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Por Redação O Sul | 23 de maio de 2016
A comissão de pesquisa criada no Reino Unido para analisar o avanço das superbactérias – aquelas resistentes a antibióticos – divulgou seu relatório final, com um aviso alarmante: estamos perto de uma “era pós-antibióticos”, na qual eles não mais funcionarão. De acordo com o documento, uma pessoa morrerá a cada três segundos a partir de 2050 por causa de infecções, caso nada seja feito até lá. Serão 10 milhões de mortes anuais e, para evitar isso, o relatório lista nove estratégias que devem ser feitas em escala global. Entre elas, campanhas públicas para alertar sobre o perigo de tomar antibióticos indiscriminadamente, melhoria na oferta de saneamento e água potável, redução do uso de antibióticos na agropecuária e criação de vacinas e formas rápidas de diagnóstico.
O documento destaca que, “com 700 mil pessoas já morrendo todo ano por causa de resistência a antibióticos, 2016 é um ano crucial”. Autor do relatório, o renomado economista Jim O’Neill – o mesmo que cunhou o termo “Brics” para as economias emergentes – diz que é preciso uma nova relação com esses medicamentos.
“É essencial que paremos de tratar antibióticos como doces”, criticou ele. “Acho incrível que médicos ainda tenham que prescrever antibióticos com base apenas no contato imediato que eles têm com os pacientes, exatamente como era feito quando os primeiros antibióticos foram introduzidos, nos anos 1950.”
Quanto mais o corpo recebe essas drogas, mais resistente ele tende a se tornar. Existem no mundo aproximadamente 40 classes de antibióticos, a última delas registrada em 1987. É consenso entre os cientistas que, nos últimos 20 anos, o desenvolvimento de novos antibióticos não acompanhou a rapidez com que os micro-organismos desenvolveram resistência.
Cenário caótico.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, tem se mostrado preocupado com o caos que isso pode provocar. Em um mundo em que os antibióticos que conhecemos são inúteis, uma simples cirurgia representará uma ameaça à vida. Transplantes de órgãos terão sua complexidade aumentada, e a hora do parto poderá voltar a ser arriscada para as mulheres.
“Se falharmos, seremos arrastados para um cenário impensável onde antibióticos não funcionarão mais e voltaremos para os tempos negros da medicina”, alertou Cameron.
A previsão é de que as regiões mais afetadas sejam a Ásia e a África, com 4,7 milhões e 4,1 milhões de mortes por ano depois de 2050, respectivamente. A América Latina seria a terceira região com maior número de óbitos anuais, somando 392 mil.
Surtos de infecções por superbactérias têm ocorrido no Brasil pelo menos desde o início da década. O primeiro caso a chamar atenção foi em 2010, quando 163 pacientes foram contaminados em hospitais e 18 morreram.
Segundo o médico Carlos Kiffer, a estratégia mais urgente para evitar um cenário caótico é o desenvolvimento de diagnósticos rápidos. “Hoje, são necessários cinco dias para detectar a bactéria responsável por determinada infecção. Muitas vezes o paciente não pode esperar e, se ficar dias usando um antibiótico errado, as pessoas ao redor dele também estarão em risco, porque a bactéria pode se espalhar.” (AG)