Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de novembro de 2024
Integrantes do PL, partido de Jair Bolsonaro, ficaram profundamente irritados com a nota divulgada pelos advogados do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto para rebater as acusações da Polícia Federal (PF) de envolvimento numa trama golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O maior foco de críticas foi o fato de a nota de Braga Netto ter se concentrado em refutar a hipótese de que ele pudesse cogitar um “golpe dentro do golpe”, derrubando até Bolsonaro para instituir um regime militar, do que em negar o “golpe” em si — o que foi considerado um erro técnico crasso.
No texto, o general diz que foi um dos poucos que se manteve até hoje leal ao lado do ex-chefe do Executivo, de quem foi companheiro de chapa na fracassada campanha à reeleição em 2022.
“Não é hora de bajulação, é hora de defesa técnica e uma gestão de crise profissional”, opina um integrante do PL ouvido reservadamente pela equipe da coluna.
Segundo a PF, as investigações apontaram que Braga Netto e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno ficariam no comando de um “gabinete de crise”. Documentos apreendidos indicam que a ideia era que esse gabinete fosse formado imediatamente após os assassinatos do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.
O fato de os planos descobertos pela PF colocarem Braga Netto comandando esse gabinete despertou não só entre investigadores mas também no bolsonarismo a suspeita de que, uma vez dado o golpe, Braga Neto assumiria o poder e descartaria Bolsonaro.
Em 19 linhas, a nota de Braga Neto em nenhum momento nega expressamente ter elaborado planos golpistas. Mas refuta a “tese fantasiosa e absurda” do “golpe dentro do golpe” e frisa depois a “lealdade” a Bolsonaro até os dias atuais, “por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis”.
“Durante o governo passado [Braga Netto] foi um dos pouco, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao Presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis”, escreveu a defesa em uma nota publicada nas redes sociais de Braga Netto.
A nota também diz que “apesar do silêncio de muitos setores institucionais da nossa sociedade” – sem elencar quais –, Braga Netto sempre “primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais”, sem esclarecer quais seriam e para que serviriam.
Além do espanto e irritação com o que foi considerado “um tiro no pé” , também causou insatisfação o fato de a defesa de Braga Netto não ter consultado ninguém do entorno de Bolsonaro ou do PL sobre o teor da nota.
Por decisão de Alexandre de Moraes, Braga Netto está impedido de falar com Bolsonaro e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, mas seus interlocutores e auxiliares podem manter contato para tentar afinar o discurso.
Na semana passada, Bolsonaro, Braga Netto e outras 35 pessoas, a maioria militares, foram indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito e organização criminosa.
A reunião de 12 de novembro de 2022 na casa de Braga Netto para discutir um atentado contra Lula, Alckmin e Moraes ocorreu a apenas 350 metros de onde vivia o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
Na época dos fatos investigados pela Polícia Federal, Walter Braga Netto morava numa quadra vizinha à de Moraes, a 112 Sul, enquanto o ministro morava na 312. O condomínio de Braga Neto é um edifício de apartamentos funcionais do Ministério da Defesa onde também viviam outros generais importantes do governo Bolsonaro, como o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).