Sábado, 15 de março de 2025
Por Dennis Munhoz | 15 de março de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A inflação nos Estados Unidos apresenta resistência inesperada e nenhum sinal de efetiva queda pelo menos a curto prazo. Antes da covid-19 a inflação anual girava em torno de 1,5% ao ano e, nos últimos 40 anos pouco oscilou, ou seja, o estadunidense com menos de 60 anos nunca conviveu com o processo inflacionário. Até 2020 quando falávamos sobre inflação por aqui as pessoas não tinham ideia do que se tratava. Como não há bem que sempre dure e mal que nunca termine, a pandemia mudou o cenário mundial e a temida inflação chegou com força em solo norte-americano.
No auge atingiu 9,1% ao ano, superando até a inflação brasileira durante a administração de Joe Biden. A equipe econômica do então Presidente subestimou a força destruidora da inflação e foi postergando as medidas duras mas necessárias para combater este mal. Entre 2020 e 2024 o governo emitiu e despejou trilhões de dólares em auxílios socias (alguns necessários) e pagamentos para as pessoas permanecerem em casa.
Como a cadeia de produção estava comprometida em função da pandemia, ocorreu a falta de produtos e serviços com excesso de dinheiro no mercado, mistura ideal para o processo inflacionário. Muita gente querendo e podendo comprar e produtos faltando, resultado: INFLAÇÃO. O governo Biden demorou para agir e o FED (equivalente ao Banco Central) teve que aumentar as taxas de juros drasticamente, batendo recordes dos últimos 40 anos. Atualmente a inflação anual está em 3% (o dobro da usual) e não apresenta sinais de queda mesmo com a taxa de juros elevada. Segundo pesquisas a inflação foi um dos principais pontos negativos na campanha presidencial de Kamala Haris (outro foi a imigração ilegal).
O Presidente Trump soube explorar muito bem o processo inflacionário na campanha e prometeu agir, todavia depois de quase dois meses os resultados ainda não surgiram. Aumentar tarifas de produtos importados pelos Estados Unidos, especialmente da China, México e Canada em função destes países não agirem como se espera relativamente à vigilância de fronteiras e cuidados com a droga fentanil pode provocar efeito prático neste sentido, todavia tarifas maiores significam preços maiores dos produtos para o consumidor final, alimentado ainda mais a inflação.
Em várias economias a importação de produtos é utilizada para regular o preço do mercado interno, mantendo a oferta e demanda equilibradas e regulando os preços. As novas tarifas que devem entrar em vigor no começo de abril podem forçar os países exportadores a tomarem providências solicitadas por Trump, bem como a diminuir tarifas impostas a produtos dos Estados Unidos, desde que haja o tão esperado acordo, mas também podem causar aumento no preço nas lojas e supermercados, apertando ainda mais o orçamento do consumidor estadunidense.
Outros vilões são os gastos públicos e o aumento da dívida publica. A dívida pública não é exatamente um problema muito sério para a maior economia do mundo, desde que esteja controlada, mas parece que isto não está acontecendo. Nos últimos 30 anos a dívida pública cresce cada vez mais rápido e pouco vem sendo feito para controlar. As medidas de controle são impopulares e os governantes relutam em adotá-las porque estão quase sempre em campanha para reeleição. Aumentar impostos, cortar cargos públicos, reduzir despesas administrativas, “enxugar” a máquina e reduzir benefícios externos e internos não fazem parte das preferências dos políticos. O remédio é amargo mas precisa ser tomado.
O pagador de impostos está estarrecido com os números apresentados por Elon Musk (responsável pelo departamento de controle, despesas e eficiência do governo federal – DOGE) relativamente a dinheiro enviado para outros países, alguns inimigos declarados dos Estados Unidos, organizações não governamentais e projetos em sua grande maioria considerados inúteis par a atual administração.
São bilhões de dólares que saem do bolso do contribuinte para causas que não têm o apoio popular. Musk está sendo muito questionado por políticos e autoridades até do próprio partido republicano que sentem seu “território” invadido por quem não foi eleito e apontam conflito de interesse das empresas dele com o governo federal.
Apesar de alguns excessos, o fato é que os números astronômicos apresentados por ele até agora não foram desmentidos pelos órgãos oficiais, e a contundente afirmação que se as contas públicas e dívida pública não forem equacionadas o Estados Unidos vão quebrar está ressoando na sociedade. Equilibrar esta equação é extremamente complicada mas algo efetivo e rápido precisa ser feito. A inflação não espera e o contribuinte também não.
Dennis Munhoz é jornalista, foi Presidente da TV Record e Superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos.
* Instagram: @munhozdennis
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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