Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de junho de 2015
“Kurt Cobain: Montage of Heck”, de Brett Morgen, foi feito a partir de material inédito de fotos e filmes da família Cobain, mostrando a juventude de Kurt e cenas íntimas dele com a mulher, Courtney Love, e a filha, Frances.
Só de conhecer a família de Kurt dá para perceber que as coisas não vão acabar bem. A mãe, Wendy, tem um ar insano e parece falar com raiva sobre o filho; o pai, Don, admite que foi ausente. O casal se separou quando Kurt tinha nove anos, e o menino passou um tempão pulando de casa em casa, morando com parentes e sendo expulso de todos os lugares por mau comportamento e violência.
O “Montage of Heck” do título é uma fita cassete gravada por Kurt em 1988, em que ele mixa trechos de músicas com depoimentos sobre sua vida. A fita foi a base para animações que narram passagens de sua vida. O efeito é fantasmagórico, como se ouvíssemos um morto recapitulando sua vida.
O filme usa também cadernos de anotações e desenhos de Kurt, e os rabiscos mostram um cara inseguro, ambicioso e com muita, mas muita raiva do mundo.
As cenas mais impactantes exibem a intimidade do casal Kurt e Courtney, claramente chapados de heroína, brincando com Frances, ainda bebê. A impressão é de que um desastre pode acontecer a qualquer momento. E essas são as cenas aprovadas por Courtney, o que leva a imaginar como seriam as imagens que ela não quis exibir.
O filme retrata a formação do Nirvana, o sucesso fulminante da banda e o efeito disso na cabeça frágil de Kurt.
“Quando ele me mostrou [as demos de ‘Nevermind’], eu disse: ‘Filho, é bom apertar o cinto, porque você não está preparado para isso”, diz a mãe, Wendy, como se antecipasse as consequências que a fama traria para o filho.
Krist Novoselic, parceiro de Kurt no Nirvana, diz se arrepender de não ter visto “os sinais” de que algo não estava legal com o amigo, que acabou se matando em 1994: “Eu devera ter dito algo!”.
Mas a entrevista mais reveladora é a da viúva. Ela conta que a tentativa de suicídio de Kurt em Roma, quando engoliu mais de 60 comprimidos tranquilizantes, ocorreu porque achava que ela tivesse um amante. “Eu pensei em trair o Kurt, mas não o fiz. Mas ele parecia ter um sexto sentido e pressentiu a traição”, diz ela. Um mês depois, Kurt atirou contra a própria cabeça. (André Barcinski/Folhapress)