Terça-feira, 08 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 7 de abril de 2025
A caça a cérebros em fuga dos EUA já mobiliza governos e instituições em outros países.
Foto: DivulgaçãoEm menos de três meses, o cerco do presidente Donald Trump às universidades americanas acende o alerta para um fenômeno que, até pouco tempo, tinha os Estados Unidos como o maior beneficiário: a fuga de cérebros. Lar de algumas das mais prestigiosas instituições de ensino do planeta, a capacidade dos EUA de atrair estudantes do mundo todo sempre foi vista como um importante soft power. No entanto, diante de uma série de medidas do governo – que incluem cortes em financiamentos, veto a iniciativas de diversidade, caça a estudantes envolvidos em protestos e até proibição do uso de determinadas palavras –, os ventos parecem mudar de direção.
Com apenas dois meses e meio da nova administração, ainda não há números, mas as discussões sobre uma possível fuga de cérebros entraram na pauta do dia. Em uma pesquisa da revista Nature feita com 1,6 mil acadêmicos, 75% disseram considerar sair dos EUA devido à instabilidade causada pelo governo Trump. A tendência é ainda mais forte entre estudantes de mestrado (79%), uns dos mais afetados pelos cortes de bolsas e pesquisas. Se por um lado a fuga de cérebros representa um desafio aos EUA, por outro, já há países aproveitando a oportunidade para oferecer “asilo científico”.
A caça a cérebros em fuga dos EUA já mobiliza governos e instituições em outros países. Uma das primeiras foi a Universidade Aix-Marseille, na França, que no início de março lançou o programa “Espaço Seguro para a Ciência” para atrair 15 cientistas americanos das áreas de meio ambiente, saúde e astrofísica dispostos a trabalhar por três anos no seu campus. Segundo a instituição, mais de 60 candidatos se inscreveram, 30 deles nas primeiras 24 horas. Duas universidades da Bélgica e o governo da Holanda anunciaram planos semelhantes. Por sua vez, o governo da Catalunha apresentou na segunda-feira um programa trienal de € 30 milhões para atrair cientistas americanos, com 78 vagas em 12 universidades públicas.
Em carta à comissária de Pesquisa da União Europeia, Ekaterina Zaharieva, ministros do setor de 13 países-membros – incluindo de potências da área como Alemanha e França – exortaram o bloco a aproveitar o momento para “dar as boas-vindas a talentos brilhantes do exterior que podem estar sofrendo interferência nas pesquisas e cortes de financiamento brutais e mal motivados”. A arquirrival China, que disputa fortemente com os EUA os avanços na área de tecnologia, também já começou a buscar atrair “os refugiados com PhD dos EUA”, segundo o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, oferecendo “novos caminhos acadêmicos”.
Em fevereiro, a Sociedade Max Planck, um dos maiores institutos de pesquisa no mundo, registrou um aumento no número de candidaturas de cientistas americanos, noticiou a revista alemã Der Spiegel. Ironicamente, a instituição, sediada em Munique, foi uma das mais prejudicadas com a fuga de cérebros durante a Alemanha nazista, perdendo alguns dos seus nomes mais proeminentes para os EUA, incluindo Albert Einstein.
Há uma semana, o professor de Yale Jason Stanley se tornou o rosto do movimento ao anunciar que estava deixando a prestigiosa universidade da Ivy League para assumir um cargo na Universidade de Toronto. Ao site Daily Nous, o autor do livro “Como o fascismo funciona” justificou a decisão afirmando que gostaria de “criar meus filhos em um país que não está se inclinando para uma ditadura fascista”.