Sábado, 22 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de fevereiro de 2025
Durante anos, parecia justo supor que o ator Sebastian Stan poderia fazer sucesso em ambos os lados de Hollywood. Equilibrava coadjuvantes interessantes (interpretou os ex-maridos de Tonya Harding e Pamela Anderson) com o papel de herói de ação pelo qual é mais conhecido: Bucky Barnes. Como o antigo parceiro do Capitão América, Stan faz parte do Universo Cinematográfico da Marvel desde 2011 (incluindo “Thunderbolts*”, filme que chega aos cinemas em maio).
“Sebastian está em um grupo de atores, e coloco Colin Farrell nesse grupo também, que são tão bonitos que isso funciona contra eles”, disse Jessica Chastain, amiga e colega de elenco de Stan em “Perdido em Marte” e “As agentes 355”.
Ser um astro “bonito demais” pode parecer o menor dos problemas, mas vale ressaltar que ele foi superado. Um ano marcado por duas atuações não convencionais em filmes de destaque pôs o ator de 42 anos sob uma luz diferente, o que já lhe rendeu prêmios e abriu a possibilidade de outros.
Na comédia surrealista “A different man”, ele faz um ator com o rosto distorcido que passa por uma cirurgia para ter uma aparência classicamente atraente — a de Sebastian Stan. O papel lhe rendeu o Urso de Prata de melhor ator no Festival de Berlim e o Globo de Ouro de ator em filme de comédia ou musical mês passado.
No outro filme, “O aprendiz” (disponível para aluguel no Prime Video), ele é um magnata vistoso e moralmente questionável na Nova York dos anos 1970 e 80 — um sujeito chamado Donald Trump. Stan concorre ao Oscar de melhor ator por interpretar o homem reeleito presidente dos EUA semanas após a estreia do filme, enfrentando Adrien Brody (“O brutalista”), Timothée Chalamet (“Um completo desconhecido”), Colman Domingo (“Sing Sing”) e Ralph Fiennes (“Conclave”).
“Um personagem bem elaborado, construído a partir da raiva e de anos de repressão”, foi como Stan descreveu seu personagem em uma entrevista na semana passada em Manhattan.
Pressão poderosa
Após a estreia em Cannes, Trump chamou o filme de “pura ficção” e prometeu processar os cineastas. Ele não foi adiante com a ameaça, mas causou constrangimento suficiente para que o filme não estivesse disponível inicialmente no streaming. Já a revista Variety não pôde colocar Stan em sua famosa série “Actors on actors”, na qual artistas aclamados entrevistam uns aos outros, porque outros atores “não queriam falar sobre Donald Trump”, como confirmou a chefia da revista.
“A indústria de Hollywood não teve coragem de apoiar esse filme, mas tivemos o reconhecimento dos nossos pares”, disse Jeremy Strong, colega de Stan em “O aprendiz”, que concorre ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel do mentor de Trump, o advogado Roy Cohn.
Quando Stan recebeu a oferta para interpretar Trump, há três anos, ele já havia se expandido para além de Bucky Barnes com os papéis de Jeff Gillooly, o ex-marido de Tonya Harding que planejou o violento ataque à patinadora Nancy Kerrigan, em “Eu, Tonya”, e Tommy Lee, do Mötley Crüe e da famosa sex tape com Pamela Anderson na minissérie “Pam & Tommy”. Em outras palavras, pessoas reais que dominaram os tabloides na década de 1990 (e devem ter compartilhando algumas edições com Trump).
O “fator Marvel”, disse Stan, contribuiu para sua disposição de assumir papéis mais arriscados.
“Bucky Barnes me permitiu uma renda fixa”, explicou ele. “Mas voltar a esse personagem ao longo do tempo me permitiu procurar seu oposto.”
Infância conturbada
Ao estudar Trump, Stan encontrou pontos em comum:
“Acho que tudo o que ele faz tem a ver com busca por poder. Em muitos momentos de minha infância, eu me sentia muito impotente em relação à minha vida.”
Stan nasceu em 1982 na Romênia, então governada pelo ditador comunista Nicolae Ceausescu. Logo depois, seu pai e sua mãe se separaram: ele foi para a Califórnia e ela, uma pianista, mudou-se para Viena. Após anos vivendo com os avós maternos, em 1990 Stan foi morar com ela na capital da Áustria, onde teve dificuldades para aprender alemão. Foi então transferido para uma escola internacional, onde dominou o inglês e seu futuro padrasto era o diretor. A família acabou se mudando para Nova York.
O histórico de Stan foi algo que Ali Abbasi, o cineasta iraniano radicado na Dinamarca que dirigiu “O aprendiz”, identificou como ressonante para o papel de Trump, “alguém tão desesperado para chegar ao topo que não iria parar por nada”, disse o diretor.
Além de motivações de Trump, Stan também se propôs a dominar o básico — o olhar, o sotaque, o andar, o ritmo. O objetivo não era fazer a imitação mais precisa, mas viver o personagem.
“Ele mergulhou fundo, absorvendo, observando, estudando e internalizando tudo o que podia, a ponto de virar uma segunda pele e se transformar”, elogia Strong.