Domingo, 09 de março de 2025
Por Redação O Sul | 6 de março de 2025
Momentos de confraternização, como festas e o Carnaval, são, para muitas pessoas, sinônimo de excesso de álcool. Nesses períodos, é comum ver homens e mulheres bebendo, em uma ocasião, uma quantidade de drinques que não costumam tomar ao longo de vários dias. Muitos nem sequer ingerem álcool regularmente. A prática tem um nome: binge drinking.
“O termo se refere ao consumo excessivo de álcool em um curto período. Muitas vezes, em festas e comemorações, algumas pessoas buscam a embriaguez rápida. Isso não significa que elas bebam com frequência”, descreve Agnaldo Vieira dos Santos, psicólogo do Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (Cejam).
De acordo com Olivia Pozzolo, psiquiatra e médica pesquisadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), beber além do limite, mesmo que de forma pontual, está longe de ser inofensivo. “A intoxicação por álcool é perigosa. Em alguns casos, pode ser fatal”, pontua. “Há alguns sinais de perigo, como confusão mental, dificuldade em falar, vômito, respiração irregular e pele fria.”
Se esse exagero ocorrer com frequência, ainda há aumento no risco de desenvolvimento de doenças do fígado, como cirrose e esteatose hepática, problemas de memória, distúrbios cardiovasculares e no sistema digestivo, além de sintomas ansiosos e depressivos. “O álcool é uma substância depressora. Ele vai te dar um sentimento de euforia no começo, mas depois desencadeia uma depressão no seu sistema nervoso”, informa Santos.
No tratamento do álcool, ainda há muito foco no alcoólatra que bebe todos os dias, mas o chamado beber pesado episódico (conhecido pela sigla BPE) também requer atenção e pode ser tratado, ressalta Olivia. “É importante olhar para isso porque esse padrão de consumo é prevalente em jovens”.
O que configura o binge drinking? Consumir de cinco ou mais doses de álcool em um período de duas horas, no caso dos homens, e quatro ou mais doses, no caso das mulheres, pode ser definido como binge brinking. “É um padrão que, no contexto nacional, parece baixo, mas já se enquadra como risco. A pessoa pode ter uma intoxicação alcoólica, redução da coordenação e, principalmente, diminuição da capacidade de julgamento”, informa o psicólogo do Cejam.
A redução do julgamento é um ponto de destaque, já que eleva a probabilidade de comportamentos de risco, como brigas, acidentes e sexo desprotegido.
Exageros alcoólicos repetidos com uma certa frequência já podem configurar uma dependência da substância. “No Carnaval, a gente costuma aumentar o consumo, mas, às vezes, as pessoas já seguem esse padrão antes. No final de semana, por exemplo, ou no famoso ‘sextou’. Nesse cenário, o Carnaval entra como um plus”.
Alguns sinais podem indicar uma possível relação abusiva com o álcool, conta Santos:
– Ficar imaginando o momento em que vai poder tomar um drinque;
– Pensar no uso da substância durante o dia;
– Ingerir cada vez mais álcool para ter o mesmo efeito, devido à resistência que vai adquirindo.
Cabe destacar que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há um limite seguro para a ingestão de álcool.
Recomendações
Para evitar problemas, o ideal é, portanto, não ingerir bebida alcoólica. Mas, caso vá fazer esse consumo, Olivia diz que “é importante conhecer o próprio limite e beber bem devagar, intercalando com água e alimentos.” Ela aconselha ainda a não beber de estômago vazio. “Isso acaba acelerando a absorção do álcool”, justifica.
“Outro ponto é ter cuidado com misturas perigosas. Evite combinar álcool com medicamentos ou outras drogas, pois isso pode intensificar efeitos colaterais. Ansiolíticos, por exemplo, potencializam os impactos do álcool no organismo. Também preste atenção ao ambiente ao seu redor. Procure locais seguros e, se possível, seja acompanhado por alguém que não esteja bebendo”, continua.
Caso veja alguém passando mal devido ao consumo abusivo de álcool, a psiquiatra recomenda avaliar o nível de consciência do indivíduo: se estiver inconsciente ou com uma respiração irregular, ligue imediatamente para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que pode ser acionado pelo número 192, em qualquer momento do dia. A ligação é gratuita.
“Enquanto você aguarda o socorro, deite essa pessoa de lado para evitar que ela engasgue ou vomite. Nunca tente induzir o vômito. E, se ela ainda estiver consciente, oriente o consumo de água. Não deixe a pessoa sozinha”, recomenda. (Estadão Conteúdo)