Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de dezembro de 2024
Números do mercado imobiliário e especialistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico indicam que o efeito do respiro gerado pelo fim da pandemia de covid-19, com os consumidores afoitos por voltar a consumir presencialmente, já não é mais suficiente para segurar o declínio do setor de shopping centers nos Estados Unidos, iniciado em meados da década de 2010, mas também intimamente vinculado ao desempenho geral do varejo. Até o fim de outubro, cerca de 6.500 lojas haviam sido fechadas no país, de acordo com a consultoria Coresight. O número já é maior que o registrado em todo o ano passado, quando 5.500 unidades tiveram suas atividades encerradas, e o mais alto desde 2020, quando teve início a pandemia do coronavírus.
Só nos últimos dois anos, redes varejistas dos mais variados segmentos entraram em recuperação judicial. Alguns dos nomes mais conhecidos entre os brasileiros são a Bed Bath Beyond, de produtos para casa, a rede de fast-fashion Express e os restaurantes Red Lobster e TGI Fridays. Mas não parou por aí; a rede de farmácias Walgreens anunciou o fechamento de 1.200 estabelecimentos nos próximos três anos. Até mesmo a famosa loja de departamentos Macy’s informou, no início do ano, um plano de reestruturação que inclui o encerramento das atividades de 30% de suas filiais até 2026.
“Até o ano passado, as grandes marcas estavam numa trajetória de expansão, e só neste ano vimos a reversão desta tendência”, diz James Bohnaker, economista-sênior da consultoria de imóveis comerciais Cushman&Wakefield. Segundo o especialista, o aumento da taxa de juros e da inflação nos Estados Unidos fez com que diversas varejistas que já não estavam em boa situação financeira acabassem entrando em falência.
Mas o cenário é mais complexo do que parece. A demanda por espaço comercial está aquecida. O índice geral de desocupação de imóveis para varejo nos EUA vai encerrar o ano em torno de 5,4%, o mais baixo dos últimos 20 anos, segundo a C&W. O que mudou? O tipo de locatário procurando espaço no shopping. Os poucos empreendimentos construídos recentemente, até mesmo antes da pandemia, já apostavam em uso misto, agregando escritórios e até mesmo uma parte residencial ao projeto. “É uma situação com muitas nuances”, diz Bohnaker. “Há regiões e tipos de empreendimentos muitos mais aquecidos que outros.”
Um exemplo em alta são shoppings de luxo em regiões suburbanas e marcas de entretenimento e gastronomia. É o caso do Eataly, que acaba de abrir uma unidade em um mall de luxo em Millburn, Nova Jersey. É o primeiro mercado da rede no Estado, e a localização atende à estratégia de expansão fora dos grandes centros urbanos, de acordo com a plataforma de dados imobiliários Costar.
Até shopping centers antigos, construídos para ser apenas templos de compras, estão acolhendo uma nova composição de locatários, bem mais diversa. Os espaços das lojas-âncora, que em tempos idos eram dedicados a grandes redes de departamento, como Macy’s ou sua marca irmã Bloomingdale’s, hoje sediam parques de diversão, hospitais, escolas ou faculdades. Converter parte da propriedade em apartamentos é outra tática comum. “Quando você tem um shopping center em uma situação precária, os donos ou incorporadores do imóvel precisam achar alternativas para a propriedade. Entretenimento, serviços comunitários e conversões residenciais definitivamente estão entre as opções”, afirma Bohnaker.
Para a crítica de arquitetura e design Alexandra Lange, autora de um livro sobre a história dos shopping centers americanos (“Meet Me By the Fountain: An Inside History of the Mall”, 2022), os empreendimentos ainda estão procurando a fórmula para sua sobrevivência, e ela depende muito da situação de cada um. “Se um shopping ainda está sobrevivendo, de alguma maneira, dos seus locatários varejistas, a tendência é substituir as âncoras com gastronomia ou entretenimento”, afirma Lange. As informações são do jornal Valor Econômico.