Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de dezembro de 2016
A versão masculina da pílula anticoncepcional ainda não é realidade, mas está avançando nessa direção. Uma injeção que combina dois hormônios para suprimir a produção de espermatozoides, de forma reversível, conseguiu uma animadora taxa de sucesso de 96% em um teste com 266 casais.
A iniciativa é uma tentativa de ampliar o rol de métodos disponíveis para os homens. Desde o lançamento da pílula feminina, as opções para elas se expandiram – há dispositivos intrauterinos (DIU), implantes subcutâneos, adesivos que são grudados na pele, anéis vaginais e também injeções.
Para os homens, porém, as opções para que eles controlem a sua fertilidade se resumem à camisinha, ao coito interrompido e à vasectomia. Um estudo em 2012 testou, em roedores, um método não hormonal que tirava a habilidade de natação dos espermatozoides. A droga, contudo, causou a diminuição de 15% a 50% do tamanho dos testículos nos bichos e não foi para frente em novos testes.
Já o novo estudo, feito por cientistas de dez centros de pesquisa de oito países, liderados por Mario Festin, da OMS (Organização Mundial da Saúde), inspirou-se na fórmula feminina de administração de hormônios para a contracepção. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista “Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism”.
Já se sabia que, quando homens recebem doses extras de testosterona, o processo de produção dos espermatozoides é prejudicado, e as taxas deles diminuem. Mas há um porém: efeitos adversos podem acompanhar esse processo, como irritabilidade, aumento das mamas e maior chance de tumores na próstata. Para superar esses problemas, o trabalho usou doses menores de testosterona associadas a aplicações de progesterona.
Resultados
Os pesquisadores buscaram homens saudáveis que estivessem em relacionamentos estáveis há pelo menos um ano com parceiras igualmente saudáveis. O casal também precisava não querer filhos por pelo menos um ano.
Para suprimir a espermatogênese, a cada oito semanas os participantes recebiam injeções de testosterona e progesterona. Amostras de sêmen eram colhidas em intervalos predeterminados. Com as injeções, houve supressão quase completa da espermatogênese e a manutenção de baixas concentrações de espermatozoides. Em um primeiro momento, para evitar contaminação de resultados, os participantes deveriam usar outros métodos contraceptivos não hormonais.
A próxima etapa do estudo pedia aos participantes para confiarem só nas injeções. O resultado foi uma eficácia contraceptiva alta. Dos 266 casais que participaram da segunda etapa, 111 completaram o estudo. Quatro mulheres engravidaram.
O resultado, segundo os autores, é comparável aos métodos reversíveis disponíveis para homens e a anticoncepcionais orais femininos.
Efeitos colaterais
Duas comissões externas acompanhavam o processo e decidiram terminar o estudo antes do previsto por causa de efeitos adversos. As ocorrências, no entanto, não foram inesperadas, dizem os autores.
Os participantes relataram alterações emocionais (30%), acne (quase 50%) e distúrbios sexuais (42%), como aumento ou redução da libido. Mesmo com esses efeitos, 82% dos homens que participaram do estudo disseram que usariam um método contraceptivo desse tipo.
Archimedes Nardozza, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, diz que o método hormonal para homens pode apresentar problemas, como crescimento da próstata, e ainda não é viável. “Eu acho que estamos muito bem com o que temos hoje.”