Terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 16 de dezembro de 2024
A prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL), por tentativa de obstrução de Justiça e a revelação de que foi um agente ativo no financiamento da tentativa de golpe de Estado devem complicá-lo na eventual denúncia a ser apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Interlocutores do Judiciário apontam que isso pode acelerar o desfecho do caso, mas pessoas próximas ao PGR continuam adotando o tom de cautela e apontam que os acontecimentos do sábado (14), quando Braga Netto foi preso, não irão “necessariamente” agilizar qualquer decisão.
Braga Netto foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 e ex-ministro da Defesa e Casa Civil. Os dois foram indiciados pela Polícia Federal (PF) no final de novembro e o general foi preso no sábado, após novas revelações do delator Mauro Cid. Desde que o relatório do inquérito sobre o golpe chegou na PGR, houve pressão, inclusive de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), para que Gonet se manifestasse o mais rapidamente possível sobre o caso.
Hoje, porém, é consenso que não haveria como produzir uma peça robusta até o início do recesso do Poder Judiciário, na próxima sexta-feira (20).
Segundo informações do jornal Valor Econômico, Gonet vai aproveitar janeiro para trabalhar nesse e em outros processos que envolvem Bolsonaro. Apesar de ser um período em que a cúpula do Ministério Público Federal (MPF) costuma tirar férias, já que o STF funciona em esquema de plantão, o PGR quis ficar em Brasília.
Nos bastidores, interlocutores do PGR apontam ainda que não compensa correr para denunciar os 40 indiciados no caso, já que a Corte ficará sem sessões de julgamento e os prazos processuais serão suspensos até fevereiro.
A PF pediu a prisão de Braga Netto por entender que Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, trouxe informações que reforçaram o papel central do general no plano para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições.
Cid contou em depoimento recente que Braga Netto entregou dinheiro em uma sacola de vinho a integrantes do grupo “kids pretos”, militares com formação especial que executariam o plano para matar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes.
A PF investiga se os celulares usados no plano para matar Lula, Alckmin e Moraes foram comprados com dinheiro dado por Braga Netto, o que pode indicar se o general foi responsável pelo financiamento da organização e execução do plano para a tentativa de golpe.
Assim como Bolsonaro, ele já estava na lista de 37 indiciados apresentada pela PF ao Supremo em novembro. Na semana passada, foram incluídos mais três nomes nessa relação, somando agora 40 iniciados, dos quais 28 são militares da ativa ou da reserva.
Desde que assumiu o comando da PGR, Gonet tem demonstrado que não age por ímpeto e costuma repetir que a política não deve guiar a atuação do procurador. Ele, contudo, entende que é preciso fazer uma leitura do cenário político antes de tomar as suas decisões. Por isso, a denúncia não deve tardar muito, para que o caso possa ser encerrado antes de 2026, quando haverá eleições presidenciais. As informações são do jornal Valor Econômico.