Domingo, 23 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de fevereiro de 2025
O governo de Javier Milei escapou de uma derrota na quinta-feira (20) ao conseguir barrar no Senado da Argentina a criação de uma comissão para investigar a responsabilidade do presidente e de seu núcleo duro no caso que ficou conhecido como criptogate.
Foram 47 votos favoráveis, um a menos do que o necessário para avançar na proposta, ante 23 contrários. Em uma saída paliativa bem menos incômoda para o Executivo, os senadores aprovaram um pedido para que o governo apresente um relatório sobre o tema.
O grupo seria composto por 17 senadores e contaria com seis meses para investigar, analisar e esclarecer a conduta de Milei no escândalo que envolve a criptomoeda $Libra, que levou a acusações judiciais e políticas de crime de fraude contra o ultraliberal.
A comissão poderia pedir documentos aos envolvidos e a organismos públicos, convocar testemunhas e também exigir a apresentação de informações pelos órgãos de Inteligência. Ao fim, faria um informe que poderia, eventualmente, levar a uma denúncia na Justiça.
Os senadores também negaram a proposta de convocar membros do Executivo para depor, em especial Milei e sua irmã, Karina, que também é secretária-geral da Presidência.
O próprio governo de Milei anunciou uma espécie de autoinvestigação, com a criação de um Escritório Anticorrupção no Executivo. Foi uma alternativa amplamente criticada pela oposição, que diz que a cúpula do poder não tem independência para se investigar e que não há transparência em uma proposta como essa.
A maior crise da gestão libertária foi aberta há uma semana, quando no dia 14 o presidente divulgou em seu perfil oficial no X a $Libra, uma memecoin – ativo financeiro digital baseado em tendências, ou memes, da internet.
Após a promoção do presidente, o preço do ativo digital subiu e, repentinamente, colapsou, levando milhares a perderem dinheiro. Isso levou a acusações de que houve a fraude comum no mundo cripto e conhecida como “rug pull” (ou “puxada de tapete”), operada pelos próprios criadores da criptomoeda, com quem, aliás, Milei havia se reunido na Casa Rosada no ano passado e divulgado fotos.
Um desses criadores afirmou em mensagens a potenciais investidores que controlava o governo de Javier Milei por meio de pagamentos que operava para Karina, a irmã do presidente e pessoa mais influente na gestão. As comunicações foram obtidas pelo jornal local La Nación.
Milei apagou a publicação horas depois, quando ficou clara a possibilidade de fraude. Disse não ter todos os detalhes e que apenas divulgou a $Libra, sem promovê-la. Três dias depois, compartilhou uma polêmica entrevista com uma TV local que repercutiu não por seu conteúdo exibido, mas pelo que foi retirado. A pedido do assessor de Milei, Santiago Caputo, um trecho da conversa foi cortado.
Tarifas recíprocas
Em outra frente, Javier Milei se reuniu, nesse sábado (22), com Donald Trump durante uma convenção conservadora perto de Washington, na qual o presidente argentino prometeu aderir à política de tarifas recíprocas de seu par americano e criticou “uma classe política com complexo de Deus”.
“Acaba de começar a reunião” entre os dois presidentes, informou na rede social X o porta-voz de Milei, que precisa do apoio da Casa Branca para negociar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Acaba de começar a reunião” entre os dois presidentes, informou na rede social X o porta-voz de Milei, que precisa do apoio da Casa Branca para negociar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Pouco antes, o magnata republicano encerrou a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) com um discurso no qual saudou seu “amigo” Milei, de quem diz estar “muito orgulhoso”.
“É um cara MAGA para tornar a Argentina grande novamente”, declarou usando a sigla em inglês de seu slogan “Torne a América Grande Novamente”.
“Ouvi dizer que você está indo fantasticamente”, afirmou sobre Milei, sob cujo mandato a inflação argentina caiu, mas a pobreza aumentou e chega a afetar 52,9% da população, segundo dados oficiais.
Trump convidou Milei a visitar a Casa Branca “nos próximos meses”, indicou o governo americano no X ao fim do encontro. Os dois conversaram sobre como seus “países podem trabalhar juntos mais estreitamente”, acrescentou.
Algumas horas antes, o presidente argentino fez seu discurso. Anunciou que aceitava a política de “tarifas recíprocas” que Trump planeja aplicar a partir de 2 de abril e que consiste em impor a cada país o mesmo nível de tarifas alfandegárias que estes aplicam aos produtos americanos.
“A Argentina quer ser o primeiro país do mundo a aderir a este acordo de reciprocidade que a administração Trump propõe em matéria comercial”, afirmou Milei, que possui grande afinidade ideológica com o republicano.
Milei gostaria de ter um acordo de livre comércio com Washington. “Se não estivéssemos restritos pelo Mercosul, a Argentina já estaria trabalhando” nisso, acrescentou, referindo-se ao bloco sul-americano que seu país integra junto com Brasil, Paraguai e Uruguai. As informações são do jornal Folha de S.Paulo e da agência de notícias AFP.