Segunda-feira, 03 de março de 2025
Por Redação O Sul | 1 de março de 2025
O presidente Lula (PT), nas duas primeiras trocas anunciadas da aguardada reforma ministerial, contemplou nomes do seu próprio partido, frustrando dirigentes e integrantes do centrão e de partidos aliados. A escolha por indicar para o ministério responsável pela articulação política a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), fez com que esses interlocutores reforçassem críticas ao governo, de que Lula estaria cada vez mais encastelado e de que a reforma ministerial não será para valer.
A expectativa no mundo político, de petistas e aliados de centro, era que a reforma ministerial teria como um dos focos dar um chacoalhão no governo, que vem enfrentando uma crise de popularidade. Lula acabou priorizando as trocas dentro de seu partido, no momento em que muitos apontam a necessidade de fortalecer sua base e evitar debandada.
Gleisi entrará no lugar de Alexandre Padilha (Relações Institucionais), também petista, que sucederá Nísia Trindade no Ministério da Saúde. O centrão, ainda que cobiçasse muito a pasta de Nísia, já via com maior dificuldade Lula entregar seu comando para um integrante desses partidos.
Da mesma forma, desde o princípio das especulações de trocas no ano passado, aliados mais próximos ao presidente já diziam que Lula também só escolheria para a Secretaria de Relações Institucionais alguém que fosse de sua estrita confiança. Dificilmente haveria um Planalto não petista.
Entretanto existia no Congresso expectativa de que os índices históricos de rejeição ao seu governo fizessem com que ele ampliasse a presença de partidos da base aliada, para garantir a governabilidade. Nesse sentido, a pasta seria simbólica para quebrar hegemonia do PT.
Nomes como o do ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) ou do líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), surgiram na bolsa de apostas do Congresso -sendo o do emedebista o mais forte, até por sua proximidade com o novo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A escolha então pegou parlamentares e dirigentes partidários de surpresa, sobretudo no centrão. Nem Motta, nem Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, foram convidados para o diálogo. O aviso veio do próprio presidente, na sexta-feira, antes de a nota ser publicada pelo Planalto.
Um auxiliar próximo de Lula aconselhou ao presidente e à nova ministra que indicasse um integrante do centro para a liderança de governo na Câmara, como forma de amenizar o impacto da nomeação de Gleisi.
Isnaldo, por exemplo, é citado como o principal nome para suceder José Guimarães (PT-CE) no cargo. Nesse xadrez, ele iria para um mandato tampão na presidência do PT, uma vez que Gleisi deixará o posto.
Essa possibilidade esbarra na insatisfação do centro com a nomeação da presidente do PT para o ministério. Aliados do deputado alagoano dizem que, se ele assumisse o cargo, seria como um prêmio de consolação.
A principal leitura entre esses integrantes do centrão é de que Lula dobra a aposta no PT, reforçando que seu governo é para petistas e já pensando na eleição de 2026, enquanto deixa aliados de outras siglas -e potenciais aliados- de lado.
As legendas do centrão fazem parte do governo e têm ministérios. Mas, no Congresso, suas bancadas não votam inteiramente com Lula e há parlamentares que fazem oposição aberta ao Planalto.
A ideia da reforma ministerial, que esses partidos dizem não ter visto até o momento, seria justamente para abrir mais espaço para essas siglas no governo.
As queixas agora subiram de patamar. Caciques desses partidos passaram a dizer nos bastidores que a mensagem é de que Lula não quer dialogar e quer um governo do PT. O mal-estar, que estava posto, deve ser ampliado, dizem.
Críticos de Gleisi lembram que, à frente do PT, a deputada já se queixou da presença de partidos no governo que não entregam votos no Congresso de forma proporcional à presença na Esplanada, como o União Brasil, que tem dois ministros.
Parlamentares também ressaltam que Gleisi criticou ainda a “ganância” do Congresso com emendas parlamentares –e que o ministério dela é o principal intermediário do governo na negociação dos repasses com o Parlamento.
Para minimizar a desconfiança, a futura ministra ligou para líderes no Congresso logo após o anúncio oficial do governo. Gleisi, segundo relatos, pediu colaboração e afirmou que as coisas vão melhorar. Ela convidou ainda os líderes para a posse, no dia 10, e para uma reunião após o Carnaval.
Além disso, a deputada federal é conhecida por ser dura e por ter um trato difícil, num ambiente que é majoritariamente masculino. Ela já foi senadora e ministra da Casa Civil no governo Dilma.
Essa característica pessoal incomoda alguns, mas por outros é também motivo de elogios de parlamentares aliados de centro, que nutrem a expectativa de uma postura diferente da de Padilha, mais firme. Esperam que ela tenha mais a “caneta na mão”. As informações são do portal Folha de S.Paulo.