Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de janeiro de 2025
Novo ministro da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira já vem trabalhando há meses como um consultor informal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área. Sua escolha para o cargo, dizem fontes do governo, tem como pano de fundo uma mudança de perfil que Lula pretende promover na comunicação do governo. Sai o político combativo e amigo do presidente, Paulo Pimenta (PT-RS), e entra o publicitário pragmático e discreto, que comandou a campanha eleitoral que levou o petista ao terceiro mandato.
Entre maio e outubro de 2022, Sidônio buscou suavizar a imagem do PT. Ao mesmo tempo, apostou na polarização com o então presidente Jair Bolsonaro na tentativa de antecipar o segundo turno para a primeira ronda de votação, o que acabou não acontecendo.
Ele assume a Secom diante da visão de Lula de que o atual desenho da pasta precisa de mudanças, com vistas ao processo eleitoral de 2026. Sua indicação também o fortalece na posição de marqueteiro oficial da chapa petista, seja ela com Lula ou não.
Sidônio é o terceiro de uma linhagem de publicitários baianos que estiveram próximos a Lula. Duda Mendonça e João Santana, responsáveis pelas campanhas de 2002 e 2006, no entanto, jamais tiveram posto no Planalto.
Em conversa com a imprensa após Pimenta admitir publicamente a troca na Secom, Sidônio buscou adotar um tom amigável ao lado do ainda ministro. Mas acrescentou que “alguns”, sem citar especificamente quem, dizem que a comunicação do governo atualmente estaria funcionando no modo analógico e que isso precisa “evoluir” neste “segundo tempo” do mandato de Lula.
“É importante também que a gestão não seja analógica. […] Tem uma observação também na parte digital que as pessoas colocam, alguns dizem assim até que é analógico”, disse. “Acho que a gente precisa evoluir nisso. Já é um início, mas precisa ter uma evolução. E é importante, isso é um papel do governo comunicar.”
A comunicação digital é justamente um dos principais desafios à frente da nova pasta. Uma licitação encabeçada pela Secom para a contratação de serviços nessa área foi suspensa pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em julho do ano passado por suspeita de violação do sigilo da concorrência. O episódio contribuiu para desgastar Pimenta.
Outra missão de Sidônio é, na cabeça de Lula e seu entorno, conseguir traduzir os bons números de emprego e crescimento da economia em um aumento da popularidade de Lula, que segue estagnada na faixa de 35%, com leves variações em diferentes institutos de pesquisa.
Ao longo do atual mandato de Lula, Sidônio era visto como uma eminência parda no Planalto. Aconselhava o presidente em campanhas e pronunciamentos. Foi dele a ideia de colocar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para anunciar em dezembro, juntamente com o pacote fiscal, a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil.
A ideia contrariou o próprio Haddad, incumbido de fazer o anúncio, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que ainda não havia assumido o posto. Em conversa com Lula no Palácio da Alvorada, ambos advertiram o presidente que o anúncio conjunto elevaria o dólar a um patamar acima de R$ 6 em questão de dias.
Foi o que acabou ocorrendo.
Embora tenha sido um fracasso sob a ótica do mercado, a iniciativa teve respaldo popular. Pesquisa Datafolha em meados de dezembro apontou que 70% dos entrevistados aprovam a ideia, com 26% contrários. Outros 77% mostraram-se favoráveis a cobrar mais Imposto de Renda de quem recebe acima de R$ 50 mil por mês, medida compensatória à isenção para os mais pobres.
Com o dólar em disparada, Sidônio também participou da concepção de um vídeo em que Lula assegura a Galípolo que a autonomia do BC permanecerá intacta. No material apareceram também Haddad, Rui Costa e a ministra do Planejamento, Simone Tebet.
A ligação de Sidônio com o PT é antiga. Ele comandou, por exemplo, as bem-sucedidas campanhas de Jaques Wagner e do hoje ministro da Casa Civil, Rui Costa ao governo da Bahia, entre 2006 e 2018. Sua chegada ao Planalto é vista no entorno de Lula como um fator de fortalecimento de Rui Costa, inclusive em uma eventual sucessão de Lula. Mas a vida empresarial de Sidônio não tem coloração partidária. O publicitário é sócio em diferentes empreendimentos do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), e do ex-prefeito de São João da Mata (BA), João Gualberto (PSDB).
Sidônio foi líder estudantil na Universidade Federal da Bahia, na década de 1980, onde militou pela abertura política ao lado de figuras como a atual deputada federal Lídice da Mata (PSB). Foi trabalhando para ela que Sidônio fez sua primeira campanha, em 1992, quando Lídice foi eleita prefeita de Salvador. Ele atuou ainda no segundo turno da campanha de Fernando Haddad, em 2018, quando Jair Bolsonaro se elegeu presidente.