Terça-feira, 04 de março de 2025
Por Redação O Sul | 3 de março de 2025
A presença da nave espacial robótica Blue Ghost na Lua, desde o domingo passado (2), promete ajudar a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) a desvendar uma série de mistérios sobre o satélite natural e sua relação com a Terra. O equipamento foi construído pela startup norte-americana Firefly Aerospace e conta com dez instrumentos.
Vários de seus dispositivos têm como foco a análise da poeira lunar – geralmente angular, pegajosa e afiada, ou seja, um perigo para máquinas e um potencial problema de saúde para futuros astronautas que viajarão até lá.
Dentre os objetivos da missão estão testes inéditos para ajudar a permitir uma navegação mais precisa no satélite, bem como determinar como as naves espaciais interagem com a superfície lunar e como o campo magnético da Terra influencia os efeitos do clima espacial em nosso planeta. As dez cargas a bordo do módulo de pouso incluem:
– Lunar Instrumentation for Subsurface Thermal Exploration with Rapidity: também conhecido como Lister, trata-se de um instrumento para medir o fluxo de calor do interior da Lua, com suas variações de temperatura em profundidades de até 3 metros. O procedimento utiliza tecnologia de perfuração pneumática com um instrumento personalizado de agulha para fluxo de calor na ponta.
– Lunar Planet Vac (LPV): projetado para coletar amostras de regolito da superfície lunar, o dispositivo usa uma rajada de gás comprimido para impulsionar o regolito para dentro de uma câmara de amostragem, onde será coletado e analisado por vários instrumentos.
– Next Generation Lunar Retroreflector (NGLR): servirá como um alvo para lasers emitidos na Terra, permitindo a medição precisa da distância entre a Terra e a Lua ao refletir pulsos de laser extremamente curtos a partir de observatórios terrestres de medição a laser lunar. Os dados doequipamento podem melhorar a precisão do nosso sistema de coordenadas lunares e contribuir para a compreensão da estrutura interna da Lua.
– Regolith Adherence Characterization (RAC): determinará como o regolito lunar adere a diferentes materiais expostos ao ambiente lunar ao longo do dia. Ele medirá as taxas de acúmulo do regolito lunar em superfícies por meio de imagens para avaliar sua capacidade de repelir ou eliminar poeira lunar.
– Radiation Tolerant Computer (Rad PC): demonstrará um computador capaz de se recuperar de falhas causadas por radiação ionizante. Vários protótipos já foram testados a bordo da Estação Espacial Internacional e de satélites em órbita terrestre, mas este voo proporcionará o maior teste até agora, demonstrando a capacidade do computador de resistir à radiação espacial enquanto passa pelos cinturões de radiação da Terra, durante o trânsito até a Lua e na superfície lunar.
– Electrodynamic Dust Shield (EDS): tecnologia ativa de mitigação de poeira que usa campos elétricos para mover e evitar o acúmulo de poeira lunar perigosa em superfícies. Foi projetado para levantar, transportar e remover partículas das superfícies sem a necessidade de partes móveis.
– Lunar Environment Heliospheric X-ray Imager (Lexi): vai capturar uma série de imagens de raios X para estudar a interação do vento solar com o campo magnético da Terra, que impulsiona distúrbios e tempestades geomagnéticas. Implantado e operado na superfície lunar, este instrumento fornecerá as primeiras imagens globais mostrando a borda do campo magnético da Terra.
– Lunar Magnetotelluric Sounder (LMS): caracterizará a estrutura e composição do manto lunar ao medir campos elétricos e magnéticos. Essa investigação ajudará a determinar a estrutura térmica e a evolução da temperatura da Lua para entender como ela esfriou e se diferenciou quimicamente desde sua formação.
– Lunar GNSS Receiver Experiment (Lugre): demonstrará a possibilidade de adquirir e rastrear sinais de constelações GPS e Galileo, durante o trânsito até a Lua, em órbita lunar e na superfície lunar. Se bem-sucedido, o Lugre será o primeiro precursor para futuras espaçonaves lunares usarem constelações de navegação baseadas na Terra para estimar autonomamente e com precisão sua posição, velocidade e tempo.
– Stereo Camera for Lunar Plume-Surface Studies (ScalpSS): usará fotogrametria de imagem para capturar o impacto da pluma de exaustão do foguete no regolito lunar conforme o módulo de pouso desce na superfície da Lua. As imagens de alta resolução auxiliarão na criação de modelos para prever a erosão do regolito lunar, uma tarefa importante à medida que espaçonaves e equipamentos maiores e mais pesados são entregues à Lua em proximidade uns dos outros.
Missões privadas da Nasa
Pousar na Lua é um grande desafio devido à ausência de atmosfera, o que impossibilita o uso de paraquedas. Por isso, as espaçonaves dependem de manobras precisas, com propulsores, para reduzir a velocidade da descida.
Até o sucesso da Intuitive Machines, apenas cinco agências espaciais nacionais haviam conseguido esse feito: Estados Unidos, a hoje extinta União Soviética, China, Índia e Japão. Agora, os Estados Unidos buscam tornar as missões lunares privadas mais frequentes por meio do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS), da agência, que investiu US$ 2,6 bilhões para impulsionar essas iniciativas.
As missões ocorrem em um momento delicado para a Nasa, em meio a especulações de que o programa Artemis pode ser reduzido ou até cancelado, com foco na exploração de Marte – uma prioridade tanto para o ex-presidente Donald Trump quanto para seu conselheiro e fundador da SpaceX, Elon Musk. (com informações de o Globo)