Sexta-feira, 25 de abril de 2025

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Política Ser governo ou oposição? Os partidos do Centrão devem continuar com “um pé em cada canoa”

Compartilhe esta notícia:

Em outros tempos o Centrão era o que o governo fazia dele, hoje o governo é o que o Centrão faz dele.(Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Na noite do dia 10 de abril, após uma reunião do presidente Lula da Silva e do presidente do Senado e cacique do União Brasil, Davi Alcolumbre, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, veio a público informar que o Brasil tinha um novo ministro das Comunicações: o deputado federal e líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas Fernandes. Sua posse, no entanto, seria apenas após a Páscoa, período que o deputado pediu para encaminhar “questões pessoais”. Duas semanas depois, recusou a pasta. O quiproquó nem terminou, mas já é um retrato pronto e acabado da disfuncionalidade da representação política nacional.

O vexame é em primeiro lugar sintoma de um governo fragilizado e impopular. O constrangimento não vem de agora. Por dois anos, o presidente teve de fazer vista grossa às volumosas irregularidades acumuladas pelo apadrinhado de Alcolumbre, Juscelino Filho, à frente da pasta. Foi necessária uma denúncia da Procuradoria-Geral da República sob acusação de organização criminosa, fraude, peculato e corrupção para convencer Juscelino a largar o osso.

Como Juscelino, Fernandes não tem competência técnica nem experiência política para chefiar um ministério. São apenas herdeiros de feudos eleitorais no Maranhão, com boas relações com os caciques do União. Ainda assim, Fernandes fez seus cálculos e entendeu que era melhor para os negócios dar de ombros ao ministério. Como disse recentemente o ex-presidente da Câmara Arthur Lira, “uma base de apoio para governar é diferente de uma base de apoio eleitoral”. A pouco mais de um ano das eleições, “ninguém vai embarcar num navio que vai naufragar”.

Lula já não tem o apetite de outros mandatos para a articulação política e, se tivesse, não tem mais os instrumentos. Há dez anos o Congresso vem se assenhoreando do Orçamento público e hoje controla um quarto das verbas discricionárias da União. Cada deputado tem no mínimo R$ 30 milhões em emendas parlamentares a seu dispor. Se tiver um cargo de liderança, como Fernandes, tem muito mais. Se Fernandes, um apaniguado do presidente do União, Antonio Rueda, deixasse seu cargo na Câmara, ele possivelmente seria ocupado pelo apaniguado de Alcolumbre, Juscelino, ou pior, por um membro da ala oposicionista da legenda.

Afinal, como outros partidos do Centrão que formam a “base”, por assim dizer, do governo, o “União” – que não se perca pelo nome – não é um partido, mas três: um governista, outro oposicionista e outro fisiológico. De seus 59 deputados, ao menos 40 assinaram a urgência do projeto de anistia para os golpistas bolsonaristas, incluindo o vice-líder do governo na Câmara, José Nelto. O partido já tem até um pré-candidato presidencial batendo bumbo contra Lula, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

O governo pode resmungar, mas mesmo assim tem de engolir a seco essas humilhações e aguardar calado até Alcolumbre indicar outro ministro de sua preferência. O próprio Alcolumbre mostrou que não controla totalmente as rédeas do partido. Ainda assim, se seus indicados podem esnobar ministérios, o governo não pode esnobar suas indicações. Desde que as urnas se fecharam em 2022, ficou claro que a sua frente “ampla” era minúscula, e Lula agora é refém das legendas amorfas do Centrão, que vão entregar os votos que quiserem, quando quiserem, enquanto medem os ventos e a maré política para decidir em qual navio vão embarcar em 2026.

Outrora os deputados se estapeavam na fila por um cargo no Executivo. Hoje o governo tem de mendigar parlamentares de segundo escalão para um ministério. Em outros tempos o Centrão era o que o governo fazia dele, hoje o governo é o que o Centrão faz dele.

Com um Executivo debilitado, um Legislativo senhor do Orçamento, um governo desorientado, a um tempo arrogante e displicente, uma base formada por partidos incongruentes a serviço de interesses paroquiais, a comédia de erros não tem prazo para acabar, e tende a produzir episódios ainda mais grotescos que a reviravolta no Ministério das Comunicações. Os partidos do Centrão vão continuar com um pé em cada canoa, enquanto o governo segue à deriva. (Opinião/Estadão Conteúdo)

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Política

Comissão na Câmara dos Deputados aprova porte de arma de fogo por oficiais de Justiça
Partidos Progressista e União Brasil devem anunciar, na próxima terça, federação com Ciro Nogueira e Antonio Rueda no comando
https://www.osul.com.br/ser-governo-ou-ser-oposicao-os-partidos-do-centrao-vao-continuar-com-um-pe-em-cada-canoa/ Ser governo ou oposição? Os partidos do Centrão devem continuar com “um pé em cada canoa” 2025-04-24
Deixe seu comentário
Pode te interessar