Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de junho de 2015
O Palácio do Planalto iniciou uma ofensiva para conter a hostilidade contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no 5º Congresso do PT, que ocorrerá de 11 a 13 deste mês, em Salvador (BA). Preocupados com o tom da resolução política a ser aprovada no encontro, no momento em que o PT e o governo enfrentam sua mais grave crise, ministros petistas procuraram dirigentes do partido e pediram cautela nas manifestações anti-Levy.
Desde que foram escancaradas as divergências entre o titular da Fazenda e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, na esteira da divulgação do corte no Orçamento – que ficou em 69,9 bilhões de reais –, a presidenta Dilma Rousseff procura abafar os ruídos na equipe.
O receio do Planalto, porém, é que o PT jogue mais combustível na crise durante a reunião de Salvador, provocando desconfianças e agitando novamente o mercado financeiro. Convocado para debater o programa da legenda e atualizar o projeto do partido, em meio a sucessivos escândalos de corrupção, o congresso petista deve ser tomado, na prática, por críticas à gestão de Dilma e pressões por mudanças na política econômica.
Nos bastidores, parlamentares do PT chamam Levy de “Chicago Boy”, em uma referência à Universidade de Chicago, identificada com a visão neoliberal, onde Levy se graduou Ph.D. Ex-secretário do Tesouro no governo Lula, ele é considerado, pela maioria do PT, como a encarnação do mal por causa de suas ideias “ortodoxas”.
Embora o partido esteja dividido sobre a conveniência de pedir a cabeça do ministro, a avaliação predominante na sigla é que o modelo de ajuste fiscal adotado colocará a economia nas cordas, tornando o crescimento inviável. O diagnóstico é que a tesourada nos gastos, o corte de programas sociais e as restrições criadas a direitos trabalhistas, como seguro desemprego, dificultam o desenvolvimento e afastam ainda mais a legenda de sua base social.
A disputa que atiça o partido nesta temporada é pelos rumos do governo Dilma pós-ajuste e por maior protagonismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na distante relação com o Planalto. Acuada, a legenda também tenta reagir para salvar sua imagem, ainda mais abalada após a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que culminou com a prisão do então tesoureiro da sigla João Vaccari Neto.
Nesse cenário, nove entre dez petistas recorrem a Barbosa, visto como “desenvolvimentista”, na tentativa de criar um contraponto a Levy. O movimento contraria Dilma, que decidiu prestigiar o titular da Fazenda, e preocupa a equipe de Barbosa. Inflado pelo PT, o titular do Planejamento teme sair enfraquecido do embate.
Queda de braço
O confronto reedita uma queda de braço travada no primeiro mandato de Lula, tendo à época Antonio Palocci (Fazenda) na linha de tiro. Em novembro de 2005, Dilma, então chefe da Casa Civil, chegou a chamar de “rudimentar” o ajuste fiscal de longo prazo proposto por Palocci. Agora, no entanto, não esconde o aborrecimento com o “fogo amigo”. “É possível que existam críticas ao ministro Levy e as divergências são normais, mas o PT deve entender que o próprio projeto do partido passa pelo sucesso do governo Dilma”, disse o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). “Não podemos, depois de todo o esforço para aprovar as medidas provisórias do ajuste, dar motivos para insegurança.”
Em conversas reservadas, Lula não esconde o desconforto com a inflexão na economia e a demora do governo em virar a página do ajuste fiscal, criando uma agenda positiva. O ex-presidente está aflito por entender que, se a rota não for corrigida a tempo, a sigla sentirá ainda mais o peso do desgaste nas eleições municipais de 2016, podendo sucumbir na disputa presidencial de 2018.
No Planalto, dois ministros fazem hoje a “ponte” entre o governo, a direção do PT e os movimentos sociais. Um deles é Edinho Silva, titular da Secretaria de Comunicação Social. O outro é Miguel Rossetto, que comanda a Secretaria-Geral da Presidência. Próximo a Dilma, Aloizio Mercadante (Casa Civil) distanciou-se da cúpula petista.
Reinvenção
Assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia ajudou a redigir o manifesto da tendência CNB (Construindo um Novo Brasil), que será apresentado durante o congresso do PT. Assinado pela corrente majoritária, integrada por Lula, o documento faz uma autocrítica, no rastro dos escândalos de corrupção – que vão do mensalão à Petrobras – e sustenta que o partido precisa se “reinventar”.
O que mais chama a atenção no texto, porém, são os ataques à política econômica conduzida por Levy. “Não se pode fazer da necessidade de sanear a situação fiscal a ocasião para a apologia de uma política econômica conservadora, cujas consequências bem conhecemos”, assinala o documento.