republicano Mike Rounds sobre a nomeação fracassada de Gaetz.
O fracasso na nomeação de Gaetz devido à forte pressão interna aponta uma nova dinâmica de forças dentro do Partido Republicano que Trump deve encarar nos próximos quatro anos. Embora grande parte da legenda concorde com algumas das ambições do presidente eleito, há disposição para contrariá-lo quando for interessante.
Gaetz não é o único alvo de resistência. Pete Hegseth, apresentador da Fox News indicado para secretário da Defesa, também corre risco de ser barrado no Senado. Veterano do Exército, Hegseth foi enviado ao Iraque e ao Afeganistão e concorreu sem sucesso ao Senado antes de ingressar na emissora.
Caso seja aceito pelos senadores, ele chefiará o Pentágono e um contingente de 1,3 milhão de soldados americanos na ativa. Pesam contra ele, porém, a sua falta de experiência para um cargo tão estratégico, um histórico de defesa de veteranos acusados de crimes de guerra e uma suspeita de estupro supostamente cometido em 2017.
No meio da semana passada, a polícia de Monterey, na Califórnia, divulgou um relatório sobre o caso, no qual uma mulher procurou as autoridades para se submeter a um exame de corpo de delito quatro dias após um suposto encontro com o apresentador da Fox. Hegseth negou ter cometido o crime e não é alvo de uma acusação formal.
Para o senador democrata Jack Reed, presidente do Comitê de Serviços Armados do Senado, a saída de Gaetz de cena redireciona o escrutínio “para essas escolhas de segurança nacional, e isso, creio eu, levantará questões adicionais sobre a aptidão”, disse ao WSJ.
Soma-se entre elas o nome da ex-deputada democrata Tulsi Gabbard para diretora da Inteligência Nacional (DNI, na sigla em inglês), indicada para liderar as 18 agências de espionagem do país. Gabbard frequentemente assumiu posições mais favoráveis a líderes estrangeiros considerados adversários americanos.
Em 2017, Gabbard se reuniu com o presidente sírio Bashar al-Assad na Síria, e afirmou tempos depois que ele “não era um inimigo dos Estados Unidos”. Já em 2022, ela ecoou a justificativa do presidente russo Vladimir Putin para a invasão da Ucrânia pelo país, atribuindo a culpa não a Moscou, mas ao fracasso do governo Biden em reconhecer “as preocupações legítimas de segurança da Rússia em relação ao fato de a Ucrânia se tornar membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)”, pensamento popular em alguns círculos de direita.
Os posicionamentos têm preocupado senadores republicanos, aumentando as chances de uma nova rodada de pressão sobre as escolhas de Trump. Para o senador republicano Thom Tillis, a pessoa à frente da inteligência americana deveria apoiar a Ucrânia.
“No DNI, não sei se será ela ou não, mas quando eu entrar no processo de indicação, não tenho intenção de apoiar ninguém que tenha dúvidas sobre o apoio à Ucrânia”, disse ao WSJ.
Robert F. Kennedy Jr., indicado por Trump para secretário de Saúde e Serviços Humanos, é outro nome que pode sofrer pressão interna. Conhecido por defender pensamentos científicos controversos ou sem comprovação, ele tem sido criticado pela postura anti-vacina.
Para serem confirmados nos cargos, os indicados pelo presidente precisam conquistar a maioria simples dos 100 senadores. Em caso de empate, o vice-presidente eleito, JD Vance, que também será presidente da Casa, tem o voto de minerva. A partir da nova legislatura, 53 cadeiras devem ser ocupadas por republicanos.