Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de janeiro de 2025
O Canal foi inaugurado oficialmente em 1914
Foto: ReproduçãoO presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em seu discurso de posse na última segunda-feira (20) que os EUA voltarão a operar o Canal do Panamá. “Vamos tomá-lo de volta”, disse o presidente ao divulgar as primeiras ações de seu mandato.
Trump se referiu ao papel dos EUA na construção do canal e sua entrega ao Panamá, em 31 de dezembro de 1999. Na ocasião, a bandeira dos Estados Unidos desceu e a do Panamá subiu e tremulou como único emblema da Zona do Canal pela primeira vez. Os panamenhos comemoraram com alegria.
O fim do milênio se aproximava, e a cena marcava o fim de uma era que causou protestos, tensões e mortes. Era a resolução do acordo assinado em 1977 entre o então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e o líder panamenho, o general Omar Torrijos Herrera. O pacto abriu caminho para devolver o controle do canal estratégico ao país da América Central.
Hoje, a soberania da hidrovia interoceânica está mais uma vez no centro das notícias após as promessas de Trump. Em 7 de janeiro, Trump já havia tratado do assunto e deu sinais de que não vai desistir da ambição de obter o controle da Groelândia e do Canal do Panamá, classificando ambos como essenciais para a segurança nacional americana.
Em dezembro, o então presidente eleito fez alusão às taxas cobradas aos navios americanos. “Estamos sendo enganados no Canal do Panamá”, disse.
Construção do Canal
A necessidade de construir uma passagem que ligasse o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico era algo que preocupava os colonizadores europeus desde o século 16. Naquela época, o único acesso que tinham aos mares do sul era o Estreito de Magalhães, no sul do Chile, o que significava navegar enormes distâncias e enfrentar o perigoso clima do Cabo Horn.
Foram avaliadas inúmeras ideias mas nenhuma dessas se concretizaria até o século 19. A primeira grande aposta ocorreu em 1880, quando a Colômbia concedeu a concessão para a construção do canal a Fernando de Lesseps, engenheiro francês que havia construído o Canal de Suez, no Egito.
A Colômbia emergia de uma guerra civil que havia deixado milhares de mortos e enfrentava elevados níveis de tensão política, o que acabaria por abrir caminho à independência do Panamá.
Naquela época, os Estados Unidos eram uma potência emergente que mantinha o controle de Porto Rico e Cuba — e souberam ler a crise interna colombiana como uma grande oportunidade: propuseram pagar US$ 40 milhões para ter a concessão para a construção do canal.
Foi uma negociação complexa na qual cogitaram construir o canal na Nicarágua, mas também tinham que levar em consideração que os franceses já haviam feito um investimento inicial no Panamá. Por fim, ficou decidido que o canal seria construído no Panamá com capital dos Estados Unidos, que, por sua vez, pagariam à Colômbia e à empresa francesa.
Mas, no dia 5 de agosto de 1903, o governo colombiano, depois que o Congresso se opôs a vários pontos do acordo, alegando que o texto violava a soberania do país, informou que o rejeitava. Esta última decisão da Colômbia levou à separação do Panamá.
Finalmente, os Estados Unidos encontraram neste descontentamento panamenho “uma excelente oportunidade para obter o tratado que desejavam sem a interferência da Colômbia”.
E foi então que o Panamá ignorou a rejeição do tratado e, em aliança com os Estados Unidos — que disseram que iriam intervir se houvesse retaliação militar da Colômbia — declarou sua independência no dia 3 de novembro de 1903. Após a independência do Panamá, ambas as nações assinaram o tratado Hay-Bunau Varilla durante a presidência de Theodore Roosevelt, nos Estados Unidos.
Nesse pacto, os Estados Unidos garantiam que manteriam a independência do Panamá desde que o país concedesse a concessão perpétua do canal, além do domínio da chamada Zona do Canal, que incluía 8 km de cada lado da via estratégica. O Panamá receberia US$ 10 milhões como compensação.
Concluída a obra, em 1913, na prática, o país estava fisicamente dividido em dois. Milhares de americanos e suas famílias viviam na área sob suas próprias leis e costumes enquanto trabalhavam no canal, que foi formalmente inaugurado em 1914.
Os “zoneítas” (de zonians, em inglês) viviam praticamente isolados e sem contato com a população panamenha, que não podia acessar aquele território sem autorização especial.
O ressentimento dos panamenhos contra os privilégios dos zoneítas aumentou ao longo dos anos, até que décadas mais tarde começaram os protestos para recuperar o controle do seu território.
Após um período de transição, a poucos dias da virada do século, autoridades de todo o mundo chegaram ao Panamá para participar da cerimônia oficial do que já se tornara um sonho histórico para seus habitantes.
No dia 14 de dezembro de 1999, realizou-se um primeiro evento, em Miraflores, uma das comportas do canal. A cerimônia, que reuniu cerca de 1,5 mil convidados, contou com a presença de mandatários e delegações de países como Colômbia, Equador, Costa Rica, México e Bolívia. A eles também se juntaram o rei Juan Carlos I da Espanha e o próprio Jimmy Carter.
A ausência do presidente em exercício, Bill Clinton, no entanto, não passou despercebido pelo governo panamenho, liderado na época pela presidente Mireya Moscoso.
Foi Mireya Moscoso quem hasteou a bandeira panamenha naquele dia no Edifício da Administração do Canal, selando assim a transferência, que ratificou junto ao secretário do Exército dos Estados Unidos, Louis Caldera.
“Panamá, o canal é dos panamenhos”, disse a presidente naquele dia, conforme reportado pela agência Associated Press. As informações são do portal de notícias BBC.