Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de janeiro de 2025
Depois de avançar mais de 27% e se consolidar num patamar acima de R$ 6 em 2024, o comportamento do dólar se tornou uma das grandes preocupações dos analistas diante do cenário econômico de tantas incertezas, internas e externas, neste ano. Apesar das pesadas intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio em dezembro, a moeda americana acumulou leve alta de 0,03% nos primeiros dois pregões do ano, cotada a R$ 6,18.
“O dólar segue muito valorizado em termos globais. Todos os índices do dólar contra cestas de moedas estão em patamares elevados”, diz Silvio Campos Neto, economista e sócio da consultoria Tendências. “Não vejo margem para um grande alívio ( à moeda) na parte externa.”
A principal incerteza na frente internacional vem dos Estados Unidos, onde Donald Trump volta à presidência em 20 de janeiro. Na campanha, o republicano prometeu a adoção de tarifas de importação mais elevadas, medida que traz riscos inflacionários que dificultariam ainda mais a queda da taxa básica de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).
“As novas políticas de Trump podem afetar as expectativas de inflação e, por consequência, a direção do Fed nos juros”, diz Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos e coordenador de economia e finanças da ESPM.
Em sua reunião de dezembro, o Fed cortou os juros em 0,25 ponto porcentual, para a faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano, e sinalizou que deve reduzir as taxas apenas duas vezes em 2025. Depois da decisão, Jerome Powell, presidente do Fed, disse estar confiante de que a inflação está numa trajetória de queda no país, embora em um ritmo mais lento. Segundo ele, os EUA podem levar mais um ou dois anos para inflação voltar à meta de 2%.
“O Fed enfrenta um dilema grande. A economia ( dos EUA) pode entrar em recessão este ano – e isso piora ainda mais com as políticas que o Trump está sinalizando. Ao mesmo tempo, a inflação segue pressionada e começou a acelerar um pouco nas últimas leituras, o que coloca o Fed num cenário em que o momento pode ser de parar de cortar os juros”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Mas se a economia entra numa desaceleração ou recessão mais grave, os juros caem com mais intensidade. É um caminho ainda aberto.”
Além das preocupações com os EUA sob Trump, há ainda as tensões geopolíticas no Oriente Médio e na Ucrânia, e as dúvidas sobre a economia da China, que dá sinais de desaceleração e tem tido dificuldade de alcançar a meta de crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB).
No cenário local, as atenções se voltam para o rumo das contas públicas. O pacote de contenção de gastos apresentado pelo governo em novembro foi considerado aquém do necessário, na avaliação dos especialistas, antes ainda de ser desidratado em sua tramitação no Congresso.
O País precisa acertar a as contas públicas para conter o endividamento público e retomar a confiança dos investidores. Com nível de dívida elevado para uma economia emergente e sem uma clareza sobre o futuro, os investidores vêm retirando seus recursos do País e impulsionando a desvalorização do real.
“O cenário de 2025 segue tenso. O câmbio não tem chance de baixar de R$ 6 e há o risco de subir ainda mais. Aparentemente, está caminhando para se estabilizar em R$ 6,20, mas não dá para descartar que, com o cenário internacional e o fiscal mal encaminhado, ele vá para procurar um patamar de R$ 6,50”, diz Vale, da MB.
Sinal
Desde o anúncio do pacote fiscal, que veio acompanhado da proposta de isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil, o dólar ultrapassou a marca de R$ 6 e os juros futuros dispararam, num claro sinal de que o investidor está exigindo um retorno maior para financiar a dívida brasileira. Para conter a escalada do dólar, o BC despejou US$ 21,5 bilhões à vista no mercado – a maior injeção de recursos em um mês da história do regime de câmbio flutuante.
Os analistas também observam com lupa os primeiros passos de Gabriel Galípolo no comando do BC. Galípolo foi uma escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viveu um embate permanente com Roberto Campos Neto, ex-presidente da autarquia.
“Estamos numa situação em que já se contratou uma piora econômica para 2025 e 2026. Não apostaria que o governo terá alguma bala de prata para mudar esse ambiente. E se partir para um populismo econômico, aí o dólar fica mais perto de R$ 7 do que de R$ 6”, adverte o economista-chefe da Tendências. (Estadão Conteúdo)