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Mundo A decisão do presidente americano, Donald Trump, de retirar os EUA de acordos internacionais já produz efeitos em áreas como saúde global e emergência climática

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Donald Trump decorou Salão Oval com fotos da família. (Foto: Reprodução)

Com golpes de caneta, o presidente Donald Trump sacramentou que os EUA estão oficialmente de costas para a saúde, tanto a do planeta quanto a das pessoas que o habitam. No caso da saída do Acordo de Paris (pacto contra o aquecimento global), os EUA nada farão para resolver uma crise climática que eles mesmos ajudaram a criar, sendo os maiores emissores históricos de gases-estufa. Já ao deixar a Organização Mundial da Saúde (OMS), abriram mão da liderança que tinham na saúde desde a Segunda Guerra. A OMS perdeu seu maior financiador. E os americanos se juntaram a Liechtenstein como os únicos membros da ONU fora da OMS.

As medidas, assim como as crises do clima e da saúde, têm impacto global e conectado. E efeitos práticos muito maiores que um ataque ao multilateralismo, pelo qual Trump tem aversão. Embora pelas regras das Nações Unidas leve um ano para que a saída do EUA entre em vigor, seus efeitos serão sentidos antes porque o fluxo de recursos deverá ser interrompido, no caso da OMS. E as emissões americanas deverão aumentar, no que diz respeito ao clima.

Membros desde 1948, os EUA são os maiores contribuintes e respondem por 22% do orçamento da OMS. Historicamente, são US$ 110 milhões de pagamentos anuais que se somam a cerca de outros US$ 400 milhões em doações voluntárias.

Mas na pandemia e nas crises que a sucederam, os recursos americanos aumentaram. Em 2022 e 2023, os EUA passaram à OMS US$ 1,28 bilhão, quase 40% a mais que o segundo contribuinte, a Alemanha. Em 2024, o valor, que ainda não está fechado, já chega a US$ 958 milhões, sendo US$ 697 milhões de doações voluntárias. O dinheiro foi destinado, por exemplo, à assistência em áreas de conflito, como os territórios palestinos, o Líbano, a Síria e o Afeganistão.

Fim de tratamentos

O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, frisa que os americanos foram essenciais para erradicar a varíola, combater pólio, Aids e malária. E continuam a ser fundamentais nas emergências. Países pobres de África e Ásia dependem da OMS para ter acesso a tratamentos e prevenção de Aids e outras doenças. Já países como o Brasil não dependem de recursos, mas são parceiros de pesquisa.

“O Brasil tem o SUS e não depende nem dos EUA nem da OMS. Mas países pobres ficarão desassistidos. Há imensa preocupação com a doenças infecciosas”, enfatiza Croda.

Como a Covid-19 mostrou, os EUA não são imunes a pandemias, mas Trump não demonstra preocupação, a despeito de neste momento o país ver a gripe aviária H5N1 se espalhar pelo rebanho bovino.

A rede mundial de vigilância de várias doenças, incluindo influenza, depende da participação de centros americanos, como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), destaca a virologista Clarissa Damaso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

E, sem os EUA, a OMS terá mais dificuldade para conter emergências internacionais, como a de mpox em países africanos, diz Damaso. Também é a OMS que está à frente do combate de surtos, como o que ocorre neste momento na Tanzânia, com casos de febre hemorrágica Marburg.

Além do impacto financeiro, a saída dos EUA também cortaria os laços entre a OMS e instituições americanas, como o CDC e a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA). Essas agências fornecem orientação essencial à OMS e, em troca, recebem informações cruciais para a segurança global. Vale lembrar que EUA e Rússia detêm os últimos estoques do vírus varíola, causador da única doença já erradicada e considerado uma arma biológica em potencial.

 

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