Terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de janeiro de 2025
As legiões de lobistas que há muito tempo atuam nos corredores do Congresso e das agências federais para garantir suas prioridades políticas têm agora um novo alvo: um departamento federal sombrio liderado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk.
Apelidada de Departamento de Eficiência Governamental (Doge), a iniciativa liderada por Musk, que ajudou a eleger o republicano Donald Trump, tem como objetivo aconselhar o presidente eleito sobre cortes de gastos e reforma regulatória.
No entanto, ainda não possui — e talvez nunca venha a possuir — responsabilidades ou autoridade formalizadas. Até agora, seus recrutados têm se organizado em reuniões clandestinas a poucos quarteirões da Casa Branca.
Mesmo assim, empresas e grupos da indústria já começaram a recorrer ao Doge, ao invés dos comitês tradicionais do Congresso e das agências federais, para promover suas agendas e proteger seus interesses.
A urgência em estabelecer contatos com o grupo de Musk ressalta como interesses especiais veem o bilionário como um atalho para Trump, uma maneira de colocar suas questões em destaque. Isso também demonstra como uma entidade supostamente criada para romper com a política tradicional está rapidamente se tornando um alvo para o experiente aparato de lobby de Washington.
O alcance exato desse lobby ainda é desconhecido. Até o momento, a estrutura mais pública do Doge é sua conta em redes sociais na plataforma X, e, apesar do nome, ele não será um departamento. Talvez nem faça parte do governo federal. Isso significa que os lobistas não precisam declarar se estão em contato com a organização, driblando as regras padrão de divulgação.
No entanto, algumas empresas já registraram relatórios federais indicando que estão fazendo lobby diretamente com o grupo ou conversando com membros do Congresso sobre a iniciativa e os temas que a entidade provavelmente abordará.
Algumas dessas ações estão acontecendo à vista de todos. Esta semana, a contratada de defesa L3Harris Technologies enviou uma carta a Musk e a seu parceiro, o ex-candidato presidencial Vivek Ramaswamy, e publicou o documento no site da empresa.
A L3Harris instou-os a apoiar quatro mudanças técnicas no processo de contratação federal “para liberar a indústria americana e tornar a aquisição de defesa mais eficiente”. Kenneth Bedingfield, diretor financeiro da empresa, disse em uma conferência para investidores em dezembro que a companhia está acompanhando de perto o Doge e tentando entender qual será o foco:
“Estamos reunindo o máximo de informações possível, tentando nos manter ágeis e prontos para apoiar conforme o governo definir seu caminho, o orçamento, os níveis e as capacidades de missão necessárias”.
“Surto” de lobby
Outros que estão fazendo lobby junto ao Doge ou com membros do Congresso próximos à iniciativa incluem interesses tão variados quanto internet de banda larga, assistência médica e trabalhadores aposentados sindicalizados.
A Associação de Diagnósticos e Medicina de Laboratório está fazendo lobby junto a membros do Congresso que se juntaram ao “Caucus do Doge”, tentando eliminar uma nova regulamentação da Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana responsável pelos medicamentos e segurança alimentar, sobre testes médicos realizados em laboratório.
A RSM, empresa de consultoria anteriormente conhecida como McGladrey LLP, está pressionando esses membros do caucus sobre seus “papéis e responsabilidades” em relação ao Doge. O mesmo lobista também está fazendo lobby sobre regulamentações de banda larga.
Já a Aliança para Americanos Aposentados está jogando na defensiva, tentando convencer Musk a não interferir nos programas de seguridade social, como Previdência Social, Medicare e Medicaid.
Richard Fiesta, diretor do grupo de lobby apoiado por sindicatos, disse que seria um erro focar apenas nos comitês tradicionais de orçamento e alocação de recursos no Congresso, mesmo que ainda não esteja claro o que o DOGE será:
“Não sabemos como isso vai se configurar, mas está sendo liderado por alguém que tem a atenção do presidente eleito. Estamos em território desconhecido. É como se perguntássemos: qual objeto brilhante eles vão prestar atenção nesta semana? Para nós, é uma mobilização total para estarmos atentos e vigilantes”.
Até mesmo membros do Congresso, que geralmente recebem pedidos de lobby, estão apelando a Musk para transformar suas propostas políticas em realidade. Logo após a eleição, a senadora Joni Ernst enviou a Musk e Ramaswamy uma lista de ideias com sete páginas para dar a eles um “ponto de partida” em suas deliberações.
Dentre as sugestões da republicana de Iowa estavam: vender prédios de escritórios federais, auditar o Serviço de Receita Federal (IRS), cancelar projetos de transporte na Califórnia e encerrar a produção de moedas de um centavo. Todas essas ações, no entanto, já estão dentro da autoridade do próprio Congresso. (com informações de “O Globo”)