Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2025
Eleito presidente dos Estados Unidos em novembro de 2024, Donald Trump tomou posse oficialmente na segunda-feira (20), em um evento no Capitólio, em Washington DC. Em seu primeiro discurso como 47º presidente do país, o republicano anunciou a assinatura de uma série de medidas que, segundo ele, vão levar à “restauração completa da América”. No campo econômico, disse que irá derrotar a inflação e confirmou a aplicação de tarifas para importação.
“Em vez de tributar os nossos cidadãos para enriquecer outros países, iremos impor tarifas e tributar países estrangeiros para enriquecer os nossos cidadãos”, afirmou, sem detalhar a proporção das cobranças.
O republicano também informou que, em um de seus primeiros atos, irá declarar emergência nacional na fronteira sul do país. “Todas as entradas ilegais serão imediatamente interrompidas e iniciaremos o processo de devolução de milhões de estrangeiros criminosos aos locais de onde vieram”, disse.
O mercado financeiro e as principais economias globais monitoravam de perto, já durante a corrida eleitoral, as possíveis medidas do novo presidente. Agora, com Trump no poder, a atenção é redobrada.
Especialistas ouvidos pelo portal de notícias G1 destacam que o cenário é de incertezas na economia e de potencial fortalecimento do dólar.
Medidas como o aumento de tarifas de importação e sua política anti-imigração podem gerar mais inflação nos EUA. Além disso, a renúncia de impostos para favorecer as empresas americanas é vista como um risco para as contas públicas do país.
Esses são apenas dois motivos que indicam que o Federal Reserve (Fed) terá mais dificuldade de controlar os preços, mantendo os juros elevados nos EUA.
Na última reunião, em dezembro, o Fed citou “perspectivas econômicas incertas” para justificar a redução da velocidade dos cortes nas taxas de juros. Também deu sinais de que seria mais cauteloso dali em diante.
Juros mais altos fazem os títulos públicos americanos renderem mais. Investidores se animam, levam recursos para os EUA e o dólar se valoriza frente a outras moedas. Esse conjunto de eventos altera o fluxo de investimentos no mundo todo.
No Brasil, os efeitos já se mostraram claros mesmo antes da posse. A moeda americana estava cotada a R$ 5,74 em 5 de novembro, dia da eleição norte-americana. Alcançou os R$ 5,81 em 22 de novembro.
Dias depois, apoiado pela reação negativa do mercado sobre o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo brasileiro, o dólar chegou pela primeira vez na história aos R$ 6.
Para economistas, a tendência é que a moeda americana permaneça nesse patamar. O último boletim Focus, relatório do Banco Central (BC) que reúne as projeções de mais de 100 instituições financeiras, mostra que a expectativa é de dólar a R$ 6 até o fim de 2025.
Para não piorar a situação do câmbio e com taxas mais altas por lá, também é necessário que o BC suba a taxa básica de juros brasileira, desacelerando a economia e encarecendo o crédito no país. O Focus também prevê a Selic a 15% ao ano em 2025.
Assim, quem também sofre é o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores brasileira, que perdeu a marca de 130 mil pontos desde a eleição de Trump. Impactado também pelo desgosto do mercado com as contas públicas brasileiras, o índice está agora na casa dos 122 mil pontos.
A exceção é o bitcoin. Trump virou um entusiasta dos criptoativos e indicou que promoverá um ambiente regulatório mais favorável para as criptomoedas. Na esteira do otimismo, a principal cripto do mundo superou a cotação de US$ 100 mil pela primeira vez na história.
Um dos principais temores do mercado financeiro e de grandes economias globais é o potencial inflacionário do governo de Donald Trump. Ou seja, o quanto as medidas do presidente devem gerar alta nos preços de produtos e serviços no país.
Os receios partem, em especial, de duas promessas do republicano durante a campanha eleitoral: a de elevar tarifas sobre importação e a de deportar imigrantes em massa.
Caso as tarifas mais altas se confirmem — em especial na guerra comercial com a China —, a importação deve ficar mais cara e a população norte-americana deve passar a consumir mais produtos internos, explica Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
“Isso tende a acelerar a atividade econômica do país. Consequentemente, se você tem um consumo interno mais aquecido, terá maior inflação”, diz.
Enquanto isso, a deportação em massa de imigrantes, se confirmada, afetará o mercado de trabalho dos EUA, diminuindo a oferta de trabalhadores no país. “Isso faz os salários aumentarem, gerando inflação”, explica a professora Carolina Moehlecke, coordenadora do mestrado de Relações Internacionais da FGV.
Com salários mais altos, a tendência é que o consumo aumente. Mas, com menos trabalhadores, pode haver uma redução da oferta. Os dois fatores fazem os preços de bens e serviços subirem.
O economista-chefe da Lev, Jason Vieira, destaca que Trump é historicamente pró-mercado e que deverá ser “mais fácil” fazer negócios no país. Ele projeta que a taxa de desemprego nos EUA deverá seguir em queda, enquanto a atividade econômica deverá ter um impulso ainda maior.
“Com a redução de gastos públicos, pode ser que haja um cenário de inflação menos impulsionada por meios monetários e mais impulsionada, efetivamente, pela atividade econômica”, diz. “Então, você tira o peso de uma inflação, coloca na outra, e fica no zero a zero.”
Segundo o analista, o cenário trazido pelo presidente republicano favorece o mercado financeiro, com melhora na bolsa de valores e no dólar, beneficiando o país. As informações são do portal de notícias G1.