Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de fevereiro de 2025
O consumo de álcool, mesmo em quantidades baixas ou moderadas, por uma mulher grávida pode influenciar o formato do rosto e o desenvolvimento do cérebro do bebê. Em um novo estudo publicado na revista científica JAMA Pediatrics, pesquisadores descobriram que a bebida influencia as características faciais e também pode gerar conexões mais fracas entre diferentes partes cerebrais.
Há muito se sabe que ao ser exposto ao álcool durante a gravidez, um feto pode desenvolver um dos transtornos do espectro alcoólico fetal (TEAF). Dentre os principais sintomas, estão dificuldades de coordenação física, linguagem, memória, aprendizagem, função executiva, comportamento e defeitos congênitos.
Por isso, o grupo de cientistas da Bélgica, da Austrália e do Reino Unido acompanhou um grupo de mil mulheres, que estiveram grávidas no ano de 2011, por dez anos. A partir disso, investigaram se existiriam riscos do baixo consumo de álcool durante a gestação.
Com um questionário Fazendo Perguntas sobre Álcool na Gravidez (AQUA) e também utilizando imagens 3D altamente especializadas de ressonância magnética, a equipe observou mudanças consistentes no formato dos olhos e do nariz dos filhos das participantes. Elas apareceram em crianças expostas a doses relativamente baixas de álcool durante a gravidez tanto aos 12 meses quanto aos 6 a 8 anos de idade.
Segundo os pesquisadores, as alterações faciais não são perceptíveis a olho nu, mas possuem características parecidas entre as crianças, de forma que independe se elas foram expostas ao álcool apenas no primeiro trimestre ou durante todo o seu tempo de desenvolvimento como feto.
Por outro lado, não foram encontradas diferenças significativas no desenvolvimento cerebral entre aqueles expostos ao álcool e os que não foram. Porém, foram detectadas conexões mais fracas entre diferentes áreas do cérebro em crianças que foram expostas à bebida enquanto ainda estavam na barriga da mãe.
Isso foi o observado especificamente no cíngulo anterior caudal direito, pois suas vias de conexão diferiram em crianças com exposição ao álcool em qualquer estágio da gravidez. O que sugere, segundo os autores do estudo, que o cérebro é sensível mesmo a pequenas quantidades de álcool.
Assim como foram registradas conexões mais fracas na rede cerebral conhecida como rede córtico-gânglios basais-tálamo-cortical direita, relacionada com resolução de problemas, planejamento, tomada de decisões e regulação emocional.
Uma pesquisa anterior, da revista científica britânica Human Reproduction, também encontrou modificações nas faces de bebês expostos a bebidas alcoólicas quando eram fetos. Através de um sistema criado pelo líder do grupo de cientistas foi possível identificar que estas crianças tinham ponta do nariz arrebitado e encurtado, queixo avantajado para frente e pálpebra inferior virada para dentro.
“Encontramos uma associação estatisticamente significativa entre a exposição pré-natal ao álcool e o formato do rosto nas crianças de nove anos. Quanto mais álcool as mães bebiam, mais mudanças havia. Entre o grupo que bebeu na gravidez, verificamos que, mesmo que as mães tenham bebido muito pouco, menos de 12 g por semana, pode-se observar a associação entre a exposição à bebida e a estética facial”, destacou o pesquisador Xianjing Liu, em comunicado.