Domingo, 13 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 9 de abril de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No ano passado, tive a oportunidade de assistir em Lisboa, a uma palestra de Thomas Friedman, autor do best-seller O Mundo é Plano.
A clareza com que ele descreveu os efeitos da globalização, da interconexão tecnológica e da formação de uma nova ordem econômica mundial me pareceu, naquele momento, um caminho sem volta.
O mundo havia se “achatado”, como ele mesmo diz — tornando-se um ambiente onde fronteiras importam menos, e a colaboração entre nações é a chave para o desenvolvimento.
Friedman sustenta que, quanto mais os países estiverem inseridos nas cadeias globais de produção e valor, menor será a chance de conflitos armados e maiores serão as oportunidades de crescimento compartilhado.
Essa é a base da chamada “Teoria da Dell de Prevenção de Conflitos” — na qual a paz e a estabilidade global seriam consequência natural da interdependência econômica. Mas, de repente, surgiu Donald Trump. E com ele, a promessa de um Trump 2.0, ainda mais incisivo em sua tentativa de “reerguer” fronteiras e resgatar um modelo econômico baseado em soberania, protecionismo e isolamento estratégico.
A guerra comercial com a China, a retirada de acordos multilaterais, o desmonte de instituições globais e o incentivo ao retorno das fábricas aos EUA são parte de uma agenda que ameaça anular a teoria de Friedman na prática. Por isso, resolvi confrontar a tese com a realidade atual — e refletir sobre a mudança radical à qual a economia mundial está sendo induzida. Trump representa uma ruptura.
Ele não acredita que a interdependência seja benéfica — ao contrário, vê nisso uma fragilidade. Defende que os Estados Unidos devem depender apenas de si mesmos, mesmo que isso implique romper cadeias globais de valor, gerar instabilidade ou desacelerar o comércio mundial.
Enquanto Friedman vislumbra um mundo onde todos ganham ao cooperar, Trump aposta em um jogo de soma zero: para alguém ganhar, outro precisa perder. São visões de mundo profundamente diferentes, que hoje disputam espaço na geopolítica internacional.
O que me parece certo é que o mundo não está mais tão plano quanto Friedman previa. E diante da volta de Trump ao poder, a pergunta que fica é: será que o mundo continuará plano — ou estamos assistindo ao retorno de um mundo montanhoso, de blocos, fronteiras e muros? Essa é uma reflexão urgente para todos que acreditam no comércio, na integração e na diplomacia como caminhos de progresso.
*Jerônimo Goergen/Advogado
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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