Terça-feira, 04 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2025
Representante da esquerda com maior repercussão na crise do Pix, tema que colocou no mês passado o governo Lula em alerta, e uma das responsáveis por pautar a agenda do fim da escala de trabalho 6×1, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) tem ganhado projeção nas redes sociais, espaço em que seu campo político tradicionalmente costuma sofrer derrotas no embate com a direita. A visibilidade também já tem levado Hilton a entrar na mira da oposição.
Com 3,7 milhões de seguidores no Instagram, a deputada, primeira mulher trans eleita por São Paulo na Câmara, teve nos últimos anos maior alcance com postagens contra o avanço de pautas conservadoras no Congresso, como a aprovação da restrição ao casamento homoafetivo na Comissão de Família, em 2023 (30 milhões de views), e o projeto de lei que equipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao homicídio (20,5 milhões), votado no ano passado na Comissão de Constituição e Justiça.
Linguagem e memes
Ex-líder da bancada do PSOL na Câmara, Hilton também investe na roupagem pop. Ela aparece em memes compartilhados por apoiadores, que fazem comparações a cantora Beyoncé e repetem suas frases de efeito, como o bordão “não aceitarei e não tolerarei ser desrespeitada, interrompida ou colocada em comparações de baixo calão”, dito durante um embate com o com outro parlamentar.
Mais recentemente, o vídeo em defesa do monitoramento do Pix publicado pela psolista alcançou mais de 105 milhões de visualizações e foi o único a rivalizar com o conteúdo publicado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).
Hilton defende que o sucesso nas redes e sua capacidade de “furar a bolha” se dá pela comunicação “dura, mas sem perder a didática”. Ela afirma que “as pessoas não estão assistindo à TV Câmara ou compreendendo a linguagem robusta que os deputados usam”, e sim o tête-à-tête do influenciador “que, muitas vezes, está induzindo o jogo do tigrinho”.
“Percebi que não estava conversando mais só com grupos segmentados. A repercussão do vídeo sobre o Pix mostrou isso”, diz a deputada, que critica a condução do governo Lula no caso. “Na situação do Pix, não titubeei em dizer que (o governo) errou. Não foi boa a condução, não trouxe nenhum tipo de benefício para nós e falhou na comunicação.”
Pesquisadora da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Raquel Recuero avalia que a maneira objetiva com qual a deputada se comunica faz com que tenha credibilidade e um engajamento orgânico nas plataformas:
“O engajamento nas postagens não é fruto de contas falsas. Ela se comunica com temas que a audiência quer debater e isso ajuda a impulsionar a mensagem mais longe.”
Já os aliados de Nikolas defendem que a reação da psolista foi uma forma de “surfar na onda” do bolsonarista, que representaria uma direita com “DNA intrínseco nas redes sociais” e, de olho em 2026, tende a realizar críticas que furem a bolha dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Procurado, o deputado não quis se manifestar.
Capa de revistas de moda presença anual na São Paulo Fashion Week, Hilton também é acusada por adversários de ter uma atuação mais “midiática” do que política. Em uma dessas ocasiões, ao propor a pauta sobre a escala 6×1, chegou a ser criticada por Nikolas Ferreira por faltar a sessões na Câmara, acusação que ela chama de “uma manipulação de dados”.
“As pessoas não fazem críticas ao meu trabalho nas redes sociais, fazem ameaças de morte, menosprezam a minha identidade e tentam diminuir a minha capacidade”, diz a psolista. “Há um incômodo com a minha capacidade de atuação e de diálogo.”
O alto engajamento de Hilton já mostrou seu capital político fora da rede, com a eleição de aliados na eleição municipal de 2024. Apoiado por ela, o tiktoker e ex-balconista Rick Azevedo (PSOL-RJ) foi o vereador mais bem votado no Rio de Janeiro. Já em São Paulo, a candidatura da ex-assessora dela e única mulher trans eleita a Câmara Municipal, Amanda Paschoal (PSOL-SP), teve o maior número de votos no campo da esquerda:
“Ela consegue humanizar as pautas de identidade, mas também aproximar as pessoas com outras ferramentas que usa, inclusive construindo a imagem de ‘diva pop da política’”, afirma Amanda. As informações são do jornal O Globo.