Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de agosto de 2016
O ar de orgulho e satisfação de Fábio Assunção ao olhar para o filho João – na rodada de divulgação do filme “Entre Idas e Vindas” – é de se reparar. Esse é o primeiro trabalho dos dois juntos. No longa, eles interpretam pai e filho que saem em busca da mãe do garoto.
A ideia de João fazer o papel veio de Assunção, há cerca de dois anos. Inspirado por outros pais atores que trabalharam com os filhos, como Will Smith, ele acreditou que sua relação com João poderia somar muito à história.
E não foi apenas a troca com o filho que deixou o ator entusiasmado com todo o processo do filme. A possibilidade de participar de uma história que tratasse de relações de afeto, como a amizade, o amor e a família, o conquistou logo de primeira.
Ativo nas redes sociais, o ator se assusta com as reações de ódio dos leitores e com a banalização da violência. A seguir, confira os melhores trechos da entrevista, em que ele também diz que “nunca existiu esse Brasil dos sonhos”.
Como foi trabalhar com seu filho?
Fábio Assunção – Eu estava curioso para saber o que ia trazer. Acho que, devido a essa intimidade que a gente já tem na vida, a afetividade transpareceu no filme. Quando vi [Will] Smith com o filho interpretando percebi que, além do trabalho dos atores e da qualidade do filme, existia essa intimidade dos dois e quis viver isso também.
O filme aborda relações de afeto, amizades entre as mulheres, cumplicidade entre pai e filho. Como é poder falar desses temas em meio a maneira violenta como as pessoas se comunicam atualmente?
Assunção – Estamos vivendo uma crise de valores. Concordo que o filme fala sobre amizade, cumplicidade entre filhos e pais. E acho muito importante isso. É muito bom poder falar de relações humanas neste momento difícil. Vejo como é prazeroso estar em um trabalho que fala sobre relações humanas em uma outra forma de narrativa. Para mim, o filme resgata esses valores e é um respiro para toda essa agressividade que vemos no mundo hoje, que é quase um ódio.
Você é ativo nas redes sociais. Consegue ver essa crise de valores nas manifestações que acontecem pela internet?
Assunção – Eu estou usando mais o Instagram agora, que é mais rápido e um pouco diferente. Esse “quase ódio” que eu falei fica evidente na rede social, que também é bipolarizada. Existem figuras muito carinhosas, que manifestam suas coisas positivas. Mas, de repente, vem uma pessoa muito agressiva e você fala: “gente, que ódio é esse?”. Realmente, a internet nos faz ter muito acesso a cenas e situações de violência. Antigamente, só assistíamos cenas assim em filmes ou na vida real, se acontecesse conosco. Hoje, você vê um filme de terror e nem se assusta muito porque tem coisas muito parecidas na internet.
Como vê o momento político que vivemos atualmente?
Assunção – Quando penso sobre política, penso como cidadão. Talvez a única coisa boa de ser artista, nesse sentido, seja ter acesso a pessoas que também estão inquietas com isso. Que não estão conformadas.
E como cidadão?
Assunção – É preciso se informar e realmente entender o que está acontecendo. O que me incomoda são pessoas dando opinião sem terem informação. Brasília é um mundo próprio, que tem o seu código. Estou com 44 anos e, como cidadão, nunca vivi em um País sem violência ou com uma organização política que favorecesse o povo brasileiro. Sempre foi assim. Quando eu era criança eram problemas da pós-ditadura. Depois, quando comecei a fazer televisão, ao 19 anos, era uma inflação absurda, tudo dolarizado. Tivemos impeachment, dinheiro confiscado. Nunca existiu esse Brasil dos sonhos. O que eu não consigo entender de verdade são os privilégios para os políticos, pessoas que estão servindo o País. (AE)