Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de abril de 2025
A cada 10 cidades, 4 afirmaram ter sistemas de drenagem de água da chuva exclusivos.
Foto: César Lopes/PMPANas últimas três décadas, o Brasil teve 3.464 mortes e um prejuízo de R$ 151 bilhões causados por eventos hidrológicos extremos, como chuvas, enchentes e outros.
Mesmo assim, o País ainda tem um grande déficit nas soluções de drenagem urbana: um terço dos municípios brasileiros não possui nenhum tipo de planejamento nesse sentido.
As informações foram reveladas por um estudo, publicado nesta quarta-feira (23), pelo Instituto Trata Brasil, feito em parceria com a consultoria GO Associados. Os dados sobre as mortes são do Atlas Digital de Desastres no Brasil, do Ministério das Cidades, que indica 25,9 mil eventos hidrológicos de desastres de 1991 a 2023, sendo que 74% foram relacionada a chuvas. O levantamento, no entanto, não contempla os dados da enchente histórica de 2024 no Rio Grande do Sul onde 183 pessoas morreram e 27 seguem desaparecidos.
Foram considerados no estudo 4.958 municípios, que representam 89% do total de 5.570. Essas cidades tinham informações atualizadas no Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa). Os dados mais recentes são de 2023.
A cada 10 cidades, 4 afirmaram ter sistemas de drenagem de água da chuva exclusivos. Outras 12,6% tinham sistemas unificados de água de chuva e esgoto, enquanto 14,5% tinham estruturas combinadas para os dois tipos em diferentes trechos. Entretanto, 32,5% das cidades não tinham qualquer tipo de sistema de drenagem. Uma pequena parcela, de 3,2% (equivalente a 157 municípios), disse tratar a água da chuva.
Quando o assunto é planejamento, apenas 263 municípios, equivalente a 5,3% do total da pesquisa, tinham em 2023 um plano diretor de drenagem e manejo das águas pluviais. Ou seja, essas cidades tinham algum planejamento para lidar com o escoamento das águas das chuvas, evitando problemas maiores. A falta desse planejamento em regiões grandes é mais grave no Nordeste, com 98,6% das cidades sem qualquer plano.
Dos 584 municípios de São Paulo pesquisados, o Estado mais populoso, apenas 232 (incluindo a capital), tinham um plano diretor para o tema da pesquisa, segundo o Sinisa.
Esse tipo de planejamento é fundamental para fazer um diagnóstico geográfico e de recursos hídricos do município, segundo especialistas. É por meio de planejamentos que podem ser evitadas inundações, enchentes e outros problemas causados pelo clima extremo.
Esses documentos também servem para buscar financiamento para obras e, depois, intervenções. Com isso, é possível criar zonas para reduzir a velocidade das águas, a criação de galerias e instalação de bocas de lobo, por exemplo. Ainda que as prefeituras não tenham recursos, seria possível buscar parcerias com universidades e ONGs para a elaboração desses planos.
A falta de solução para drenagem em cidades nordestinas pode estar relacionada ao histórico de eventos climáticos na região como as secas e ondas de calor. Em contrapartida, a falta de um dos pilares do saneamento básico faz com que todos os outros problemas se intensifiquem.
O estudo defende um investimento per capita de R$ 117,01 até 2033, segundo um cálculo baseado em um estudo do Ministério das Cidades, para que o país atinja a universalização dos serviços de drenagem e manejo de águas pluviais. Essa faixa, hoje, está em R$ 43,79.
O valor foi calculado em dezembro de 2021, e indicava um investimento total de R$ 250,4 bilhões até o ano de 2033.
O Censo 2022, publicado recentemente pelo IBGE, mostrou que 93,6 milhões de habitantes de áreas urbanas no Brasil moravam em ruas com bueiros ou bocas de lobo em 2022. O número é equivalente a 53,7% do total. Essas estruturas evitam alagamentos e acúmulo de água nas cidades.