Quinta-feira, 06 de março de 2025
Por Redação O Sul | 5 de março de 2025
Há dias, membros do Gabinete do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e autoridades de alto escalão de Washington, têm sugerido que o líder ucraniano, Vololdymyr Zelensky talvez precise renunciar para que se chegue a um acordo de paz, ressaltando a impressionante mudança de abordagem da Casa Branca em relação à guerra na Ucrânia.
No entanto, qualquer alteração na Presidência em Kiev provocaria pelo menos seis meses de limbo político e exigiria um cessar-fogo duradouro antes que as eleições pudessem ser realizadas dentro dos padrões internacionais, alertam autoridades e analistas ucranianos.
Há três grandes obstáculos para a realização de novas eleições, segundo as autoridades. Apenas três quartos das seções eleitorais da Ucrânia estão em funcionamento no momento e os preparativos para que as eleições estejam de acordo com os “padrões internacionais” levariam seis meses, disse o vice-chefe da comissão eleitoral da Ucrânia, Serhiy Dubovyk, à CNN.
A Constituição da Ucrânia também determina que, após a renúncia do presidente, o presidente do Parlamento assuma seu lugar até que as eleições sejam concluídas. Por fim, a Ucrânia está atualmente sob lei marcial, proibindo a realização de eleições.
“Precisamos de um líder que possa negociar conosco, eventualmente negociar com os russos e acabar com essa guerra”, disse o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Mike Waltz, à CNN. “E se ficar evidente que as motivações pessoais ou políticas do presidente Zelensky são divergentes em relação ao fim dos combates neste país, então acho que teremos um problema real.”
Seus comentários e os de outros republicanos importantes seguem a dramática virada de Trump contra Zelensky durante uma contenciosa reunião no Salão Oval na sexta-feira. A rara discussão pública – com Trump chamando o ucraniano de “desrespeitoso” – resultou na saída de Zelensky da Casa Branca sem a assinatura antecipada de um pacto preliminar sobre o compartilhamento dos direitos minerais ucranianos.
Zelensky tentou, durante a discussão acalorada, dizer que Kiev ainda precisava de garantias de segurança se quisesse confiar em um acordo de paz com Moscou após uma guerra amarga de três anos provocada pela invasão não provocada russa.
Significativamente, dada a incerteza sobre a possibilidade de salvar um acordo, Trump compartilhou no domingo uma repostagem em sua plataforma Truth Social argumentando que o próprio acordo mineral forneceria a segurança necessária.
“Trump garante que os americanos estarão envolvidos no setor de mineração da Ucrânia”, dizia a mensagem. “Isso impede que a Rússia lance uma invasão, porque atacar a Ucrânia significaria colocar vidas americanas em risco, algo que forçaria os EUA a responder.”
O foco no futuro de Zelensky cresceu desde que os assessores mais próximos de Trump passaram o domingo insinuando que ele poderia não ser mais o líder de que a Ucrânia precisa. Mas o próprio Zelensky pareceu descartar a ideia de sua renúncia ao falar com os jornalistas no domingo em Londres, apresentando um enigma de como removê-lo do poder.
“Dado o que está acontecendo, dado o apoio, simplesmente não será fácil me substituir”, disse Zelensky a repórteres em Londres, no domingo, onde participou de uma cúpula com líderes europeus que o apoiaram. “Não seria apenas uma questão de organizar eleições. Vocês também teriam que me impedir de concorrer às eleições, o que seria um pouco mais complicado. Parece que eles terão que negociar comigo.”
O presidente ucraniano ainda sugeriu, como já havia feito anteriormente, que renunciaria se a Ucrânia se tornasse membro da Otan – algo que o governo Trump tem repetidamente descartado. Ele brincou, em tom um pouco desafiador, que a entrada da Otan na Ucrânia significaria “que eu cumpri minha missão”. Mas as dores de cabeça que a burocracia para se realizar uma eleição rapidamente provocaria são múltiplas, afirma o vice-chefe da comissão eleitoral da Ucrânia
“Primeiro, o aspecto legal do fim da lei marcial deve acontecer”, disse Dubovyk à CNN. “Em segundo lugar, deve haver um processo preparatório, porque o país está em guerra, com danos sistêmicos [e] apenas 75% das seções eleitorais estão prontas para as eleições, inclusive nos territórios ocupados.”
O presidente ucraniano foi eleito em 2019 para um mandato de cinco anos. Esse mandato deveria ter terminado em maio de 2024, mas as autoridades ucranianas afirmam que a invasão em grande escala da Rússia e a Lei Marcial na Ucrânia impossibilitam a realização de um novo pleito. A legislação ucraniana sobre Lei Marcial proíbe eleições presidenciais, parlamentares e locais – o que justifica a permanência de Zelensky no cargo. A Rússia, porém, alega que o mandato dele expirou.
Na Ucrânia, os pedidos por eleições presidenciais são raros, e até mesmo os principais opositores de Zelensky dizem que elas seriam difíceis de organizar – e poderiam ser manipuladas pela Rússia, publicou a BBC. Se Zelensky resolvesse convocar uma votação no período de Lei Marcial, algo que ele chegou a sugerir em agosto de 2023, poderia ser acusado de cometer um crime grave. Para os ucranianos, dizem especialistas, a prioridade é ganhar a guerra. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.