Sábado, 19 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 16 de abril de 2025
A flexibilização cambial adotada pelo governo de Javier Milei, que teve início na última segunda-feira, não deve tornar a Argentina novamente um destino mais “barato” para turistas brasileiros. O fim dos controles no câmbio na Argentina, no entanto, podem ajudar a reduzir a complexidade causada pelas múltiplas cotações do dólar no país.
A avaliação de analistas é que, no curto prazo, ainda há o risco de uma volatilidade maior e ajustes no preço do câmbio no país, apesar da queda do peso na segunda-feira, em torno de 12%, ter ficado abaixo do tombo inicialmente projetado por analistas do mercado.
Na sexta-feira passada, depois de anunciar um acordo de US$ 20 bilhões com Fundo Monetário Internacional (FMI) que vai ajudar a ampliar as reservas do Banco Central argentino, o governo Milei informou que encerraria o chamado “cepo”, um sistema que impunha uma série de restrições para o câmbio, incluindo limites de compra da moeda pelos argentinos no mercado oficial.
O novo regime acaba com a política anterior de um câmbio com preços artificialmente controlados, e institui o regime de câmbio flutuante. Os preços variam de acordo com o mercado, mas dentro de um intervalo de 1.000 a 1.400 pesos argentinos por dólar americano.
Caso a cotação fique fora desses limites, o Banco Central da República Argentina (BCRA) pode intervir com a compra ou venda de dólares. As bandas serão ajustadas em 1% ao mês.
Além disso, o governo encerrou o limite mensal de US$ 200 para compra de dólares por pessoas físicas no câmbio oficial, uma das principais marcas do controle imposto em 2019 e que acabou por alimentar a demanda por dólar no mercado paralelo.
Em um relatório na segunda-feira, analistas do Bradesco BBI avaliaram como positivo o novo regime cambial e o pacote de medidas anunciado pelo governo argentino. A avaliação é que o cenário de curto prazo é de alívio nos riscos macroeconômicos no país. A sustentabilidade do modelo, no entanto, dependerá da capacidade do Banco Central de acumular reservas e controlar a inflação.
Murilo Riccini, head Estratégia de Ações para a Região Andina e Argentina no Bradesco BBI, diz que o tamanho do pacote, maior do que o esperado pelos analistas, é bom sinal, que reduz “significativamente” a preocupação com a capacidade de reservas do banco central argentino.
Ele acrescenta que a expectativa inicial era de alta instabilidade nos primeiros dias da medida, mas que o efeito foi mais “suave” que o esperado:
“Na prática, a liberação da restrição cambial ocorreu de maneira mais suave que o esperado, com o câmbio oficial subindo em cerca de 10% e o paralelo caindo 10%, resultando em uma quase unificação (dos valores)”, diz Riccini.
E para o brasileiro com viagem marcada para a Argentina, o que isso significa? Dado que o ajuste do câmbio oficial foi de apenas 10%, a Argentina “seguirá mais cara do que o Brasil em dólares”, avalia o analista.
Eduardo Grübler, gestor da AMW (Asset Management Warren), concorda que uma Argentina “mais barata” para o brasileiro, como aconteceu em anos anteriores a 2024, está fora do radar. A valorização do peso e a recuperação relativa da economia tende a tornar o país mais caro diante do real desvalorizado, com o dólar frequentemente se aproximando de R$ 6 por aqui.
“Dificilmente a gente deve ver aquele movimento de três anos atrás em que o peso desvalorizou tanto que a relação tornava o país mais barato para o Brasil. Esse movimento não deve acontecer. A nossa visão é que foi um exagero, então não deve se repetir, não.”
Além da forte desvalorização do peso frente ao real, Grübler explica que uma conjunção de fatores tornava a Argentina mais em conta para turistas brasileiros, inclusive subsídios que seguravam artificialmente os preços.
“A gente tem que lembrar que as mudanças que Milei tem feito na Argentina fizeram com que a moeda ficasse mais estável em relação ao governo anterior. Sem discutir se são decisões corretas, o fato é que trouxeram uma certa valorização para o peso argentino”, acrescenta Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos.
Viotto lembra ainda que o brasileiro tinha a impressão de que ir para a Argentina era vantajoso também porque o real estava mais valorizado. O efeito de um país “mais caro”, para ele, deve se manter nos próximos “meses ou até anos”, até que as duas economias estejam mais equilibradas.
Elson Espinoza, diretor comercial da Soy Loco por ti América, operadora de turismo que atua com 10 mil agências no Brasil, avalia que a mudança no regime cambial tende a beneficiar o turista brasileiro pelo menos em um aspecto: ajuda a reduzir a “confusão” provocada pela existência de múltiplas cotações do dólar na Argentina, em razão do mercado paralelo:
“O turista vai poder trocar seus dólares por pesos com mais clareza, sem precisar lidar com cinco ou seis tipos de câmbio diferentes”, avalia ele, que também considera o novo regime poderá trazer menos burocracias na conversão da moeda.
Apesar dessa vantagem, ele reconhece que a Argentina ficou mais cara nos últimos 12 meses, com preços mais altos que refletiram nos pacotes de viagem e na busca de turistas brasileiros por destinos alternativos na América Latina: “Há um ano, um pacote de dez dias com hospedagem, alimentação e transporte custava cerca de US$ 700 por pessoa na Argentina. Hoje, está 30% a 40% mais caro.”
A aposta de Fabiano Camargo, presidente do Conselho da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA), é a que a liberação do câmbio facilite as transações entre operadores brasileiros e fornecedores argentinos. A expectativa dele é que a equiparação das cotações deixe os valores “mais competitivos e acessíveis”, especialmente para quem deseja parcelar em reais. As informações são do jornal O Globo.
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