Sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de janeiro de 2025
Economistas dizem ter dúvidas sobre o potencial de impacto das medidas aventadas pelo governo sobre os preços dos alimentos e lembram que episódios passados de tentativas de domar a inflação artificialmente não deram certo.
O grupo “Alimentos e bebidas” no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do país, subiu 7,69% em 2024, após alta de apenas 1,03% no ano anterior. A alimentação no domicílio, especificamente, saltou 8,23%, depois de registrar rara deflação em 2023, de 0,52%. Apenas as carnes, caras à retórica do presidente Lula, viram os preços saltarem quase 21%. Todos subiram acima do IPCA em 2024 (4,8%).
Reportagem do jornal Valor Econômico mostrou que o fenômeno climático El Niño respondeu por 2,25 pontos percentuais da alta na alimentação em casa em 2024 e, embora isso não deva se repetir em 2025, os preços de alimentos não devem ter grande alívio neste ano, diante de outras pressões, como o dólar. A mediana do mercado espera inflação de 6,4% para a alimentação no lar em 2025, segundo a pesquisa Focus do Banco Central.
“Parece que os instrumentos são muito limitados para o governo conseguir efeito relevante sobre preços de alimentos”, diz Alexandre Maluf, economista da XP.
Andrea Angelo, estrategista da Warren Investimentos, afirma não acreditar que medidas como as cogitadas ajudariam a reduzir os preços. Segundo ela, o eventual “espaço” criado pode virar margem para as empresas.
Em 2024, o valor da cesta básica aumentou nas 17 capitais onde o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) realiza pesquisa, sendo as maiores altas em João Pessoa (11,9%), Natal (11%) e São Paulo (10,6%), onde Lula ganhou em 2022 por margens apertadas, e Campo Grande (10,4%), onde perdeu para Jair Bolsonaro.
Nos cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a faixa de renda baixa registrou a maior alta inflacionária em 2024 (5%). Vales ou vouchers são uma possibilidade, mas que não necessariamente se traduzem em queda de preços, observa Maluf.
Ele lembra ainda que, historicamente, intervenções sobre o setor não são bem-sucedidas. “Intervenções na formação de preços tendem a não ser bem-sucedidas no médio prazo”, afirma.
Nesse sentido, Andrea Damico, CEO da consultoria Buysidebrazil, diz ver “com muita preocupação” as discussões atuais. Segundo ela, medidas do tipo minam a credibilidade da gestão macroeconômica do governo, que já é baixa no que diz respeito, por exemplo, à política fiscal, o que, inclusive, levou à elevação do prêmio de risco doméstico e à deterioração dos preços dos ativos brasileiros.
“O que funciona para controlar preço, qualquer que seja, é a política monetária. Qualquer outro tipo de medida alheia a essa não funciona, nem teoricamente nem empiricamente”, diz Damico.
Ela recorda que, no governo de Dilma Rousseff (PT), houve tentativas de segurar preços administrados (definidos por contrato ou órgão público), como de energia e de gasolina. “Teve seu efeito temporário, mas, depois, teve uma explosão dos preços. No final, não adiantou de nada. Esse é um ‘case’ importante para ser lembrado.”
A situação mostra que o governo “está com um mindset errado para combater a inflação”, diz Damico. “A forma correta seria deixar o BC trabalhar, e não tentar, por meios escusos, baixar a inflação na marra”, afirma. As informações são do jornal Valor Econômico.