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Mundo Ucranianos relatam trauma, cansaço e desesperança com fim da ajuda americana e discurso do presidente dos Estados Unidos, que parece ter saído do manual de propaganda de Putin

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Sob a regência de Donald Trump, o futuro é incerto e a impressão é que as portas vão se fechando para a Ucrânia. (Foto: Reprodução)

Do avanço russo, nos primeiros meses da guerra, quando Kiev parecia presa fácil, à contraofensiva do verão de 2023, última esperança de reaver os territórios ocupados pela Rússia, os ucranianos viveram momentos de pânico e euforia. Agora, sob a regência de Donald Trump, o futuro é incerto e a impressão é que as portas vão se fechando para a Ucrânia.

Apesar das reviravoltas, é improvável que Kiev resista por muito tempo sem a ajuda dos EUA. Líderes europeus, em desespero, fizeram duas reuniões de emergência, no mês passado, para discutir o futuro do continente.

Para os ucranianos, a sensação é de viver no Afeganistão. A advogada Oleksandra Matviichuk, cuja ONG recebeu o Nobel da Paz de 2022, acompanhou de perto as conversas sobre o futuro da Ucrânia na Conferência de Segurança de Munique, no mês passado. O mais surpreendente, segundo ela, foi a ausência do fator humano nas considerações.

“Se Trump se importa com pessoas morrendo na guerra, isso também significa que ele tem de se importar com as pessoas morrendo em prisões russas. E isso é o que eu não ouvi em todas as conversas. Políticos falam sobre minerais, acordos de paz, eleições, concessões territoriais, mas não sobre pessoas”, afirmou a advogada ao Estadão.

Entre as pessoas que deveriam ser citadas, ela lembra daquelas que sofreram crimes de guerra: as crianças sequestradas e levadas para a Rússia, além dos ucranianos que seguem em prisões russas. Sua ONG, o Centro de Liberdades Civis, já documentou mais de 81 mil crimes de guerra no conflito.

Trump prometeu acabar com a guerra no primeiro dia de mandato. Embora seus aliados não o levassem a sério, entenderam que o tema seria prioridade e temiam que o tom indicasse concessões ao presidente russo, Vladimir Putin. O que veio, porém, foi mais chocante.

Trump afirmou ter mantido conversas com Putin, o primeiro contato da Casa Branca com o russo desde o início da guerra. O Kremlin confirmou. Representantes dos dois governos se reuniram na Arábia Saudita para tratar da guerra – o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, foi apenas comunicado. Em seguida, após uma tensa reunião com o líder ucraniano na Casa Branca, Trump suspendeu toda ajuda militar americana para a Ucrânia, um golpe para seu Exército.

“Uma coisa é pressionar por um acordo de paz. Mas o chocante é ouvir Trump utilizando as palavras exatas que mostram que ele foi alimentado por Putin. É muito claro como tudo isso foi jogado não por Trump, mas por Putin”, disse David Dunn, professor de estudos internacionais da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

Com a torneira dos EUA fechada e os sinais de alinhamento com Putin, a Europa entrou em pânico. O campo de batalha está estagnado. As últimas contraofensivas ucranianas foram insuficientes para expulsar os russos e Moscou obteve pequenos avanços dentro da Ucrânia.

Entre os ucranianos, o cansaço se soma à indignação com a exclusão do país das negociações. De moradores da capital às regiões próximas do front, o Estadão ouviu relatos de fadiga, luto e patriotismo. O sentimento de traição também parece unanimidade, conforme os EUA abraçam Moscou.

Anatoli Karban morreu no campo de batalha um mês antes de completar 55 anos. Professor de história, participou de todas as revoluções desde os anos 90, quando a Ucrânia se tornou independente da União Soviética.

Segundo sua filha, Alina, de 35 anos, Anatoli tinha pronta uma “maleta militar” desde 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. Quando Moscou invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022, ele foi imediatamente para a guerra.

Serviu em Poltava, resistiu a ataques em Kharkiv e sobreviveu à batalha de Soledar, cidade estratégica que serviu para os russos tomarem Bakhmut. A morte chegou no vilarejo de Tonenke, em Donetsk, quando um tiro de artilharia o atingiu, na Páscoa de 2023.

“Tínhamos certeza que ele nunca ia morrer”, lamenta Alina. Ela, sua mãe e sua irmã estavam reunidas quando a notícia chegou por meio de amigos. A confirmação oficial só veio dois dias depois.

Hoje, Alina trabalha com arquivos, especialmente de soldados mortos. Um de seus trabalhos foi brigar pela construção de espaços dedicados a militares nos cemitérios. “Meu pai não teve um local de enterro. Então, brigamos para transformar um terreno comercial em cemitério militar. Agora, ele está lá, na primeira fileira, cercado por nossos colegas e amigos, descansando.”

A parte mais estranha disso tudo, diz Alina, foi ver a vida seguir, apesar do luto. “O mais difícil da perda é que ela acontece na família, mas o mundo ao redor continua girando. O mundo não para, a Ucrânia continua em guerra e você fica com sua perda sozinho.”

Além do pai, Alina perdeu amigos e conhecidos. “A guerra nos destrói mental e fisicamente. Nós tentamos sorrir, mas é difícil. Não tenho mais lágrimas para chorar.”

Angelina Iaroshenko, de 21 anos, nasceu em Donetsk e viveu 10 anos se mudando de uma cidade para outra. Hoje, está em Zaporizhzia, perto da linha de frente. “Nessas regiões, seguimos o fluxo, apenas observando, porque nenhuma situação é permanente”, conta. “Mesmo se uma cidade for libertada hoje, na semana que vem ela pode estar sob ocupação de novo.”

Ela é cofundadora de uma ONG que promove atividades para jovens e crianças de Zaporizhzia, muitos vindos das regiões sob ocupação. Além de atendimento psicológico, a ONG conta com fonoaudiólogos que ajudam as pessoas que pararam de falar em consequência do trauma.

Angelina conta o drama de um menino de 9 anos, traumatizado pelos “campos de triagem” da Rússia, onde as crianças ucranianas são separadas dos pais e correm o risco de serem levadas para a adoção. Outro caso, segundo ela, é de uma idosa que ficou sozinha durante a ocupação e, quando retornou à Ucrânia, não conseguia mais falar ucraniano, apenas russo, em virtude do medo. (Estadão Conteúdo)

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