Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 24 de novembro de 2024
A diretora do Centro Washington de Pesquisa e Controle do Peso, Domenica Rubino, diz que tem se sentido frustrada nos últimos três anos com o aumento da percepção de que os medicamentos que promovem a perda de peso – como o Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk, e o Monjuaro, da Eli Lilly – seriam curas permanentes da obesidade.
“A obesidade não é como uma infecção, quando você toma antibióticos e pronto”, suspira ela. “Ela não é diferente da hipertensão, do diabetes ou das muitas outras doenças crônicas que enfrentamos. Você precisa de medicamentos de uso contínuo.”
Nos últimos três anos, a chegada de uma nova classe de medicamentos conhecidos como agonistas de GLP-1 – capazes de imitar a ação do hormônio intestinal GLP-1 natural, que promove a saciedade – transformou o setor de perda de peso.
Inicialmente, a Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) aprovou o Wegovy (o nome comercial do remédio baseado em GLP-1 chamado semaglutida) para gestão crônica do peso, em junho de 2021. No Brasil, o medicamento foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em janeiro de 2023 para tratamento de obesidade e diabetes.
A demanda insaciável por este tipo de medicamento fez com que o Mounjaro, ou tirzepatida, chegasse ao mercado no final de 2023. E, agora, uma substância mais nova e supostamente mais eficaz, chamada retatrutida, está em fase de preparação.
Um estudo clínico fundamental sobre semaglutida, publicado em 2021, concluiu que os participantes experimentaram, em média, 15% de perda de peso ao longo de 68 semanas. Já os pacientes que receberam placebo perderam apenas 2%.
Mas algumas pessoas que tomaram a medicação chegaram a perder até 20% do seu peso inicial. E os supostos benefícios à saúde, agora, parecem ser ainda mais abrangentes.
Os últimos dados de um estudo chamado Select, publicado em 2023, demonstram que a semaglutida pode reduzir o risco de ataques cardíacos e AVCs em 20%, em pacientes com histórico anterior de doenças cardiovasculares.
Mas, considerando seus altos preços – um mês de Wegovy custa US$ 1.350 (cerca de R$ 7,3 mil) – e os sérios efeitos colaterais, que podem incluir náuseas, azia e dores de estômago, a questão sempre foi: o que acontece quando as pessoas param de tomar as medicações?
Diversos estudos tentaram examinar esta questão específica e todos parecem indicar a mesma resposta: os quilos perdidos retornam rapidamente.
Em um estudo, cerca de 800 pessoas receberam injeções semanais de semaglutida, acompanhadas por ajustes da alimentação, um regime de exercícios prescrito e aconselhamento psicológico. Todos estes fatores, em conjunto, ajudaram os participantes a perder cerca de 11% do seu peso inicial ao longo de quatro meses.
Mas, quando um terço dos participantes passou a receber injeção de placebo por mais um ano, eles ganharam novamente 7% do peso perdido.
A mesma tendência foi observada após o teste de 2021, conhecido como Etapa 1.
Após 68 semanas de injeções de semaglutida, o paciente médio perdeu mais de 15% do seu peso do corpo. Mas, em 12 meses após o final do tratamento, os pacientes recuperaram, em média, dois terços do peso que haviam perdido anteriormente.
Este resultado foi associado a um nível similar de reversão para os níveis originais dos pacientes, em alguns dos seus indicadores de saúde cardiometabólica – uma categoria que inclui condições como diabetes e ataques cardíacos.
Rubino e outros especialistas em várias partes do mundo observaram padrões semelhantes ao administrar medicamentos similares ao GLP-1 nas suas clínicas.
“Haverá uma pequena parcela das pessoas, 10% no máximo, que consegue manter [todo] o peso perdido”, afirma o professor de medicina clínica Alex Miras, da Universidade de Ulster, no Reino Unido.
A trajetória de recuperação do peso, normalmente, é mais rápida do que a perda de peso inicial, segundo Miras. “As pessoas recuperam a maior parte nos primeiros três a seis meses”, explica ele.
Miras e outros pesquisadores fazem questão de enfatizar que isso deveria ter sido esperado. Afinal, para todas as doenças crônicas, da artrite reumatoide à asma e pressão alta, os pacientes normalmente recaem assim que suspendem seu tratamento.
Mas compreender por que isso acontece com semaglutida, tirzepatida e outros medicamentos análogos ao GLP-1 poderá ser fundamental para conhecer suas consequências de longo prazo e saber como melhor receitar esses medicamentos no futuro.
A principal teoria sobre o motivo que leva a maior parte dos pacientes a recuperar seu peso com tanta rapidez quando param de tomar a medicação defende que as regiões do cérebro relativas ao apetite ainda estão desreguladas, o que leva as pessoas a consumir alimentos em excesso.
Os medicamentos análogos ao GLP-1 simplesmente mascaram essa desregulagem e, quando seu efeito é removido, os desejos das pessoas por alimentos retornam rapidamente.
“As pessoas nem sempre gostam disso”, conta Rubino.