Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de julho de 2016
O burburinho na entrada do parque, bem na saída da estação do trem, começa cedo no domingo na cidade chinesa de Tianjin, na província de Hebei. É preciso garantir um bom lugar na praça principal, de preferência à sombra e próximo da passagem dos visitantes. Sombrinhas extravagantes, guarda-chuvas, chapéus, viseiras de acrílico que cobrem o rosto e luvas protegem do sol escaldante e tentam minimizar o desconforto do ar seco.
Mas nada disso importa no final das contas. O importante é ser visto. Centenas de homens e mulheres, locais ou de áreas vizinhas, já de uma certa idade, circulam de um lado para o outro horas a fio. Cada um carrega um pequeno, ou conforme o desespero da causa, um grande cartaz, em geral, escrito à mão, com a descrição de alguém querido para quem quer encontrar um bom marido ou mulher.
São pais, tios, avós e até agentes especializados em busca de um par para um solteiro – que, aos olhos dos locais, se ultrapassam os 27 anos, estão, oficialmente, “encalhados”.
Eles estão ali para fazer o que alegam que seus filhos não têm tempo de fazer: encontrar um bom partido para casar, constituir família e se preparar para cuidar dos pais na velhice.
Tianjin é uma próspera cidade portuária, com 15 milhões de habitantes e a meia hora do trem-bala de Pequim, a capital da China. E é apenas uma das várias localidades do país onde ocorrem estes encontros, chamados de “xiang qin”, que se repetem há anos, até mesmo nos grandes centros urbanos.
“Rapaz alegre e bonitão.”
O senhor Li estacionou sua moto bem no meio da praça. Tem certeza de que o anúncio que fez para encontrar uma noiva para o seu filho será visto por todos e, desta vez, fará sucesso. “Rapaz alegre e bonitão. Nascido em 9 de maio de 1985. Idade: 31 anos. Signo chinês: boi. Altura: 1,82 centímetros. Formação acadêmica: fez faculdade e licenciatura. É engenheiro de Banco de Dados da Tristar. Salário mensal: 10 mil yuans [cerca de 5 mil reais]. Procura menina com boa aparência, que também tenha feito faculdade e tenha trabalho estável.”
Ele fica estarrecido ao saber que não há mercados de casamento assim no Brasil. E pergunta como fazem os jovens para conhecer a sua cara-metade. Antes, na China, as apresentações eram feitas em festas ou reuniões do partido ou das comunidades.
A ideia fixa de casamento virou motivo de ansiedade sobretudo para as mulheres, que acabam divididas entre os estudos, a carreira e a vida em família. Mas elas não são as únicas vítimas desta norma não escrita. A conveniência acaba se tornando um remédio amargo para muitos.
Conforme dados apresentados pelo professor aposentado da Escola de Medicina da Universidade de Quindao, Zhang Beichuan, há 14 milhões de mulheres heterossexuais casadas com homossexuais na China.
Apesar disso, a feira de Tianjin é realizada todos os domingos e, segundo os frequentadores, há vários finais felizes. “Muitos casais aprendem a se gostar. Não tem gente que se conhece pela internet? Aqui é mais pessoal”, brinca Zhao, 68 anos. (Vivian Oswald/AG)