Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de janeiro de 2025
A próxima reunião do Diretório Nacional do PT será crucial para definir a dinâmica interna da sigla em 2025. Previsto para o fim deste mês, o encontro vai deliberar sobre o calendário e as regras do Processo de Eleições Diretas (PED), meio pelo qual os dirigentes petistas são eleitos. No fim do processo, a legenda definirá o nome que comandará o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as eleições de 2026.
Entre as propostas de alteração ao regulamento do PED, duas têm causado intensos debates e troca de acusações de favorecimento entre grupos petistas. Uma trata de mudanças na ordem de inscrição das candidaturas, e a outra propõe alterações no sistema de votação. Embora essas questões sejam definidas no estatuto do partido, o Diretório Nacional pode aprovar mudanças a cada eleição, desde que obtenha a maioria qualificada de dois terços dos 94 membros do órgão.
Segundo o estatuto do PT, as chapas e teses nacionais devem ser registradas 120 dias antes das eleições, marcadas para 6 de julho. As estaduais precisam ser apresentadas com 90 dias de antecedência, enquanto as municipais devem ser registradas 60 dias antes. No entanto, integrantes da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), à qual pertencem o presidente Lula e a presidente nacional do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendem alterar essa ordem.
A proposta do grupo sugere iniciar as inscrições pelas chapas municipais (120 dias antes) e finalizar com as nacionais (60 dias antes). Os defensores da mudança argumentam que, como o PT é um “partido de base”, faz sentido começar pelo nível local. Eles também acreditam que essa inversão refletiria melhor a força real de cada tendência, evitando que os arranjos nacionais influenciassem as disputas locais. Desde o primeiro PED, em 2001, a ordem atual tem sido mantida.
Petistas contrários à mudança, porém, acusam a corrente majoritária de propor a alteração em benefício próprio. Valter Pomar, dirigente nacional do PT e líder da tendência Articulação de Esquerda (AE), defende a manutenção do que está previsto no estatuto. Para ele, a eleição é essencialmente nacional, o que justifica iniciar pela inscrição das chapas e candidaturas nacionais. Segundo Pomar, essa ordem facilita a organização política das chapas estaduais e municipais.
“Os que defendem mudar o estatuto estão preocupados, antes de qualquer outra coisa, em ganhar tempo para tentar resolver suas divergências internas, uma vez que ainda não resolveram que candidatura apoiarão para a presidência nacional do PT. Mas os problemas de uma tendência não podem provocar mudanças no estatuto do Partido”, afirmou Valter Pomar ao Estadão, sem mencionar diretamente a CNB.
Pomar afirma que a Articulação de Esquerda lançará um candidato próprio à presidência nacional do PT. O nome será definido durante o congresso nacional da corrente, previsto para março. Para ele, o próximo presidente do partido deve ser “100% petista, comprometido com o método da direção coletiva, disposto a derrotar a oposição, capaz de defender nosso projeto socialista”.
Indefinição
Já a CNB ainda não definiu o nome que lançará para a presidência do PT. O ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva é apontado como um dos favoritos e teria o apoio de Lula. No entanto, outros nomes da ala majoritária também são cogitados, como o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (CE), e Paulo Okamotto, presidente da Fundação Perseu Abramo, entidade ligada ao PT que atua como centro de estudos e formação política.
A deputada estadual Professora Bebel, coordenadora da corrente CNB em São Paulo, nega que sua tendência esteja tentando ganhar tempo com a proposta de alterar a ordem de inscrição das chapas. Segundo ela, o nome do candidato da Construindo um Novo Brasil já está sendo articulado, e a mudança na ordem não teria impacto significativo nesse processo.
Bebel, que se define como “basista”, apoia a alteração na ordem, pois acredita que começar pela base favorece os debates. Ela admite que as correntes que obtiverem melhor desempenho nas disputas locais terão maior representatividade no cenário nacional. Também destaca que a ocupação dos cargos da direção nacional do PT é discutida no Congresso da sigla e que o preenchimento respeita a proporcionalidade das forças entre as diferentes tendências. (Estadão Conteúdo)