Sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de fevereiro de 2025
Diante do momento mais difícil do seu terceiro mandato em relação à sua popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a largada nessa quinta-feira (6) a um roteiro de viagens que visa reverter a curva negativa em sua aprovação e apresentar resultados obtidos pelo governo com foco em 2026. A primeira parada foi o Rio de Janeiro, onde nessa quinta-feira ele participou da cerimônia de reabertura da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte.
A estratégia é semelhante a adotada pelo petista em seu primeiro mandato, no auge do escândalo do mensalão, quando rodou o País para tentar se afastar da crise política que enfrentava em Brasília.
Em meio às mudanças na comunicação que têm sido colocadas em prática pelo ministro da Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, a ideia é imprimir uma nova dinâmica às viagens presidenciais. As novas orientações envolvem menos tempo de palanque com autoridades — ainda que as falas políticas para a região permanecerão no roteiro, mas deverão ser mais enxutas. O cerimonial da Presidência já foi avisado das alterações para que Lula tenha mais tempo de contato com o povo, fazendo com que isso seja captado em imagens e se transforme em engajamento nas redes sociais.
No Planalto, a meta é fazer que as viagens atinjam um público muito além da militância que está no palanque das cerimônias. Até Lula iniciar o roteiro, a equipe de Sidônio ensaiava essa estratégia buscando material no banco de imagens produzidas pelo fotógrafo Ricardo Stuckert que mostram o presidente circulando pelo país e conversando com as pessoas.
O entorno presidencial vê prejuízos políticos do período em que Lula ficou sem viajar ou teve roteiros abreviados, fase que iniciou em 19 de outubro, quando sofreu um acidente doméstico no Palácio da Alvorada. Lula ficou sem viajar desde a segunda quinzena de novembro, quando foi para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
Quando ensaiava o retorno das visitas pelo país, o petista foi submetido a uma cirurgia de emergência na madrugada de 10 de dezembro em São Paulo, o que o forçou a fazer novo período de repouso. A liberação para viagens veio apenas em 27 de janeiro.
Na visão do seu círculo mais próximo, no Planalto Lula perde o termômetro da população, enquanto na rua “ganha o jogo” e consegue se desgrudar com mais facilidade dos desgastes do governo.
Ao estrear com um compromisso relacionado à área da saúde, Lula também tenta lançar holofotes para uma área que quer transformar em bandeira do seu terceiro mandato. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem sido cobrada reiteradamente pelo presidente para ampliar o ritmo de entregas da pasta.
A ministra vinha reivindicando há semanas a presença do presidente no ato que marca a reabertura de um espaço para pacientes em estado grave ou que exijam cuidados especializados que estava fechado desde 2020 e avança no plano de reestruturação dos Hospitais Federais do Rio, uma das metas de gestão de Nísia.
Com queda de aprovação no Nordeste, Lula também pediu atenção especial à região que é seu bastião eleitoral. Pesquisa Genial/Quaest divulgada no fim de janeiro apontou que 60% dos nordestinos aprovam a gestão na região. Em dezembro de 2024, eram 67%. Lula foi aconselhado pelos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, a priorizar a região nas agendas nas próximas semanas.
Nesta sexta-feira, Lula vai a Paramirim, no sudoeste da Bahia, para inauguração da primeira etapa da Adutora da Fé, sistema integrado de abastecimento de água que capta água no Rio São Francisco e leva para municípios com insuficiência hídrica.
Ainda sem confirmação, auxiliares palacianos já preparam viagens para a terceira semana de fevereiro para Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com previsão de assinatura de contratos para a construção de novas embarcações para operações de logística de exploração e produção da Petrobras até 2028.
Já o Ministério do Desenvolvimento Social desenha uma proposta de viagem com Lula voltada ao programa Acredita, que oferece crédito a pequenos empreendedores inscritos no CadÚnico. Para março, Lula também deve fazer viagens que envolvam o Bolsa Família e políticas de combate à fome.
A estratégia que Lula tenta aplicar de intensificar as viagens pelo país foi a mesma usada por ele em seu primeiro mandato, durante a crise do mensalão. Na época, assim como agora, a desaprovação do petista ultrapassou a aprovação. Em dezembro de 2005, pesquisa do Ibope (a Quaest não existia) mostrou que 42% dos entrevistados diziam aprovar o governo Lula (uma queda de 20 pontos em relação a novembro do ano anterior) e 52% desaprovam.
Havia ainda naquele momento um risco que Lula enfrentasse um processo de impeachment por causa das denúncias que surgiram em duas comissões parlamentares de inquérito instaladas para apurar o escândalo. As informações são do jornal O Globo.