Quarta-feira, 19 de março de 2025
Por Redação O Sul | 18 de março de 2025
Em uma decisão histórica, o Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, aprovou nesta terça-feira um enorme aumento nos gastos com defesa e infraestrutura. A medida, que recebeu o apoio de dois terços dos parlamentares, isenta os investimentos militares das rígidas regras de dívida da Alemanha e cria um fundo de infraestrutura de € 500 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões).
A aprovação representa uma mudança significativa para um país cauteloso com endividamento, e que pode transformar o cenário da defesa europeia — à medida que a guerra entre Ucrânia e Rússia avança e após o presidente dos EUA, Donald Trump, sinalizar um compromisso incerto com a Otan.
No entanto, para que a medida entre em vigor, a câmara alta do Parlamento, o Bundesrat, ainda precisa confirmar a decisão com outra maioria de dois terços. A votação, segundo a BBC, está marcada para a próxima sexta-feira.
O provável novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, defendeu a medida durante o debate no Bundestag, afirmando que o país “sentiu uma falsa sensação de segurança” na última década.
— A decisão que estamos tomando hoje pode ser nada menos que o primeiro grande passo em direção a uma nova comunidade de defesa europeia — declarou Merz, destacando que essa aliança incluiria países “que não são membros da União Europeia”.
Segundo a medida, os gastos com defesa ficarão isentos do chamado freio da dívida da Alemanha: uma lei na Constituição do país que limita rigorosamente os empréstimos do governo federal a apenas 0,35% do PIB.
Incerteza sobre segurança
Merz, da União Democrata Cristã (CDU), vencedor das eleições gerais no mês passado, propôs as medidas rapidamente após a vitória. Ele justificou a urgência citando a incerteza sobre o futuro da segurança europeia, especialmente após as recentes negociações entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin.
— A situação piorou nas últimas semanas. É por isso que temos que agir rápido — disse, em entrevista à emissora pública ARD, no último domingo.
O partido de extrema direita AfD e o partido de extrema esquerda Linke, que tiveram um bom desempenho nas eleições de fevereiro, opõem-se aos planos de Merz, que ainda não conseguiu formar uma coalizão para governar a Alemanha e anunciou planos ambiciosos para estabelecer um novo governo até a Páscoa.
‘Europa deve ter uma postura forte’
Nesta terça-feira, a presidente da Comissão Europeia (o órgão executivo da UE), Ursula von der Leyen, disse que a Europa precisa se rearmar para ter uma capacidade de dissuasão confiável em 2030:
— Até lá, a Europa deve ter uma postura forte em matéria de defesa. Estar preparado para 2030 significa rearmar-se e desenvolver as capacidades necessárias para uma dissuasão confiável. Precisamos agir rapidamente — disse der Leyen durante uma cerimônia na Academia Militar da Dinamarca, acrescentando que isso também significa “ter uma base de defesa industrial que constitua uma vantagem estratégica”.
A Rússia, segundo von der Leyen, “expandiu amplamente sua capacidade industrial de produção militar e está em um caminho sem volta na criação de uma economia de guerra completa”.
— E enquanto essas ameaças aumentam, vemos nosso aliado mais antigo, os Estados Unidos, mudar seu foco para a região Indo-Pacífico. Podemos querer que essas coisas não sejam verdade — concluiu.
Ao apresentar von der Leyen, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Fredericksen, declarou que “se a Europa quer evitar a guerra, a Europa deve estar pronta para a guerra”. As informações são do portal O Globo.