Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de dezembro de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para “segurar a onda” e continuar no governo depois que ele manifestou, mais uma vez, a vontade de deixar o cargo. Múcio tem dito há algum tempo que está cansado, mas decidiu aproveitar o momento em que o tema da reforma ministerial foi posto à mesa para discutir essa possibilidade com o presidente.
O ministro voltou a falar do assunto depois que a Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 39 pessoas, a maioria delas militares, no inquérito do golpe. Agora, acha que sua missão está cumprida. “O País precisa virar essa página”, insiste ele.
O governo enviou para o Congresso na última terça (17) um projeto de lei que fixa a idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares, a partir de 2032. Atualmente, oficiais podem passar para a reserva com salário integral após 35 anos de serviço. A medida faz parte do pacote de corte de gastos para o ajuste das contas públicas.
No mesmo dia em que o projeto foi encaminhado para o Congresso, Múcio se reuniu com Lula, em São Paulo. Ele chamou o ministro para saber como estava o ambiente na caserna após a prisão do general Braga Netto. Indiciado pela PF por tentativa de golpe, Braga Netto foi titular da Casa Civil e da Defesa e, em 2022, concorreu como candidato a vice-presidente na chapa liderada por Jair Bolsonaro (PL). De acordo com Múcio, a punição a Braga Netto já era dada como certa entre comandantes militares.
Cortes
Ao aventar a possibilidade de deixar a Esplanada, o ministro da Defesa – conhecido por construir pontes políticas – também tem observado que militares estão preocupados com os sucessivos cortes de despesas. Com a tesourada, não haverá dinheiro para investimentos, nem mesmo para a compra de novo avião presidencial.
Na prática, Múcio é pressionado de um lado pelo PT – que o vê como porta-voz das Forças Armadas – e, de outro, pela própria caserna, que cobra mais recursos. Em conversas reservadas, interlocutores de Lula dizem que a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, também tem certa resistência ao ministro desde os ataques do 8 de Janeiro de 2023, quando ele propôs um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que o Exército fosse às ruas.
O presidente é amigo de Múcio há mais de duas décadas. No segundo mandato de Lula, o atual titular da Defesa foi ministro da Secretaria responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso.
Na reunião da última terça, Lula disse a Múcio que a comunicação do governo vai mudar. Com isso, todas as peças e campanhas publicitárias produzidas pelas Forças Armadas, por exemplo, terão de passar pelo crivo do Ministério da Defesa.
A medida tem o objetivo de evitar problemas como o que ocorreu com a divulgação de um vídeo, exibido nas redes sociais, no qual a Marinha faz uma crítica indireta ao pacote fiscal, que também atingiu as Forças Armadas.
“Privilégios? Vem pra Marinha”, afirmava uma jovem no fim da gravação, que mostrava civis em momentos descontraídos, enquanto militares apareciam em treinamento de guerra. A Marinha retirou o vídeo das redes após críticas de Lula e de Múcio. A peça tinha até mesmo um fuzileiro naval que era sósia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Nomes
Desde que começaram a circular rumores sobre uma eventual saída de Múcio, alguns nomes têm aparecido para ocupar sua cadeira. Na lista estão o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e até o presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSDMG), que deixará o cargo em fevereiro. Nenhum dos dois quer essa pasta.
A hipótese de Alckmin ir para a Defesa já havia sido discutida ainda no governo de transição por interlocutores de Lula, sob o argumento de que ele tem bom relacionamento com a caserna. Alckmin é amigo do comandante do Exército, Tomás Miguel Paiva, desde os tempos em que era governador de São Paulo.
Pacheco, por sua vez, também tem o nome mencionado para o MDIC, hoje comandado por Alckmin, e até para a Justiça. Ao menos por enquanto, porém, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, fica onde está, apesar da rota de colisão com o chefe da Casa Civil, Rui Costa.