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Colunistas Depois dos 40, só a mãe aguenta

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Foto: Divulgação

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

É dito pela sabedoria popular que nós, homens, passamos por diversas fases “animais”, a idade da águia, lobo, condor e outros bichos que, no momento, não me veem à mente. A dissertação de tais fases é de conhecimento popular, por isso, não creio ser necessário descrevê-las aqui nesse texto.

Mas tem certa fase, que apesar de bem comum, não é de notoriedade pública, por isso, decidi compartilhá-la com vocês nesse espaço que me foi cedido. Alguns homens, mesmo depois de maduros, muitos deles com filhos, quando se separam das esposas, ou “amigadas”, muitas vezes retornam ao seu lar de origem, voltando a morar com seus pais.

Também tem aqueles que estão passando por dificuldades financeiras e precisam fazer o mesmo, enfim, há vários motivos que podem nos estimular ou obrigar a voltar a morar com nossos pais.

Eu que vos escrevo, pertenço a uma geração que estatisticamente tem muitos casais divorciados. Por isso, a maioria dos homens que se separam, ou tem outros tipos de problemas, quando retornam ao lar, voltam para os braços de suas mães, como é o meu caso, que pertenço a um dos perfis descritos acima.

Conflitos e dilemas

Existem algumas peculiaridades nesse relacionamento entre mãe e filho que me chamam a atenção, características do cotidiano que, de certa forma, são inerentes a essa relação, falo do dia a dia, da convivência, que apesar de fraterna, passa por dificuldades, muitas delas, engraçadas.

É de conhecimento geral que nós, homens, temos dificuldade em nos concentrar em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Apesar de as mulheres saberem dessa nossa fraqueza, elas teimam em insistir no fato.

Estava eu dias passados assistindo ao jogo de meu time do coração, quando minha mãe chamou-me a atenção e começou a falar comigo (como ambos temos nossas ocupações, nossa oportunidade de conversar é melhor no fim de semana) sobre seu trabalho, família, saúde, igreja etc… Enfim, tudo que uma mãe costuma conversar com seu filho.

Apesar de estar concentrado no jogo, e nada a fim de ter aquela conversa, prestei atenção ao que ela estava falando, quer dizer, mais ou menos, eu olhava para ela, mas meus ouvidos estavam totalmente concentrados no jogo.

Cinco minutos depois, ela parou e voltou a fazer o almoço, então, novamente concentrei-me no jogo. Dois minutos se passaram, e ela voltou a me abordar, dessa vez, eu tirei o volume da televisão, só para ver se, dando-lhe uma maior atenção, ela encerrava logo o assunto. Felizmente a conversa foi mais curta, ou melhor, dizendo, o monólogo….

Só que, passados trinta segundos, ela começou tudo de novo. Pensei cá com meus botões: puxa vida, será que não daria para falar tudo de uma só vez? A fim de demonstrar que eu queria ver o jogo, e ao mesmo tempo não ser indelicado com ela, eu resolvi mudar de estratégia, tomei uma atitude mais drástica, desliguei a televisão, daí ela me disse:

– Filho, e o seu jogo? Você não estava louco para vê-lo?

– Sim mãe, mas vou esperar você terminar de falar primeiro.

Fiz isso achando que dando essa atenção especial, eu iria me livrar dela, ou que ela iria se sensibilizar e me deixar em paz. Nossa, que arrependimento! Foi-se quase todo o primeiro tempo enquanto ela alegremente falava comigo.

Iniciado o segundo tempo, eu estava certo de que, agora, nada poderia me atrapalhar. Desliguei o celular, deitei no sofá da sala e peguei uma latinha de cerveja “bem geladinha”, tudo pronto para o jogão!

Mas que doce e curta ilusão eu tive, nem dez minutos se passaram e ela começou tudo de novo. Diante de tal circunstância, não me restou outra saída, fui obrigado a dizer a ela que estava atrapalhando meu jogo. Triste, ela me olhou e disse: “Mas meu filho, você não consegue ver o jogo e conversar comigo ao mesmo tempo?”.

Nesse momento, tentei explicar a ela porque isso não era possível… e a bola rolando!

Tentativa de conciliação

– “Mãe, eu sei que para você, melhor dizendo, para vocês mulheres, isso é muito fácil, vocês conseguem cozinhar, falar ao telefone, assistir à novela e ainda ficar de olho nas crianças, tudo isso ao mesmo tempo sem perder o foco e os detalhes desses acontecimentos, mas, nós homens, não temos essa capacidade, salvo algumas raras exceções.”

– “Por que?”, perguntou ela.

Expliquei que isso faz parte da antropologia, desde os primórdios da humanidade. Então, falei: “Segundo estudos dos antropólogos, nos tempos das cavernas os homens tinham a obrigação de sair para caçar para garantir o alimento de suas famílias. Caçar naquela época não era uma tarefa fácil.  Os animais eram muito selvagens e de grande porte, davam muito trabalho aos nossos antepassados. Era preciso espreitar a presa com muito cuidado para não perder a caça, por isso, silêncio e concentração eram fundamentais nesse período. O caçador ficava  durante horas camuflado em silêncio absoluto,  espreitando a sua presa. Já as mulheres dessa época, cuidavam das crianças, cozinhavam, limpavam suas casas, lavavam roupa, conversavam com as amigas e vizinhas e cultivavam as lavouras. Tantas tarefas tornaram as mulheres, hábeis em realizar multitarefas e administrá-las sem a menor dificuldade. Esse dom foi sendo passado de geração em geração. Lógico que, ao longo dos séculos, muitas coisas mudaram, mas nossa essência e instinto animal ainda prevalecem em nossas mentes”.

Dito isso, o jogo acabou….

Conclusão: “Morar com a mãe é como ser casado, só que sem sexo”.

Essa crônica é dedicada ao meu bom amigo, economista Rubens Bender, que perdeu sua mãezinha em setembro, aos 96 anos.

(Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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