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Por Redação O Sul | 25 de julho de 2016
Se não fosse uma forte tempestade na ilha grega de Anticítera, há pouco mais de um século, um dos objetos mais desconcertantes e complexos do mundo antigo jamais teria sido descoberto. Após buscar abrigo na ilha, um grupo de catadores de esponjas marinhas decidiu ver se dava sorte naquelas águas.
Eles acabaram encontrando os restos de uma galé romana que havia naufragado havia 2 mil anos, quando o Império Romano começou a conquistar as colônias gregas no Mediterrâneo. Nas areias do fundo do mar, a 42 metros de profundidade, estava a maior reunião de tesouros gregos encontrada até então. Entre belas estátuas de cobre e mármore estava o objeto mais intrigante da história da tecnologia.
Trata-se de um instrumento de bronze corroído, do tamanho de um laptop moderno, feito há 2 mil anos na Grécia antiga. É conhecido como máquina de Anticítera. E mostrou ser uma espécie de máquina do futuro. No começo, as peças, cobertas por uma crosta e unidas após passar 2 mil anos no fundo do mar, ficaram esquecidas. Mas um olhar atento mostrou que eram objetos feitos com esmero, engrenagens talhadas à mão.
“Se não tivessem descoberto a máquina em 1900, ninguém teria imaginado, ou nem mesmo acreditado, que algo assim existia, pois é muito sofisticada”, disse o matemático Tony Freeth, da Universidade de Cardiff (Reino Unido).
“Imagine: alguém, em algum lugar da Grécia antiga, fez um computador mecânico”, afirma o físico grego Yanis Bitzakis. Como Freeth, ele integra a equipe internacional que investiga o artefato. “É um mecanismo de genialidade surpreendente”, acrescenta Freeth. E eles não estão exagerando.
Foram cerca de 1.500 anos até algo parecido com a máquina de Anticítera voltar a aparecer, na forma dos primeiros relógios mecânicos astronômicos, na Europa. Mas essas são as conclusões da história: entender o que era o misterioso objeto tomou tempo, conhecimento e esforço.
O primeiro a analisar em detalhes os 82 fragmentos recuperados foi o físico inglês Derek John de Solla Price (1922-1983). Ele começou o trabalho nos anos 1950 e em 1971, juntamente com o físico nuclear grego Charalampos Karakalos, fez imagens das peças com raios-X e raios gama. Eles descobriram que o mecanismo era extremamente complexo, com 27 rodas de engrenagem em seu interior. Os especialistas conseguiram datar algumas outras peças com precisão, entre os anos 70 A.C. e 50 A.C.
Mas um objeto tão extraordinário não podia ser daquela época, pensavam os especialistas. Talvez fosse mais moderno e tivesse caído no mesmo local por casualidade. Price deduziu que contar os dentes em cada roda poderia fornecer pistas sobre as funções da máquina. Com imagens bidimensionais, as rodas se sobrepunham, o que dificultava a tarefa, mas ele conseguiu chegar a dois números: 127 e 235. “Esses dois números eram muito importantes na Grécia antiga”, diz o astrônomo Mike Edmunds.
Lua.
Seria possível que os gregos antigos estivessem usando a máquina para seguir o movimento da Lua? A ideia era revolucionária e tão avançada que Price chegou a questionar a autenticidade daquele objeto.“Se cientistas gregos antigos podiam produzir esses sistemas de engrenagens há dois milênios, toda a história da tecnologia do Ocidente teria que ser reescrita”, diz Freeth.
Graças aos dentes das engrenagens, a máquina começou a revelar seus segredos. As fases da Lua eram extremamente úteis na época dos gregos antigos. De acordo com elas determinavam-se épocas de plantio, estratégias de batalha, festas religiosas, momentos de pagar dívidas e autorizações para viagens noturnas. O outro número, 127, serviu para Price entender outra função da máquina relacionada com nosso satélite natural: o aparelho também mostrava as revoluções da Lua ao redor da Terra.
Após 20 anos de investigação intensa. Price concluiu que havia desvendado aquele artefato. A máquina de Anticítera podia prever eclipses. Não apenas o dia, mas a hora, direção da sombra e cor com a qual a Lua apareceria. Mas ainda havia peças do quebra-cabeças por encaixar.
Investigações apontaram que a máquina estava dentro de uma caixa de madeira que não sobreviveu ao tempo. Uma caixa que continha todo o conhecimento do planeta, do tempo, espaço e Universo.