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Brasil Polícia Federal avança em investigação de venda de decisões do STJ e prende advogado que vazou inquérito para tio que é governador

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Celular de Thiago Carvalho tinha conversas suspeitas sobre monitoramento de operações. (Foto: Reprodução)

A Polícia Federal (PF) abriu ontem uma nova fase da operação “Sisamnes”, que investiga suspeita de venda de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e prendeu preventivamente o advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho. Conversas dele foram encontradas em celulares apreendidos durante cumprimento de mandados.

De acordo com a corporação, foi identificada uma rede clandestina de monitoramento, comércio e repasse de informações sigilosas sobre o andamento de investigações sensíveis supervisionadas pelo STJ. Com base em informações e provas colhidas na primeira etapa da operação, deflagrada em novembro de 2024, os federais investigam possíveis crimes de obstrução da Justiça, violação do sigilo funcional e corrupção.

O advogado preso é sobrinho do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e assessor do procurador de Justiça do Ministério Público do Estado Ricardo Vicente da Silva. O governador não está na mira da ofensiva. Já o procurador foi alvo de buscas.

“Intermediador”

Uma das conversas do advogado foi encontrada no celular do desembargador Helvécio de Brito Maia Oliveira, do Tribunal de Justiça do Tocantins. O aparelho havia sido apreendido em agosto do ano passado, durante a operação “Máximus”, que mirou negociação de sentenças na Corte estadual.

Ainda de acordo com a PF, os diálogos “denotam a atuação de Thiago Carvalho como intermediador do repasse de informações sigilosas, com a ciência e/ou anuência do procurador de Justiça Ricardo Vicente da Silva”.

As conversas são de junho de 2024 e se deram no contexto de uma investigação sigilosa do STJ que atingiu magistrados do Tocantins. Ao alertar o desembargador sobre o inquérito, o advogado afirma que ficou sabendo do processo por meio de “companheiros” em Brasília que “ficam aí 24 horas monitorando” e “tendo acesso às informações”. Ele acrescenta: “Sou sempre daquela linha, se tem e se tiver alguma investigação, alguma coisa, é sempre bom estar por dentro, estar em alerta”.

O advogado se oferece para detalhar o que sabe: “A gente não sabe como que tá essa questão de uma eventual interceptação telefônica, né, mas assim, independentemente de qualquer coisa, eu fiquei interessado para pegar esse material até para avisar o senhor. Porque o doutor Ricardo tem o senhor igual um irmão, e o irmão do doutor Ricardo é um tio pra mim, porque o doutor Ricardo é um segundo pai que eu tenho. Então, o meu interesse é de ter acesso, passar”.

Consta no inquérito da PF que, após a Operação Máximus, o desembargador e o advogado passaram a se comunicar pelo aplicativo de mensagens Signal, que armazena o mínimo possível de dados. Também não mantém registros de mensagens, chamadas ou arquivos compartilhados.

Ligações

Em outra conversa também com o desembargador Helvécio Oliveira, em meados do ano passado, Carvalho relata que vazou um inquérito sigiloso do Superior Tribunal de Justiça para o tio governador. O advogado afirma que teve acesso ao inquérito por meio de “pessoas que têm ligações fortíssimas no STJ”.

Segundo Carvalho, a investigação teria relação com contratos para a compra de cestas básicas e envolveria o acordo de colaboração premiada de um dos fornecedores do governo do Tocantins: “Estive em Brasília, fui exclusivamente pra ver esse inquérito. Consegui acesso a ele, voltei e mostrei para o tio Wanderlei. Disse que ‘Quando a gente fala tá mostrando as coisas para o senhor, a gente tem interesse de ajudar, não é de passar medo, é pra tomar alguma providência se for necessária’”.

O advogado afirma, ainda, que o tio passou a “cuidar” do assunto. “Moral da história, ele agora está passando a cuidar disso. De vez em quando até manda umas mensagens, ele está vindo de Portugal, disse que quer conversar comigo. Eu acredito que seja sobre isso, ele quer que eu pegue mais algumas informações.”

Em nota, o governador disse que sua defesa teve acesso regular ao inquérito mencionado. “Eventuais desdobramentos são de exclusiva responsabilidade dos investigados, não cabendo qualquer tentativa de vinculação ao governador por atos individuais de terceiros”, afirmou. “Não houve qualquer recebimento de informação privilegiada, um vez que a conversa mencionada na investigação data de 28 de junho de 2024, quase três meses desde que a defesa do governador já possuía acesso ao processo.”

Trama

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), é o relator da investigação. Após receber o relatório da PF sobre as conversas, ele afirmou que as mensagens sugerem “uma trama envolvendo servidores do STJ, de modo a fornecer acesso indevido a dados sigilosos, inclusive no âmbito de investigações criminais em andamento, em contextos apuratórios da suposta conduta de desembargadores e até do governador de Tocantins”.

“O investigado denota possibilidade elevada de reiteração da prática delitiva”, subinhou Zanin. O ministro determinou o afastamento de Carvalho das funções no gabinete do procurador de Justiça.

(com informações do jornal O Estado de São Paulo)

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