Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2025
Alvo da Polícia Federal por suspeita de integrar um esquema de desvio de emendas parlamentares, o empresário Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, circulou por gabinetes da Câmara dos Deputados durante o período de atuação da suposta organização criminosa. Registros de entrada da Casa mostram que, entre junho de 2022 e julho do ano passado, foram 27 visitas, mais da metade delas (15) para reuniões na liderança do União Brasil. A investigação foi remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada para apurar o elo de parlamentares com o grupo suspeito de fraudar contratos públicos.
Segundo relatórios da investigação, Moura atuava como articulador político do suposto esquema. Ele chegou a ser preso em dezembro, durante a Operação Overclean, e solto uma semana depois.
O líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), confirmou ter encontrado Moura no gabinete da liderança em algumas ocasiões. Segundo o parlamentar, contudo, as reuniões eram com outros integrantes da legenda.
“Eu já encontrei com ele algumas vezes sentado lá na mesa de reuniões da liderança. Com quem encontrou ou deixou de encontrar, eu não sei”, afirmou Elmar, que citou o fato de o empresário também ser filiado ao União.
Marcos Moura é empresário do setor de coleta de lixo e membro do diretório e da executiva nacionais do União Brasil. Questionada sobre as visitas à Câmara, a defesa de Moura não respondeu.
As visitas do empresário aos parlamentares se tornaram mais frequente após sua filiação ao União Brasil, em março de 2023. Antes disso, ele havia visitado a Câmara em apenas cinco ocasiões.
Com base em conversas interceptadas ao longo das investigações, a PF aponta que filiação teve como finalidade ampliar sua influência sobre decisões políticas. “É possível concluir que Marcos Moura, valendo-se de seu prestígio dentro do partido, utiliza suas conexões políticas para expandir a atuação da rede criminosa”, destaca trecho do relatório da investigação.
O estreitamento do relacionamento entre Elmar e o empresário também coincide com a filiação ao partido. Foi em abril de 2023, por exemplo, que o deputado comprou um apartamento de uma empresa ligada ao “Rei do Lixo” em um condomínio de Salvador. A escritura da transação foi encontrada pela PF em um cofre de Moura.
Além disso, pelo menos parte das emendas no alvo da PF sob suspeitas de terem sido desviadas foram apadrinhadas por Elmar e destinadas ao município baiano de Campo Formoso, comandada pelo irmão do deputado, Elmo Nascimento, também do União. A prefeitura da cidade afirmou, em nota, que “conduz suas contratações dentro das melhores práticas”.
Um dos alvos da primeira fase da operação, inclusive, foi o vereador de Campo Formoso (BA) Francisquinho Nascimento (União Brasil), primo de Elmar. Durante a operação, antes de ser preso, ele foi flagrado lançando uma sacola com R$ 220,1 mil pela janela.
Outros gabinetes
Embora mais da metade das visitas (15) teve como destino a liderança do União, Moura também esteve em outros 12 gabinetes de deputados de diferentes siglas.
Entre eles o do líder do PSDB na Câmara, o também baiano Adolfo Viana, que recebeu Moura em seis ocasiões, ainda segundo os registros de visitas da Câmara.
“São amigos que estavam em Brasília com muita frequência e, eventualmente, passavam para me visitar”, afirmou o deputado tucano.
O Rei do Lixo também frequentou a liderança de outros partidos, como a do MDB, que tem Isnaldo Bulhões (AL) como líder, e a do PP, que tinha o atual ministro dos Esportes, André Fufuca (MA), no comando da bancada na época da visita, em junho de 2022. O ministro, contudo, negou ter se reunido com Moura e disse que a sala do partido costuma ser usada por outros parlamentares e assessores. “A Liderança do PP é um espaço coletivo e de acesso público, utilizado por parlamentares e assessores durante as sessões legislativas”, diz, por meio de nota. Também procurado, Isnaldo não respondeu.
Além das salas das lideranças de partidos, Moura circulou por gabinetes de deputados específicos, como o também baiano Leo Prates (PDT-BA) e Professor Alcides (PL-GO).
Prates afirmou ter recebido o empresário em uma “visita de cortesia”, enquanto Alcides disse que não chegou a encontrar Moura. O motivo da visita ao gabinete, informou sua assessoria, foi para pedir emprego para um conhecido em uma universidade particular na Bahia. Ele não soube dizer, contudo, se o indicado do “Rei do Lixo” foi contratado. As informações são do jornal O Globo.