Terça-feira, 18 de março de 2025
Por Redação O Sul | 17 de março de 2025
O Procon-RJ realizou uma vistoria e interditou a venda de bilhetes do trem que leva ao Cristo Redentor, na manhã dessa segunda-feira (17). O sistema de vans que leva ao monumento também foi paralisado. Os passageiros foram orientados a remarcar as viagens ou pedir o dinheiro de volta.
A interdição ocorre um dia após um turista de 54 anos morrer ao passar mal nas escadarias de acesso ao monumento. Ele foi identificado como Jorge Alex Duarte e era do Rio Grande do Sul, e a família diz que não havia equipe de atendimento médico na hora.
O turista passou mal às 7h39 e foi atendido pelo Samu, que chegou ao local às 8h13, de acordo com o Santuário do Cristo Redentor.
A nora da vítima, Melissa Schiwe, de 24 anos, relatou demora para chegada do socorro e afirmou ter iniciado, por contra própria, os primeiros socorros. “Comecei a gritar pra todo mundo no parque ‘é parada cardíaca'”, afirma ela, que é formada em enfermagem.
O Trem do Corcovado, responsável pelo posto médico, segundo o contrato de concessão, informou que os socorristas começam a trabalhar às 8h, que seria o horário de chegada do primeiro trem no alto do Corcovado. Mas, como o turista subiu de van, acabou chegando antes.
Segundo a empresa, os socorristas teriam chegado às 7h50 onde Jorge Alex passou mal. Em nota, afirmou que “não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o Samu”.
A nora contou que, por cerca de 5 minutos, fez massagem cardíaca no sogro. Depois, teve ajuda de pessoas que se aproximaram, entre elas, o padre João Damasceno, da capela do local. A nora estima que a ambulância do Samu tenha chegado cerca de 35 minutos após Jorge passar mal.
Nas redes sociais, Melissa lamentou a falta de ambulância no parque e disse que não existia atendimento de urgência aberto.
Gutemberg Fonseca, secretário de Defesa do Consumidor, explica que a bilheteria abre às 7h, mas o posto médico não.
“O posto médico só funciona a partir de 9h. E, às 17h, ele fecha. Se os consumidores subirem, estiverem lá e precisarem de posto médico não tem”, disse Fonseca.
Jogo de empurra
O Santuário do Cristo Redentor, que administra o monumento, afirmou que o posto médico estava fechado na hora que o homem passou mal.
Em nota, faz outras críticas: diz que o “Alto Corcovado o não possui ambulância, acessibilidade universal, pontos de hidratação, brigadistas, banheiros adequados com acessibilidade, escadas rolantes e elevadores em pleno funcionamento, nem internet e sinal de telefonia de acesso público que permita que os visitantes possam fazer ligações”.
O Trem do Corcovado afirma que funciona há 140 anos sem qualquer problema de operação e que disponibiliza uma enfermaria com todos os equipamentos necessários aos primeiros socorros no alto do Corcovado. Sobre a morte do visitante, o Trem do Corcovado afirmou que não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o Samu.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICM-Bio, que administra o Parque Nacional da Tijuca, afirmou que a responsabilidade de atendimento médico é do Trem do Corcovado, o que está previsto no contrato de concessão.
O documento diz que “o concessionário deverá responsabilizar-se pela implantação e manutenção de uma sala no Alto do Corcovado para abrigar um posto de atendimento de primeiros socorros, com os mínimos equipamentos de urgência e emergência, bem como profissional capacitado para realização dos procedimentos necessários”. E que “os serviços ambulatoriais de primeiros socorros deverão estar disponíveis durante todo período de funcionamento do Corcovado”.
O Santuário afirma que ” tentativa do ICMBio de transferir toda a responsabilidade à concessionária é uma manobra inaceitável, que escancara a negligência do órgão e sua incapacidade de garantir a segurança e o bem-estar dos visitantes”.
O ICMBio afirma ainda que não recebeu ofício ou comunicado da Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor e nem do Procon informando, previamente, que faria uma ação de vistoria no Corcovado. “O ICMBio demonstra preocupação com a atitude da Secretaria, que causa prejuízo aos visitantes nacionais e internacionais no Corcovado. Tão logo o instituto seja formalmente notificado, irá avaliar e tomar as medidas cabíveis, principalmente para restabelecer o acesso pleno ao Corcovado de todos os visitantes”, diz o texto da nota.
Afirma ainda que “a Arquidiocese do Rio de Janeiro busca a todo momento colaborar com o desenvolvimento do Alto Corcovado, mas esbarra nos entraves burocráticos impostos pelo ICMBio”.
“Há duas semanas, notificamos o ICM-Bio, estamos recebendo diversas denúncias sobre problemas e eles nos responderam dizendo que deveríamos falar com o Iphan. Lamentavelmente, aconteceu o episódio do falecimento de um turista. O que não pode é ficar um jogando para a conta do outro. A responsabilidade é de todos e da concessionária”, disse o secretário Gutemberg.