Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 28 de fevereiro de 2025
O Itaú está tentando dificultar que Alexsandro Broedel, ex-vice-presidente financeiro (CFO) que é acusado de fraude pelo banco, venda sua casa em São Paulo. Ele se mudou para a Espanha, para trabalhar no Santander, mas o banco alega que ele enfrenta dificuldades financeiras e que pode não ter dinheiro para pagar em caso de derrota em uma ação indenizatória promovida pelo Itaú.
Conforme documento judicial, o Itaú pediu liminarmente a averbação do imóvel, para que o futuro comprador saiba que eventualmente esse ativo pode ser requerido para que Broedel possa pagar a indenização que o banco solicita. Em sua decisão, a juíza Larissa Gaspar Tunala, da 1ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem, acatou o pedido do Itaú.
“De toda forma, resta bem caracterizada a delicada situação financeira de Alexsandro, com diversos apontamentos em seu desfavor, além de execuções ajuizadas contra si, de modo que a venda do imóvel descrito poderá comprometer o resultado útil deste processo, ainda mais se considerada a informação de que o correquerido já reside fora do país”, diz a magistrada.
O Itaú já entrou com duas ações distintas contra Broedel, uma de ação civil e outra de ação indenizatória, na qual pede o ressarcimento de R$ 3,350 milhões. O banco explica que, apesar de Broedel ter se beneficiado de R$ 4,860 milhões, está buscando um ressarcimento menor porque o prazo para algumas operações já prescreveu. É justamente nesse caso que o banco obteve a liminar para impedir que o executivo venda sua casa.
Na ação indenizatória, o Itaú já tinha dito que uma das possíveis motivações para a conduta supostamente fraudulenta de Broedel seria o fato de que ele se “encontrava em situação financeira completamente incompatível com as funções por ele exercidas”. Segundo os advogados, após consultas realizadas junto aos órgãos de proteção ao crédito e de levantamentos públicos, observou-se que Broedel e sua consultoria figuram como réus em diversas ações de execução de títulos extrajudiciais, em valores muito expressivos. Há um processo de R$ 610,3 mil movido pelo Bradesco, outro de R$ 272,1 mil aberto pelo Safra e um de R$ 52,8 mil impetrado pela Prefeitura de São Paulo.
O imóvel que Broedel tenta vender está anunciado no site de uma corretora, por R$ 10 milhões. Ele é descrito como “casa espaçosa com venda mobiliada e vista para o verde, ideal para quem busca conforto e sofisticação”. A mansão conta com quatro amplas suítes com closet, sendo a master com dois banheiros. A área externa oferece churrasqueira, sauna e uma piscina aquecida.
Procurado, o Itaú não se manifestou. A assessoria de Broedel afirmou apenas que não há qualquer tipo de impedimento da venda do imóvel, somente essa averbação da matrícula.
O jornal britânico “Financial Times” divulgou nesta quinta-feira que o Ministério Público Federal, instado pelo Itaú, encaminhou o caso para investigação da Polícia Federal. A publicação diz que ele já teria recebido as aprovações das autoridades europeias para ser efetivado pelo Santander – o que ainda não ocorreu.
Pelas regras europeias, o exercício das funções de um alto executivo de uma instituição financeira não pode começar até que o Banco Central Europeu (BCE) emita uma decisão positiva conhecida como “fit and proper” (FAP) e que do Banco da Espanha notifique a inscrição do nome do funcionário no Registro de Altos Executivos. O prazo legal na Espanha para adotar uma decisão FAP é de três meses a partir da notificação da nomeação, embora com possível suspensão em caso de solicitações de informações importantes que tenham faltado.
O Itaú acusa de fraude o ex-CFO e Eliseu Martins, um dos maiores especialistas em contabilidade do país, após identificar uma sociedade e transferências de recursos entre os dois que teriam beneficiado o agora ex-executivo da instituição financeira.
Uma investigação interna conduzida pelo banco detectou que Broedel teria recebido cerca de R$ 4,860 milhões em pagamentos feitos por Martins e empresas relacionadas a ele – e que o banco concluiu que era uma forma de “rebate” pelos pareceres contábeis contratados pelo Itaú, sob a alçada do ex-CFO. As informações são do jornal Valor Econômico.