Domingo, 09 de março de 2025
Por Redação O Sul | 8 de março de 2025
Economistas consideram as medidas anunciadas pelo governo na última semana inócuas e poucos relevantes para conter a inflação de alimentos no curto prazo.
José Carlos Hausknecht, economista da MB Agro, diz que, em uma avaliação preliminar, as medidas não terão efeito significativo sobre a oferta de alimentos nos próximos meses. “Algumas não vão ter impacto nem no longo prazo”, ressalta.
Como exemplo, ele cita a zeragem da alíquota de importação da carne, do café, e do açúcar. O Brasil, observa, é o maior produtor mundial desses itens. Portanto, é muito difícil ter um volume significativo disponível para importar desses produtos no mercado, mesmo com a alíquota de importação zerada.
Em relação ao óleo de girassol, cuja alíquota de importação também será zerada, ele avalia que, além de ser um produto muito caro, é pouco consumido no País.
“Só a zeragem da alíquota de importação sobre as massas alimentícias teria algum efeito”, avalia. Também o óleo de palma, que terá uma cota de importação de 150 mil toneladas, Hausknecht diz que os preços do produto estão em alta hoje no mercado externo e, mesmo com a redução da tributação, não haveria um alívio no preço.
“As medidas são pouco relevantes”, afirma o economista Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências. Ele ressalta que a questão inflacionária da comida está ligada a fatores estruturais de oferta e demanda, cuja solução está ligada aumento da área de plantio e da produção que ocorrem o longo prazo. Além disso, lembra que fatores climáticos e do próprio ciclo de produção, no caso da carne, afetam as safras.
Estoques reguladores
Uma das medidas proposta pelo governo, o fortalecimento dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi avaliada por Hausknecht como ineficaz neste momento.
Para formar estoques reguladores, o governo tem de entrar comprando produtos, o que eleva os preços de mercado. Num contexto de cotações em alta, isso impulsionaria a inflação. “É mais fácil falar do que fazer”, diz ele.
Já em relação ao estímulo na produção de itens da cesta básica no Plano Safra, o economista da MB Agro ressalta que os dois itens principais da cesta básica, o arroz e o feijão, estão com preços em queda no momento. Portanto, a medida seria inócua e tem o foco voltado para a próxima safra. “O Plano Safra é para o que será plantado ainda.”
Também para Hausknecht, nada, à primeira vista, terá efeito significativo sobre a inflação. Campos Neto, da Tendências, acredita que esse pacote de medidas reflete muito mais as pressões que o governo vem sofrendo pela queda de sua popularidade que está sendo corroída pela alta da inflação da comida, que afeta sobretudo a população de menor renda.
O economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo Souza Júnior, prevê impacto modesto das medidas anunciadas pelo governo.
Para ele, a solução mais efetiva contra a inflação de alimentos continua sendo o ajuste fiscal, já que, ao controlar os gastos, o governo estimula menos o consumo. Ao mesmo tempo, diz, contribui para melhorar a percepção do mercado sobre os rumos das contas públicas, levando assim a uma apreciação cambial.
“O que teria mais impacto para reduzir a inflação de alimentos seria a adoção de medidas efetivas de controle dos gastos públicos, que conteria o crescimento da demanda e ajudaria a valorizar o real”, comenta o economista, que dirigiu por mais de cinco anos o departamento responsável por estudos e políticas macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Como o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, de modo que depende pouco de importações, a avaliação é de que zerar o imposto de produtos comprados do exterior não vai contribuir de forma significativa ao objetivo de conter a inflação dos alimentos.
“As reduções de alíquotas de importação são medidas positivas, mas devem ter pouco impacto na inflação. O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos, e nossa pauta de importações de alimentos é pequena e concentrada em poucos produtos”, diz Souza Júnior. Pelo mesmo motivo, ele não prevê perdas relevantes na arrecadação do governo. As informações são do portal Estadão.