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Mundo Enquanto a China e o Canadá se calam, a presidente do México ensaia jogo duro com Trump

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Sheinbaum sabe que a segurança é uma arma do México em qualquer barganha com os EUA. (Foto: Reprodução Instagram)

Donald Trump disparou o primeiro salvo de sua guerra comercial global, no início da semana passada, com uma mensagem nas redes sociais prometendo impor tarifas de 25% sobre importações de México e Canadá, e 10% sobre produtos da China. Em um cenário internacional marcado cada vez mais pelo que pesquisadores chamam de “populismo macho”, quem resolveu bater de frente com Trump foi a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum.

O presidente chinês, Xi Jinping, não se pronunciou. O China Daily, órgão oficial do Partido Comunista, se limitou a dizer que “não existem vencedores em uma guerra tarifária”. Em Pequim, a porta-voz da chancelaria, Mao Ning, disse que só comentaria a ameaça americana “mais tarde”.

No Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau, fustigado pela oposição conservadora e cada vez mais impopular, adotou uma linha conciliatória. Conversou com Trump por telefone e voou na sexta-feira (29) para uma reunião com o presidente eleito dos EUA na Flórida. “É importante entender que Trump, quando faz declarações assim, realmente pretende executá-las”, disse o premiê. “Tarifas aumentam os preços para cidadãos dos EUA e prejudicam a indústria e os negócios americanos.”

Presidente corajosa

Dos três, Sheinbaum foi a única que elaborou uma resposta articulada e ameaçou retaliar. “Para cada tarifa, haverá uma resposta proporcional, até colocarmos em risco empresas comuns”, disse a mexicana, em carta enviada a Trump e lida por ela em uma coletiva de imprensa. “Sim, comuns, porque entre as principais exportadores do México para os EUA estão General Motors, Stellantis e Ford. Por que impor uma tarifa que as coloca em risco?”

Sheinbaum é uma novidade para Trump, acostumado a lidar com Xi e Trudeau desde que chegou à Casa Branca pela primeira vez, em 2017. Ela assumiu a presidência do México em outubro. Herdeira política de Andrés Manuel López Obrador (AMLO), ela parece uma versão mais dinâmica e pragmática de seu antecessor. Enquanto ele propunha uma trégua com os cartéis, ela adotou uma posição de confronto contra o crime.

Sheinbaum vem investindo em operações de inteligência, na profissionalização da Guarda Nacional e na coordenação entre autoridades estaduais e federais. Alguns resultados são visíveis, especialmente no combate ao fentanil, um derivado do ópio que vem causando uma onda de mortes por overdose nos EUA. Em um mês, o novo governo mexicano confiscou mais de 390 mil comprimidos da droga, um crescimento exponencial se comparado com a média de 50 gramas apreendidas por semana em 2020.

Trump culpa o México pela crise migratória e pelo fluxo de fentanil. Mas, na carta enviada esta semana, Sheinbaum dá uma invertida no futuro presidente americano, dizendo que a força dos cartéis mexicanos vem das armas contrabandeadas dos EUA e o fluxo de drogas é uma questão que começa do outro lado da fronteira. “É um problema de saúde pública e de consumo da sociedade do seu país”, afirmou.

Sheinbaum sabe que a segurança é uma arma do México em qualquer barganha com os EUA. Se o futuro governo americano pretende ter alguma chance contra o crime organizado, precisa da ajuda do México. Mas Trump tem uma retórica agressiva e já ameaçou designar os cartéis como organizações terroristas, o que permitiria ações mais invasivas no território mexicano.

Tom Homan, indicado como “czar da fronteira” no futuro governo americano, disse em entrevista à Fox News que usará “o poder total das operações especiais dos EUA” para eliminar os narcotraficantes – uma ameaça pouco discreta de atropelar a soberania do México, o que seria um pesadelo para qualquer governo mexicano, historicamente nacionalista.

Telefonema estranho

A relação entra Sheinbaum e Trump começou de maneira estranha. Na quarta-feira (27), os dois conversaram por telefone, mas até os relatos do diálogo foram conflitantes. O americano alardeou que Sheinbaum havia concordado em interromper a migração fechando a fronteira. A mexicana negou tudo. “Minha posição é a mesma. Não quero fechar a fronteira, mas sim construir pontes entre governos e população.”

A resposta seca de Sheinbaum indica que Trump pode ter de lidar nos próximos quatro anos com uma liderança no México muito diferente daquilo que ele está acostumado. Um osso bem mais duro de roer do que a dupla Xi e Trudeau. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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