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Política O indiciamento de Bolsonaro tem antecipado cálculos para a próxima eleição presidencial e gerado temor de que generais delatem aliados

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Para Flávio Bolsonaro, objetivo é "tirar da corrida eleitoral o único nome capaz de derrotar Lula". (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O indiciamento de Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas pela Polícia Federal (PF) por tentativa de golpe de Estado tem feito a direita antecipar plano para as próximas eleições e cria medo de delação.  A tensão cresceu no círculo íntimo do ex-presidente. Uma pessoa próxima a ele afirma “não duvidar” que os militares de alta patente possam fechar acordos de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF) para prejudicá-lo, e que os “generais são inconsequentes”. A preocupação tem lastro no caso do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Após o relatório de 884 páginas da PF ser tornado público pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, no último dia 26, pessoas no entorno de Bolsonaro passaram a colocar a disputa presidencial de 2026 como suposta motivação oculta por trás das investigações contra o ex-presidente.

Pesquisa eleitoral

No dia 27, bolsonaristas mudaram o foco da defesa dos aliados, usando como subsídio uma pesquisa eleitoral indicando vantagem numérica de Bolsonaro contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva num eventual duelo pelo Palácio do Planalto. O discurso aposta num eventual cenário em que o cerco sobre Bolsonaro poderia turbinar sua imagem de perseguido pelo sistema, e fortalecer seu capital eleitoral.

“A trama midiática contra @jairbolsonaro tem um único objetivo: tirar da corrida eleitoral o único nome capaz de derrotar Lula”, diz o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em suas redes sociais, sendo endossado por outros parlamentares. “A nova estratégia da esquerda é deixar seus oponentes inelegíveis. Sem prender ou assassinar seus rivais políticos, eles visam manter ares de democracia no país dominado”, escreve seu irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O reposicionamento do discurso, que antes focava na questão processual – o deputado federal Paulo Bilysnkyj (PL-SP) vinha dizendo que “no relatório da PF não existe prova da participação de Bolsonaro em nenhum fato” –, se dá junto da torcida de que a eleição brasileira espelhe mais uma vez a americana. Nos EUA, Donald Trump manteve sua popularidade e se elegeu no último mês, retornando à Casa Branca, a despeito de estar condenado criminalmente e responder como réu a três processos, um deles por tentar interferir no resultado da eleição de 2020, quando perdeu para o democrata Joe Biden.

Prender injustamente

O vereador eleito no Recife (PE) Gilson Machado Filho (PL), filho do ex-ministro do Turismo de Bolsonaro que acompanhou Eduardo e o pai à mansão de Trump na Flórida na noite em que ele foi eleito, aposta nisso. Na semana passada, Bolsonaro passou uma semana de férias na companhia da família Machado em São Miguel dos Milagres (AL). “Eu acredito que (essa perseguição) só fortalece. Para a direita até vai ser bom prender Bolsonaro injustamente, porque o povo se comove com isso. Vai acontecer igual houve com Donald Trump.”

O senador Rogério Marinho (PL-RN), secretário-geral do PL e principal interlocutor entre Bolsonaro e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, que estão impedidos pela Justiça de se comunicar, tem o mesmo discurso: “Isso só fortalece o presidente (Bolsonaro).”

Se o líder norte-americano é inspiração para Bolsonaro, Lula pode igualmente ser. Isso porque há conversas no entorno do ex-presidente para ele repetir a estratégia petista em 2018, quando Lula estava preso e foi inscrito como cabeça de chapa presidencial mesmo assim. Com o ex-presidente petista impedido de concorrer, o então vice Fernando Haddad assumiu o seu lugar, beneficiando-se da transferência de votos do aliado e chegando ao segundo turno.

No caso do PL, os nomes de Flávio e Eduardo são cogitados para a empreitada similar, se Bolsonaro continuar impedido de concorrer. Em 2023, ele foi condenado à inelegibilidade por oito anos pela Justiça Eleitoral por ataques à democracia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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